OLAVO BRÁS MARTINS DOS GUIMARÃES BILAC , depois de desistir dos cursos de Medicina e Direito , dedicou-se às letras como jornalista , escrevendo crônicas e artigos diários para diversos jornais . Tal atividade impulsionou-o ao mundo poético , tornando-se o mais popular poeta parnasiano do Brasil . Escritor cuja vida não pode ser separada de sua obra. Sua vida e sua obra , entre 1865 e 1918 , datas de seu nascimento e de sua morte , se acham de total maneira entrelaçadas que é muito difícil considerá-las em separado . Suas poesias versam , principalmente , pela paixão da beleza ideal , da beleza helênica , da busca incessante de uma perfeição de formas imutáveis e absolutas . Há na alma de Bilac uma inspiração romântica tão consoante com nossa índole literária , que não extinguiu totalmente ao influxo da poética parnasiana . Desfilaremos , a partir de agora , neste espaço do “ CANTINHO POÉTICO “ , algumas relíquias desse poeta que , além de todas características expostas , soube abraçar também , em seus poemas , o orgulho de uma brasilidade .
Este poema faz uma abordagem sobre o histórico da Língua Portuguesa . Em uma magistral visão semântica do texto literário , observa-se , metaforicamente , que “ Última flor do Lácio , inculta e bela “ refere-se ao fato de que a língua portuguesa ter sido a última língua neolatina formada a partir do latim vulgar . O Poeta enfatiza a beleza do idioma português em suas diversas expressões poéticas como : “ canções de ninar “ , “ emoções “ , “ oratórias “ , “ orações “ e “ louvores “ . Há na poesia um fechamento de ouro ao cabo do soneto , em uma referência a CAMÕES que consolidou a língua portuguesa em sua epopéia , “ OS LUSÍADAS “ .
“ LÍNGUA PORTUGUESA “
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
Bilac , neste soneto , exterioriza , liricamente , as formas de se ter sem sofrimento uma paixão . A sua abordagem poética direciona para a perfeição de uma carga amorosa equilibrada , vivendo sempre uma paixão desprovida de exagero que consome o relacionamento entre os amantes . Expressa também que uma relação de amor deve sempre pautar em estima e respeito , evitando a profunda mágoa que desperta , às vezes , na convivência entre pessoas envolvidas na paixão .
INCONTENTADO
Paixão sem grita, amor sem agonia,
Que não oprime nem magoa o peito,
Que nada mais do que possui queria,
E com tão pouco vive satisfeito.
Amor, que os exageros repudia,
Misturado de estima e de respeito,
E, tirando das mágoas alegria,
Fica farto, ficando sem proveito.
Viva sempre a paixão que me consome,
Sem uma queixa, sem um só lamento!
Arda sempre este amor que desanimas!
E eu tenha sempre, ao murmurar teu nome,
O coração, malgrado o sofrimento,
Como um rosal desabrochado em rimas.
Há neste poema um recurso literário cujo fenômeno é centrar o tema sobre poesia em um poema e que , tecnicamente , denomina-se METAPOEMA . Começa o soneto abordando o grande ofício de tecer uma obra poética em local ideal onde as ideias fluem , mesmo com dor e teimosia . Nos versos finais , demonstra o resultado na feitura de um poema , realçando a beleza identificada com os princípios clássicos : riqueza e sobriedade . E fecha a poesia comparando a arte literária a uma beleza , afirmando que é na simplicidade que a poesia se torna bela .
A um Poeta
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.
Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimigo do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
No poema “ Última Página “ , Bilac entrelaça três eixos semânticos basicamente comparativos : a natureza , as estações do ano , e suas amadas . Associando com base conceptual cada eixo com os fenômenos que identificam cada passagem no tempo através de um lirismo que mais se aproxima das caracterizações do Romantismo . Ao final da poesia , expressa a efemeridade dos sentimentos amorosos , desconhecendo o verdadeiro sentido do amor e a brevidade das estações do ano , deixando transparecer , na omissão de um dos eixos , que a natureza permanece com verdadeiro cenário , esperando por outros novos eixos .
Última Página
Primavera. Um sorriso aberto em tudo. Os ramos
Numa palpitação de flores e de ninhos.
Doirava o sol de outubro a areia dos caminhos
(Lembras-te, Rosa?) e ao sol de outubro nos amamos.
Verão. (Lembras-te, Dulce?) À beira-mar, sozinhos.
Tentou-nos o pecado: olhaste-me... e pecamos;
E o outono desfolhava os roseirais vizinhos,
Ó Laura, a vez primeira em que nos abraçamos...
Veio o inverno. Porém, sentada em meus joelhos,
Nua, presos aos meus os teus lábios vermelhos,
(Lembras-te, Branca?) ardia a tua carne em flor...
Carne, que queres mais? Coração, que mais queres?
Passam as estações e passam as mulheres...
E eu tenho amado tanto! E não conheço o Amor!
O título do poema abaixo retoma o verso de abertura do livro Inferno , que é a primeira parte d’A Divina Comédia , obra do poeta italiano Dante Alighieri . No poema de Dante , há evidenciado, metaforicamente , um caminho a ser percorrido pelo protagonista em busca de sua amada. No poema de Bilac , motivado pelo conteúdo poético de Dante , percebe-se que é um eu-lírico masculino que lamenta a dor de separar-se de sua amada após anos juntos . O soneto segue todo rito formal de uma composição parnasiana .
“ NEL MEZZO DEL CAMIN ... “
Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
Hoje, segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo .
Como fechamento desta pequena demonstração , optamos por apresentar o “ Hino à Bandeira do Brasil “ , obra vitalícia de Olavo Bilac , onde demonstra seu imenso patriotismo e destaca as peculiaridades históricas e literárias , objetivando transmitir conhecimentos sobre os símbolos que caracterizam o Brasil República , através da construção poética da obra , com finalidade de suscitar um maior senso patriótico em cada brasileiro .
HINO À BANDEIRA
Salve , lindo pendão da esperança, Salve, símbolo augusto da paz! Tua nobre presença à lembrança A grandeza da Pátria nos traz. Recebe o afeto que se encerra Em nosso peito juvenil, Querido símbolo da terra, Da amada terra do Brasil! Em teu seio formoso retratas Este céu de puríssimo azul, A verdura sem par destas matas, E o esplendor do Cruzeiro do Sul. Recebe o afeto que se encerra Em nosso peito juvenil, Querido símbolo da terra, Da amada terra do Brasil! | Contemplando o teu vulto sagrado, Compreendemos o nosso dever; E o Brasil, por seus filhos amado, Poderoso e feliz há de ser. Recebe o afeto que se encerra Em nosso peito juvenil, Querido símbolo da terra, Da amada terra do Brasil! Sobre a imensa Nação Brasileira, Nos momentos de festa ou de dor , Paira sempre, sagrada bandeira, Pavilhão da Justiça e do Amor! Recebe o afeto que se encerra Em nosso peito juvenil, Querido símbolo da terra, Da amada terra do Brasil! |
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