19/04/2016 às 14h23min - Atualizada em 19/04/2016 às 14h23min

O incentivo a cultura e a crise brasileira

Em tempos de crise econômica talvez seja complicado falar sobre incentivo à cultura. Há quem vá argumentar que o dinheiro seria mais bem aplicado na saúde ou na educação. Se bem que não se investe devidamente nestes dois setores nem em tempos de estabilidade econômica. Embora eu não entenda nada de economia, sei que precisamos administrar o que se tem, muito ou pouco, e esta não é exatamente uma virtude o Brasil, que desde os tempos da colônia desperdiça muito da sua riqueza.
 
Na verdade, desde os tempos coloniais somos uma nação marcada pela concentração de renda e pelo descaso à coisa pública. Nossas elites sempre se consideraram donas do nossa riqueza e do nosso patrimônio cultural. São elas que nos ditaram por muito tempo o que devíamos aprender sobre nossa história e quais os monumentos que deveríamos preservar.
 
Sim, estamos em crise, mas não é hora de parar de investir em cultura, apenas aprender a usar os recursos disponíveis. E quando falo recursos, estou me referindo a recursos materiais e humanos. Nossos recursos humanos, nossos talentos, são ainda mais desperdiçados do que nosso dinheiro, visto que nem sempre sua capacidade de produção é bem aproveitada ou mesmo valorizada.
 
Os recursos destinados à cultura nos municípios nunca foram suficientes, mas o bom gestor sabe usar bem o que tem, aproveitando aquilo que está disponível. Há exemplos disso por todo o Brasil, de casos onde o incentivo à cultura, feito por meio de pequenas ações que se completam em sua totalidade, trouxeram não apenas desenvolvimento humano como também econômico.
 
E não pensemos apenas em termos de crise econômica, pois vivemos atualmente uma crise maior, um crise política, uma crise moral. Daí também a importância de se investir no setor cultural, como forma de conscientizar o cidadão, de torná-lo mais presente no cenário político. Afinal, política é a arte de discutir o “público”, de buscar as melhores formas de solucionar os problemas da comunidade, do país. Os gregos bem sabiam disso, quando incentivaram o debate e criaram a democracia, tão desgastada e multilada no Brasil por pseudos representantes do povo.
 
Em tempos de crise temos uma ótima oportunidade de explorar a cultura local, dando ênfase à história da cidade, às festas populares, às manifestações do folclore e à preservação do patrimônio. Explorar a diversidade é o caminho para a valoração do local. É uma oportunidade de reforçar o sentimento de pertencimento e de unir ainda mais a comunidade.
 
Podemos enfrentar nossas crises atuais a partir do incentivo à cultura, uma cultura voltada para o local, mas que nos leve a questionar sobre os rumos que nosso país tem tomado nos últimos anos. Um debate que envolva a diversidade, maior riqueza do povo brasileiro, que combata a intolerância, que valorize a democracia e a incentive cada vez mais a participação. Podemos moldar o Brasil a partir dos municípios, do micro, do regional. Um processo lento e irregular, mas intenso de formação do cidadão.
 
(*)Professora do Colégio Imaculada Conceição e da Rede Municipal de Ensino de Leopoldina e integrante da ALLA-Academia Leopoldinense de Letras e Artes.
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