29/03/2016 às 10h54min - Atualizada em 29/03/2016 às 10h54min

Semana dos poemas de Augusto dos Anjos

Com a alma coberta de orgulho , O  CANTINHO  POÉTICO   homenageará , nesta semana ,   para  contentamento do povo leopoldinense ,  os poemas deste que , ao cabo de sua  vida breve , iluminou o nome de Leopoldina no cenário poético brasileiro :  AUGUSTO  DOS  ANJOS .
 
No engenho do Pau-d’Arco , perto da vila do Espírito Santo , Estado da Paraíba , nascia no dia 20 de abril de 1884   , AUGUSTO CARVALHO RODRIGUES DOS ANJOS . No ano de 1990 , com 15 anos de idade , já vivia uma vida consciente de adulto , demonstrando uma enorme intelectualidade poética , até sua morte em 1914 , coexistindo no Brasil , com escritores integrados nos  mais diferentes movimentos literários , sendo classificado , durante certo período , como simbolista, associando-se  ao nome de Cruz e Sousa. Em conseqüência dos usos simbólicos feitos pelo Poeta do material não raro de proveniência científica, para fins  de enlace estético e emocional, construiu uma poesia esotérica.  Augusto dos Anjos foi incluído numa modalidade de poetas chamados cientificista e  filosofante : como filosofante  se reflete , mais que tudo , na aventura do seu espírito à cata de uma definição para si mesmo  , para a sua visão dos outro , para sua visão do mundo e para sua inserção dentro da natureza.  Tendo a publicação em  primeira edição de seu livro de poesia  “ EU ”,  em 1912 , somente a partir da 3ª. edição , em 1928 , que começou a penetrar nos meios do leitor comum .  Daí em diante vem mantendo-se o interesse que desperta a curiosidade pelo seu preciosismo vocabular, certas imagens fantásticas, quase surrealista , certas tiradas pessimistas e uma aparente imaturidade  inconformista .

Passamos,  a partir de agora, ao pequeno desfile das obras  dessa intelectualidade poética que  abrilhantou o cenário de nossa galeria literária  .





O fato de ser ostensivamente um  ateu , pelo menos em suas poesia , não exclui  de Augusto dos Anjos  uma dolorosa visão solitária com os seres e as coisas , embora lhe permita  na direção desesperada  de crer  que  o mal presida à vida e que esta é , sobretudo , um caminho para a morte . No soneto  SOLITÁRIO ao lado , demonstra poeticamente  os caracteres do que foi esboçado  sobre sua própria solidão e a visão  mórbida do tema .



 
 








Em “ VERSOS  ÍNTIMOS “  , Augusto dos Anjos expressa   uma  visão  da realidade humana em   maravilhosa  composição   poética .Diante de  tal  constatação , demonstra o Poeta  grande  depressão causada  pela  descrença sobre  a honestidade do  ser humano , fazendo  um  alerta para despertar em relação ao comportamento das  pessoas .







                       





Em  “ Natureza  Íntima “ , poema dedicado ao filósofo  Faria  Brito , Augusto dos Anjos encara  a natureza humana  sobre dois aspectos : a face externa do homem diante do reflexo do mundo ; e a face introspectiva que julga todo comportamento diante da vida, concluindo o total desconhecendo  a  sua própria existência .
                                                          

 













Augusto  dos  Anjos , em  “ O Morcego "Toma  como símbolo medonho  um animal que é  constante personagem das noites  .  O motivo  deste soneto teve como ponto de  referência  um dos temas que ocorre nas linhas   de  outro poema  dele  “ Monólogo de Uma Sombra “ sob a denominação  de remorsos , enquanto  nesta poesia é  a  consciência  humana o centro temático .      





Há em três sonetos uma verdadeira sequência de fatos que marcaram , na memória do Poeta , uma profunda  tristeza , porém  expressos em uma visão da realidade diante da morte do pai . O primeiro manifesta um lamento sobre a doença  já prevendo o passamento do pai ; o segundo é um canto
fúnebre  e sofredor causado pela morte paterna ; o terceiro exterioriza toda uma expressão materialista sobre a decomposição da  matéria  do pai, ilusoriamente descrito em versos chocantes que nos dão a realidade dos aspectos  da morte .
 
SONETO I    ( A  meu  pai  doente )   SONETO    II  (  A meu Pai morto )    
Para onde fores , Pai , para onde fores ,
Irei  também , trilhando  as mesmas ruas ...
Tu , para amenizar as dores tuas ,
Eu , para amenizar  as minhas dores !
Que  coisa triste ! O campo tão sem flores ,
E eu tão sem crença e as árvores tão nuas
E tu , gemendo , e o horror de nossas duas
Mágoas crescendo e fazendo horrores !
Magoaram-te , meu Pai ?! Que mão sombria ,
Indiferente aos mil tormentos teus
De assim magoar-te sem pensar havia ?!
De assim magoar-te sem pensar havia ?!
É bom , é justo , e sendo justo , Deus ,
Deus não  havia  de  magoar-te  assim !


 
  Madrugada de treze de Janeiro,
Rezo , sonhando , o ofício da agonia .
Meu Pai nessa hora junto a mim morria
Sem um gemido , assim como um cordeiro !
 
E eu nem lhe ouvi o alento derradeiro !
Quando acordei , cuidei que ele dormia
E disse à minha Mãe que me dizia  :
“ Acorda-o “ ! Deixa-o , Mãe , dormir primeiro !
 
E saí para ver a Natureza !
Em tudo o mesmo abismo de  beleza ,
Nem uma névoa no estrelado  véu ...
 
Mas pareceu-me , entre as estrelas flóreas ,
Como Elias , num carro azul de glória ,
Ver a alma de meu Pai subindo ao  céu !
   
 
SONETO   III   ( A decomposição do corpo do Pai )
 
Podre meu Pai ! A morte o olhar lhe vidra .
Em seus lábios que os meu lábios osculam
Micro-organismos fúnebres pupulam
Numa fermentação gorda de cidra .
 
Dura leis as que os homens e a hórrida hidra
A uma só lei biológica vinculam ,
E a marcha das  moléculas regulam ,
Com a invariabilidade da clepsidra !...
 
Podre meu Pai ! E a mão que enchi de beijos
Roídas toda de bichos , como os queijos
Sobre a mesa de orgíacos festins !...
 
Amo meu Pai na atômica desordem
Entre as bocas necrófagas que o mordem
E a terra infecta que lhe cobre os rins !





O  poema  “ Vandalismo “ retrata , em uma profunda linguagem  metafórica ,  o coração e a paixão que representam  “ o querer “ do  Poeta , descrito através de um  Templo grandioso e sublime . O conflito entre o amor  idealizado e o arrebatamento  expresso da realidade está contido  na imagem  poética do “Templário “  e  em seu poder  confessional .
 

 
 
 







A  pedido  de  TAYNARA  MORAIS , uma  ardorosa fã das poesias de  Augusto dos Anjos , incluí no artigo  Este  belo poema . Augusto dos Anjos , além de dispensar um  vocabulário científico neste poema , dá-nos um retrato corpóreo  como receita para o bem-estar diante da vida . O valor e a beleza  deste soneto estão nas  maravilhosas  expressões líricas e nas definições  poéticas entre Deus e o Amor . O Bem situa-se, justamente , na crença deste mistério sacrossanto que conduz , com muita fé e esperança  , à receita do amor bendito .


 










O  CANTINHO  POÉTICO  apresentou uma pequena amostra da vasta produção artística  de  AUGUSTO  DOS  ANJOS .  Autor que criava suas obras manuseando palavras e  expressões , com excessivo rebuscamento , emergidas dos subterrâneos da alma , com temas mórbidos , científicos e , principalmente , didáticos sobre a natureza humana . O grande orgulho do povo leopoldinense  encontra-se na certeza de que Leopoldina foi cenário para atuação deste Poeta ao cabo de sua breve vida e de que guarda em um relicário os restos mortais de AUGUSTO DOS ANJOS .
 
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