18/03/2016 às 10h48min - Atualizada em 18/03/2016 às 10h48min

Parceria que deu certo e contribuiu com muitos frutos musicais: João Bosco e Aldir Blanc

     Este  espaço  do  CANTINHO  MUSICAL   está  reservado  agora  para  um  desfile  da várias  composições  resultantes  da  criação  destes  dois  gênios  da  MÚSICA  POPULAR  BRASILEIRA  :  JOÃO  BOSCO  E  ALDIR  BLANC .  O  encaixe  esplendoroso  da alma  musical  da  dupla  desperta  harmonicamente   na  consciência  das  pessoas  amantes  das  boas  canções  , elegendo-os  como compositores  de  respeito  e  admiração  no  cenário  da nossa  MPB .
     JOÃO  BOSCO  ,  mineiro  de    Ponte  Nova  ,  cantor ,  músico e  compositor , dedicava-se  sobremaneira  à  carreira  musical ,  influenciado  principalmente  por  gêneros  como  jazz  ,  bossa   nova  e  pelo  tropicalismo.  Em  1970 , conheceu  um  brilhante  poeta  , natural  do  Estácio , no Rio  de  Janeiro  , que  viria  a  ser  o  mais  freqüente  parceiro ,  com  quem  compôs  lindas  canções  de  grande  sucesso  :  ALDIR  BLANC   . Com  ele  formou  a  mais  expressiva  dupla  de compositores  , contribuindo com  suas  criações  para  enriquecimento  musical  de nosso  cancioneiro .  A  dupla  deslanchou  nas  grandes  paradas  de  sucesso , quando  a  voz  maravilhosa  e  cristalina  de  ELIS  REGINA  soou  ,  nos  ouvidos  dos  que  apreciam  a  boa  música ,  o  bolero  :   “  DOIS  PRA  LÁ  ,  DOIS  PRA  CÁ   “ .  [  “   / Sentindo  frio em minh’alma / te  convidei  pra  dançar / A  tua  voz  me  acalmava  /  É  dois  pra  lá  ,  dois  pra  cá / Meu  coração  traiçoeiro  /  Batia  mais  que  um  bongô / Tremia  mais  que  as  maracás  / Descompassado  de amor / Minha  cabeça  rodando  / Rodava  mais  que os  casais / O  teu  perfume  gardênia / E  não  me pergunte  mais / A  tua  mão  no pescoço / As  tuas  costas  macias /Por  quanto  tempo  rondaram /  As  minhas  noites  vazias / No  dedo  um  falso  brilhante / Brincos  iguais  ao  colar  / E  a  ponta  de  um  torturante  / Band-aid   no  calcanhar /  E  hoje  me  embriagando  / De  whisky  com  guaraná / Ouvi  tua  voz  sussurando  /  São  dois  pra  lá  ,  dois  pra  cá  / . “ ]   . 


Há  , em  seus  repertórios  ,  uma  linda  canção  que  , a  despeito  dos  acontecimentos  históricos , a dupla  compôs  ,  usando  e  abusando  de uma  linguagem  metafórica , uma  narrativa fictícia  que  faz  uma  alusão  a  todo  sofrimento  dos  africanos  que  eram  escravizados  nas  águas  da Guanabara  ,  resgatando  , simbolicamente ,  a  história  do  marinheiro  João  Cândido ,  “   Almirante  Negro “ ,  líder da  revolta  das  chibatas ,  ocorrida  em  1910 , rotulando-o  como    “  MESTRE-SALA  DOS  MARES  “ .  [ “ /   Há  muito  tempo  / Nas  água  da  Guanabara / Um  dragão  do  mar  reapareceu , / Na  figura  de  um  bravo  feiticeiro  / A  quem  a história  não  escreveu . / Conhecido como Navegante  negro ,  / Tinha  a  dignidade  de  um  mestre-sal a / E ao acenar pelo mar , na   alegria  das  regatas / Foi  saudado  no  porto  / Pelas  mocinhas  francesas / Pelas  polacas e um batalhão de mulatas . / Rubras  cascatas / Jorravam  das  costas  dos  santos  /  Entre  cantos  e  chibatas  / Inundando o  coração /  Do pessoal  de  porão  / Que , a exemplo do feiticeiro / Gritava  então  : / Glória  aos  piratas , / Às  mulatas , /  Às  sereias , / Glória à  farofa  , / À  cachaça  / À  baleia ... / Glória  a  todas as  lutas inglórias  / Que  através  da nossa  história  / Não  esquecemos  jamais  . / Salve , o  navegante  negro , / Que  tem  por  monumento  /  As  pedras  pisadas  no  cais / . “  ]  . 


Há  uma  bela  canção , identificada na  voz  de  ELIS  REGINA  ,  intérprete  preferida da dupla , composta  inicialmente  para  homenagear Chaplin  ,   mudando  seu  rumo  temático  ,  num   encontro  casual  com  Henfil  e  Chico  Mário em  que  comentaram   o  exílio  do  irmão  Betinho  ,   logo modificando para  uma  mensagem  de   resistência  ao    período  repressivo  por  que  passava  o  Brasil . Velada  em  uma  crítica  ao  sistema  ditatorial , a  dupla relata  uma   situação política   pela qual    passava  o  povo  brasileiro  , com  seus  filhos exilados  , tudo expresso  em  uma  canção , considerada  o  hino  da  anistia  :   “  O  BÊBADO  E  A  EQUILIBRISTA  “ .  [ “ / Caía  a  tarde  feito  um  viaduto  /  Um  bêbado  trajando  luto me  lembrou  Carlitos / A  lua , tal qual  a  dama  de  um  bordel , / Pedia  a  cada  estrela  fria  /  Um  brilho  de  aluguel  / E  nuvens , lá  no  mata-borrão do céu / Chupavam  manchas  torturadas , que  sufoco /  Louco ,  o bêbado  com  chapéu –coco  / Fazia  irreverência  pra  noite  do  Brasil /  Meu  Brasil / Que  sonha  com  a  volta  do  irmão  do  Henfil / Com  tanta  gente  que  partiu  num  rabo  de  foguete  / Chora  a  nossa  pátria  , mãe gentil  / Choram  Marias  e  Clarices  no  solo  do  Brasil / Mas  sei  que  uma  dor  assim  pungente  / Não  há  de  ser  inutilmente , a  esperança / Dança  na  corda  bamba  de  sombrinha / E  em  cada  passo  dessa  linha  , pode  se  machucar / Azar,  a  esperança  equilibrista / Sabe  que  o  show  de  todo  artista /  Tem  que  continuar  ...  / . “ ]  .   


A  sintonia  no  comportamento  de  um casal  nem  sempre  é  harmoniosa  quando  ideias   diversas  criam  choques  no  entendimento . Nesta  canção , a  dupla  cria um  mal-estar  entre  o  casal  , retratando  a  insatisfação  da  mulher  em  tudo  que  o companheiro  faz , reclamando ,  sistematicamente ,  dos  atos  por  ele  praticados , o  que  configura  uma  verdadeira    “   INCOMPATIBILIDADE  DE  GÊNIOS  “ .  [ “ /  Dotô  , / Jogava  o  Flamengo ,  eu  queria  escutar / Chegou /  Mudou  de estação , começou  a cantar / Tem  mais /  Um  cisco no  olho  ,  ela  em  vez  de  assoprar /  Sem  dó  /  Falou que  por  ela eu  podia  cegar / Se  eu  dou  /  Um  pulo , um pulinho , um  instantinho  no  bar / Bastou / Durante  dez  noites  me  faz  jejuar / Levou / As  minhas  cuecas  prum  bruxo  rezar / Coou  / Meu  café  na calça pra me  segurar / Se  eu  tô , ai , se  eu  tô / Devendo  dinheiro  e  vem  me  cobrar / E  vem  me  cobra  /  Dotô  / Ai , dotô /  A  peste  abra  a  porta  e ainda manda  sentar /  Ainda  manda  “ sentá  “ /  Depois  /  Se  eu  mudo  de emprego  que  é  pra  melhorar / Que é só pra melhorar / Vê  só / Convida  a mãe  dela pra ir morar lá / Se  eu  peço  feijão , ela  deixa  salgar / Calor  /  Ai , calor / Mas  veste  o casaco pra  me atazanar / E  ontem  /  Sonhando  comigo ,  mandou  eu  jogar / Mandou  eu  “ jogá “ /  No  burro /  Foi  no  burro / E  deu  na  cabeça  a  centena  e o  milhar / Ai , quero  me  separar ! / . “ ]  .    



O   espírito  de  brasilidade  sempre  foi  um  compromisso  nas  mensagens  musicais de  JOÃO  e  ALDIR .  Nesta  canção  , que deu nome a um de seus  álbuns  ,  desfolham-se  várias  citações  sobre  os  hábitos , a culinária  e  o  folclore   brasileiros ,  incorporados  na  melodia  de  um samba  ,  com  um ritmo  acelerado  de  uma   “   LINHA  DE  PASSE   “.   [ “ /  Toca de tatu, lingüiça e paio e boi zebu / Rabada com angu, rabo-de-saia / Naco de peru, lombo de porco com tutu / E bolo de  fubá , barriga d'água / Há um diz que tem e no balaio tem também /  Um  som bordão bordando o som,  dedão,  violação / Diz um diz que viu e no balaio viu também  /  Um pega lá no toma-lá-dá-cá, do samba / Um caldo de feijão,  um  vatapá, e coração  /  Boca de siri, um namorado e um mexilhão   / Água de benzê, linha de passe e chimarrão  / Babaluaê, rabo de arraia e confusão...  /  Eh, yeah, yeah . . . / (Valeu, valeu, Dirceu do seu gado deu...)/  Cana e cafuné, fandango e cassulê  /  Sereno e pé no chão, bala, camdomblé  /  E o meu café, cadê? Não tem, vai pão com pão  /  Já era Tirolesa, o Garrincha, a Galeria  /  A Mayrink Veiga, o Vai-da-Valsa, e hoje em dia  /  Rola a bola, é sola, esfola, cola, é pau a pau  /  E lá vem Portela que nem Marquês de Pombal  / Mal, isso assim vai mal, mas viva o carnaval  /  Lights e sarongs, bondes, louras, King-Kongs  /  Meu pirão primeiro é muita marmelada   /   Puxa saco, cata-resto, pato, jogo-de-cabresto /   E a pedalada   /  Quebra outro nariz, na cara do juiz  /  Aí, e há quem faça uma cachorrada  /  E fique na banheira, ou jogue pra torcida  /  Feliz da vida   / ( REPETIÇÃO  DA  1ª. ESTROFE ) / . “  ]   .    

Prazerosa  é  a  tranquilidade  que  se  evidencia  no  colo  da  mulher  amada  . E  é  ainda  mais prazerosa  quando  o ambiente é  ornamentado  pelos  cenários  de fenômenos  naturais ,  juntando-se  com  uma  bela coloração da  cena .  Estes  ingredientes  estão  presentes  nesta  bela  canção   como  brinquedos  de   “  PAPEL   MACHÊ   “ .  [  “  /  Cores  do mar, festa do sol  /  Vida é fazer  /  Todo o sonho brilhar  /  Ser feliz  /  No teu colo dormir  /  E depois acordar  /Sendo  o  seu  colorido  /  Brinquedo de Papel  Machê...(2x)  /  Dormir no teu colo  /  É tornar a  nascer  /  Violeta e azul / Outro ser  /  Luz do querer...   /  Não vai desbotar  /  Lilás cor do mar  /  Seda cor de batom  /  Arco-íris crepom  /  Nada  vai desbotar  /  Brinquedo de Papel Machê...  /  Dormir no  teu  colo  /  É tornar a nascer  /  Violeta e azul  /  Outro  ser  / Luz do querer...  /  Não vai desbotar  /  Lilás cor do mar  /  Seda cor de batom  /  Arco-íris crepom  /  Nada vai  desbotar  /  Brinquedo de Papel Machê...  /  Ai Ai Ai Ai Ai Ai!!  /  Lê Lê Lê Lê Lê Lê Lê  /  Lon Lon Lon Lon Ah!  /  Lê Lê Lê Lê Lê Lê Lê  /  Lon Lon Lon Lon Ah!...   / . “ ]   .    





JOÃO  BOSCO   e   ALDIR  BLANC  observaram , depois  de uma longa parceria   com muita consistência   ,  que  ,  junto  ao  prazer  de compor  , de  cantar e tocar músicas  ,  havia  também   vários  motivos  de  indignação  ,  diante  de  um  quadro  político  da  época   .  Com  isso  ,  compuseram  maravilhosas  canções  , expressando  uma  resistência  através  da  música  e  usando  uma  linguagem  manifestada  por  meio  de  construções  metafóricas  ,  o  que  se  apresenta  em     “   KID   CAVAQUINHO   “  .  [ “ /  Oi que foi só pegar no cavaquinho /   Pra nego bater /  Mas seu contar o que é que pode um cavaquinho  /  Os home não vão crer:  /  Quando ele fere, fere firme  /  E dói que nem punhal  /  Quando ele invoca até parece /  Um pega na geral  /  Genésio!  /  A mulher do vizinho  /  Sustenta aquele vagabundo  /  Veneno é com meu cavaquinho  /  Pois se eu tô com ele  / Encaro todo mundo  /  Se alguém pisa no meu calo  /  Puxo o cavaquinho  / Pra cantar de galo  / . “ ]   .





Inconformados com a triste  situação que envolve o ser humano , motivada  por estados  de  fome  e  raiva ,  JOÃO e ALDIR  compuseram como grito  de alerta uma canção para despertar nas pessoas o inconformismo do homem diante de um quadro deprimente , utilizando simplesmente o   “  RONCO  DA  CUÍCA  “  .  [ “ /  Roncou, roncou  /  Roncou de raiva a cuíca  /  Roncou de fome  / Alguém mandou  /  Mandou parar a cuíca, é coisa dos home /  A raiva dá pra parar, pra interromper / A fome não dá pra interromper / A raiva e a fome é coisas dos home / A fome tem que ter raiva pra interromper / A raiva é a fome de interromper / A fome e a raiva é coisas dos home / É coisa dos home / É coisa dos home / A raiva e a fome / A raiva e a fome /Mexendo a cuíca / Vai tem que roncar /. “] . 







Amparados por  um plano fictício , criado na memória da dupla ,  JOÃO e ALDIR  descrevem uma cena deprimente , onde ocorre a desgraça de uma pessoa do nosso cotidiano , momento em que oportunistas tiram partido da situação para se dar bem , quando  estão   “  DE  FRENTE  PRO  CRIME   “.  [ “ / Tá lá o corpo / Estendido no chão / Em vez de rosto uma foto / De um gol / Em vez de reza / Uma praga de alguém / E um silêncio / Servindo de amém... / O bar mais perto / Depressa lotou / Malandro junto / Com trabalhador / Um homem subiu / Na mesa do bar / E fez discurso / Pra vereador... / Veio o camelô / Vender! / Anel, cordão / Perfume barato / Baiana / Prá fazer / Pastel / E um bom churrasco / De gato / Quatro horas da manhã / Baixou o santo / Na porta bandeira / E a moçada resolveu / Parar, e então... / Tá lá o corpo / Estendido no chão / Em vez de rosto uma foto / De um gol / Em vez de reza / Uma praga de alguém / E um silêncio / Servindo de amém... / Sem pressa foi cada um / Pro seu lado / Pensando numa mulher / Ou no time / Olhei o corpo no chão / E fechei / Minha janela / De frente pro crime... / Veio o camelô / Vender! / Anel, cordão / Perfume barato / Baiana / Prá fazer / Pastel / E um bom churrasco / De gato / Quatro horas da manhã / Baixou o santo / Na porta bandeira / E a moçada resolveu / Parar, e então...(2x) / Tá lá o corpo / Estendido no chão... / . “ ]  .   



Nesta  canção ,  que foi abertura de novela , há uma configuração da imagem do autor , descrevendo à  sua  amada suas preferência de vida , porém muito preocupado  com a fugacidade do tempo , demonstrando uma falsa visão como uma  “  BIJOUTERIA  “  .       [ “ / Em setembro / Se Vênus me ajudar / Virá alguém / Eu sou de virgem / E só de imaginar / Me dá vertigem / Minha pedra é ametista / Minha cor, o amarelo / Mas sou sincero / Necessito ir urgente ao dentista / Tenho alma de artista / E tremores nas mãos / Ao meu bem mostrarei / No coração. Um sopro e uma ilusão / Eu sei / Na idade em que estou / Aparecem os tiques, as manias / Transparentes Transparentes / Feito bijuterias / Pelas vitrines / Da Sloper da alma / . “ ] . 
       O  CANTINHO  MUSICAL  encerra as  amostras musicais desses dois  exponenciais de nossas  canções , lamentando não  ter espaço suficiente para manifestação das  imensas  criações  maravilhosas que  compõem o cancioneiro de  JOÃO BOSCO e ALDIR BLANC .
 
      “  HÁ UMA BELA FILOSOFIA SOBRE O AMOR QUANDO SE FALA DAS METADES QUE SE SEPARARAM E SE  PERDERAM PELO MUNDO , BUSCANDO ELAS , INCESSANTEMENTE , SUAS PARTES PARA SE CONSTITUÍREM UM INTEIRO .  TENHO A PLENA CONVICÇÃO DE QUE JOÃO BOSCO E ALDIR BLANC  ENCONTRARAM AS DEVIDA PARTES EM SUAS ALMAS  MUSICAIS E FORMARAM UM VERDADEIRO TODO . “   
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