A ocupação deste espaço musical hoje expressa uma aquarela pintada em VERDE e AMARELO , uma vez que corriam , nas veias de ARY DE RESENDE BARROSO , as cores do Brasil brasileiro .
Ary Barroso nasceu em Ubá , município da zona da mata mineira , em 7 de novembro de 1903 . Aos 18 anos foi para o Rio de Janeiro , onde , iluminado pela sua criatividade , começou despontar a vocação pela carreira artística, tocando piano em cabaré , fazendo fundo musical para o cinema mudo e , posteriormente , despertando seu interesse pelo teatro musical.
Ary foi apresentador no programa de calouros da Rádio Tupi , revelando nomes como : Dolores Duran , Elza Soares , Elizeth Cardoso e outras expressões musicais do nosso cancioneiro . Além de conduzir o programa de auditório , “ Calouros em Desfile “ , foi locutor esportivo com uma narração rubro-negra inconfundível e toda vez que o Flamengo marcava um gol, ele tocava uma gaitinha .
Coroando sua galeria musical com realce luzente , “ AQUARELA DO BRASIL “ , hino nacional alternativo brasileiro , é a verdadeira pintura ilustrada que demonstra , através das cores brasileira , uma musicalidade , exaltando nossa história , tradição , miscigenação , folclore , devoção , enfim, todo um panorama cultural de nossa nação . O próprio Ary , em uma entrevista dada ao Diário de Notícias , disse : “ De dentro de minha própria alma , extravasara um samba que há muito desejava , um samba que , em sonoridades brilhantes e fortes , desenhasse a grandeza , a exuberância da terra promissora , da gente boa , laboriosa e pacífica , povo que ama a terra em que nasceu “ .A riqueza desse SAMBA – EXALTAÇÃO, tendo sido gravado em vários idiomas , despertou , no mundo inteiro , um respeito e uma atenção especial para a MÚSICA POPULAR BRASILEIRA : “ AQUARELA DO BRASIL “ . [ “ Brasil ! / Meu Brasil brasileiro /Meu mulato inzoneiro / Vou cantar-te nos meus versos / O Brasil samba que dá / Bamboleio que faz gingá / Ó Brasil do meu amor / Terra de Nosso senhor / Brasil ! / Brasil ! / Pra mim... / pra mim... “/ Ô, abre a cortina do passado; / Tira a mãe preta do cerrado; / Bota o rei congo no congado. / Brasil!... Brasil!... / Deixa cantar de novo o trovador / À merencória à luz da lua / Toda canção do meu amor. / Quero ver essa Dona caminhando / Pelos salões, arrastando / O seu vestido rendado. / Brasil!... Brasil! Prá mim ... Prá mim!... / Brasil, terra boa e gostosa / Da moreninha sestrosa / De olhar indiferente. / O Brasil, verde que dá / Para o mundo admirar. / O Brasil do meu amor, / Terra de Nosso Senhor. / Brasil!... Brasil! Prá mim ... Prá mim!... / Esse coqueiro que dá coco, / Onde eu amarro a minha rede / Nas noites claras de luar. / Ô! Estas fontes murmurantes / Onde eu mato a minha sede / E onde a lua vem brincar. / Ô! Esse Brasil lindo e trigueiro / É o meu Brasil Brasileiro, / Terra de samba e pandeiro. / Brasil!... Brasil ! / . “ ] .
Em 1930 , viaja para a Bahia , lugar que o consagrou , fazendo brotar inspirações e criatividades para belas músicas : “ NO TABULEIRO DA BAIANA “. “ No tabuleiro da baiana tem : / Vatapá, oi, caruru , mungunzá tem umbu / Pra Ioiô / Se eu pedir , você me dá o seu coração / Seu amor de Iaiá ? No tabuleiro da baiana tem: / Sedução, cangerê, ilusão, candomblé / Prá você / Juro por Deus, pelo Senhor do Bonfim / Quero você, baianinha, inteirinha / Pra mim / E depois, o que será de nós dois / Seu amor é tão fugaz, enganador / Tudo já fiz, fui até num cangerê / Pra ser feliz / Meus trapinhos juntar com você / E depois vai ser mais uma ilusão / No amor quem governa é o coração / . “ ] .
Dando continuidade à exaltação da Bahia , tema preferido por criação de várias canções , manifesta em versos seu amor a esse pedaço de terra do Brasil . “. NA BAIXA DO SAPATEIRO . [ “ / Na Baixa do Sapateiro eu encontrei um dia / A morena mais frajola da Bahia / Pedi-lhe um beijo , não deu / Um abraço , sorriu / Pedi-lhe a mão , não quis dar , fugiu / Bahia, terra da felicidade / Morena, eu ando louco de saudade / Meu Senhor do Bonfim / Arranje outra morena igualzinha pra mim / Oh! amor, ai / Amor bobagem que a gente não explica, ai, ai / Prova um bocadinho, ô / Fica envenenado, ô / E pro resto da vida é um tal de sofrer / Ôlará, ôleré / Ô Bahia / Bahia que não me sai do pensamento / Faço o meu lamento, ô / Na desesperança, ô / De encontrar nesse mundo / Um amor que eu perdi na Bahia, vou contar / Ô Bahia / Bahia que não me sai do pensamento.../ . “ ] .
Ainda sutilmente referente ao povo da Bahia , descreve , em um linguajar local , os quitutes baianos e a beleza da mulher em : “ . OS QUINDINS DE IAIÁ [ “ / Os quindins de Iaiá / Cumé , cumé , cumé ? ( bis ) / Cumé que faz chorar / Os zoinho de Iaiá / Cumé , cumé , cumé ? (bis) / Cumé que faz penar / O jeitão de Iaiá / Me dá, me dá / Uma dor / Me dá, me dá / Que não sei / Se é, se é / Se é ou não amor / Só sei que Iaiá tem umas coisas / Que as outras mulher não tem / O que é? / Os quindins de Iaiá / ( 3 X ) / Tem tanta coisa de valor / Nesse mundo de Nosso Senhor / Tem a flor da meia-noite / Escondida no terreiro / Tem música e beleza / Na voz do boiadeiro / A prata da lua cheia / No leque dos coqueiros / O sorriso das crianças / A toada dos vaqueiros / Mas juro por Virgem Maria / Que nada disso pode matar... / O quê? / Os quindins de Iaiá /. “ ] .
E outras canções : “QUANDO EU PENSO NA BAHIA “, “ IAIÁ DA BAHIA “ .
Ary compôs páginas maravilhosas , tendo como tema a expressão lírica da separação , da solidão , da dor , da saudade . “ NO RANCHO FUNDO “ , composição em parceria com Lamartine Babo , manifesta a dor e a solidão do personagem MORENO . [ “ / No Rancho Fundo / Bem pra lá do fim do mundo / Onde a dor e a saudade / Contam coisas da cidade / No Rancho Fundo / De olhar triste e profundo / Um moreno canta as mágoas / Tendo os olhos rasos d’água... / Pobre moreno que de tarde no sereno / Espera a lua no terreiro / Tendo o cigarro por companheiro / Sem um aceno ele pega na viola / E a lua por esmola vem pro quintal deste moreno / No rancho fundo bem pra lá do fim do mundo / Nunca mais houve alegria / Nem de noite,nem de dia / Os arvoredos já não contam mais segredos / Que a última palmeira já morreu na cordilheira / Os passarinhos enterraram-se nos ninhos / De tão triste essa tristeza enche de treva a natureza / Tudo por que? Só por causa do moreno / Que era grande, hoje é pequeno / Para uma casa de sapê / . “ ] .
O lamento de um descaso amoroso foi cantado e eternizado na voz maravilhosa de Jamelão , canção que expressa um sentimento de abandono em relação ao amor . “ FOLHA MORTA “ [ “ / Sei que falam de mim / Sei que zombam de mim / Oh , Deus ! / Como eu sou infeliz / Vivo à margem da vida / Sem amparo ou guarida / Oh , Deus ! / Como eu sou infeliz / Já tive amores / Tive carinhos / Já tive sonhos / Os dissabores / Levaram minh'alma / Por caminhos tristonhos / Hoje sou folha morta / Que a corrente transporta / Oh, Deus! / Como eu sou infeliz! / Infeliz! / Eu queria um minuto apenas / Pra mostrar minhas penas / Oh, Deus! / Como eu sou infeliz! / . “ ] .
A canção seguinte versa sobre o tema de uma separação amorosa e pedido de esquecimento dos momentos felizes que os amantes tiveram no passado . Sucesso gravado na voz de grandes cantores , sendo consagrado , em 1953 , na voz de Linda Batista : “ RISQUE “ [ “ / Risque meu nome do seu caderno / Já não suporto o inferno / Do nosso amor fracassado / Deixe que eu siga novos caminhos / Em busca de outros carinhos / Matemos nosso passado / Mas se algum dia, talvez / A saudade apertar / Não se perturbe / Afogue a saudade / Nos copos de um bar / Creia / Toda quimera se esfuma / Como a beleza da espuma / Que se desmancha na areia / . “ ] .
Ary , em várias canções, exalta a beleza feminina com a preciosidade de sua composição ,expressando um tema em que a Natureza , humildemente , contempla e ornamenta a beleza da cabocla : “ POR CAUSA DESTA CABOCLA “ [ “ / À tarde / Quando de volta da serra / Com os pés sujinhos de terra / Vem a cabocla passar / As flores vêm pra beira do caminho / Pra ver aquele jeitinho / Que ela tem de caminhar / E quando ela na rede adormece / E o seio moreno esquece / De na camisa ocultar / As rolas , as rolas também morenas / Cobrem-lhe o colo de pena / Pra ele se agasalhar / Na noite / Dos seus cabelos, / Os grampos são feitos de pirilampos / Que às estrelas querem chegar / E as águas dos rios / Que vão passando / Fitam seus olhos pensando / Que já chegaram ao mar / Com ela dorme toda a natureza / Emudece a correnteza / Fica o céu todo apagado / Somente com o nome dela na boca / Pensando nesta cabocla / Fica um caboclo acordado / . “ ] .
Ary emoldura com lindas palavras líricas a imagem da amada em uma mescla de declaração amorosa com a beleza da mulher , motivado pela a letra “ M “ em sua palma da mão“ . “MARIA “ [ “ / Maria ! / O teu nome principia na palma da minha mão / E cabe bem direitinho / Dentro do meu coração , Maria , / Maria / De olhos claros cor do dia / Como de Nosso Senhor / Eu por vê-los tão de perto / Fiquei ceguinho de amor , Maria / No dia, minha querida, em que juntinhos na vida / Nós dois nos quisermos bem / A noite em nosso cantinho/ Hei de chamar-te baixinho / Não hás de ouvir mais ninguém, Maria ! / Maria ! / Era o nome que dizia / Quando aprendi a falar / Da avozinha / Coitadinha / Que não canso de chorar Maria / E quando eu morar contigo Tu hás de ver que perigo / Que isso vai ser, ai, meu Deus / Vai nascer todos os dias uma porção de Marias / De olhinhos da cor do teus, Maria ! Maria ! / . “ ] .
Tendo como carro-chefe “ AQUARELA DO BRASIL “ , Ary tornou-se verdadeiro ícone do samba exaltação , apresentando o Brasil e a beleza da Bahia como tema , interpretada , quase sempre , pela brilhante voz de Carmem Miranda. Desfilo aqui alguns sambas- exaltação : “ ISTO AQUI O QUE É ? “ ( 1942 ) . [ “ / Isto aqui , ô, ô / É um pouquinho de Brasil , Iaiá / Desse Brasil que canta e é feliz / Feliz , feliz / É também um pouco de uma raça, / Que não tem medo de fumaça ai, ai, / E não se entrega não / Olha o jeito nas cadeiras que ela sabe dar, / Olha só o remelexo que ela sabe dar / Olha o jeito nas cadeiras que ela sabe dar, / Olha só o remelexo que ela sabe dar / Morena boa que me faz penar, / Põe a sandália de prata, / E vem pro samba sambar. / Morena boa que me faz penar, / Põe a sandália de prata, / E vem pro samba sambar / . “ ] .
Em exaltação Maravilhosa à paisagem brasileira , Ary transcreve minuciosamente a beleza natural do Brasil , retratando a paixão e o orgulho de ser brasileiro : “ ISTO É MEU BRASIL “ [ “ / Ô , nossas praias são tão claras / Nossas flores são tão raras / Isto é meu Brasil / Ô, nossas fontes, nossas ilhas e matas / Nossos montes, nossas lindas cascatas / Deus foi quem criou / Ô, ô / Ô, minha terra brasileira / Ouve esta canção ligeira / Que eu fiz quase louco de saudade , / Brasil , / Tange as cordas dos seus violões / E canta o teu canto de amor / Que vai fundo nos corações / . “ ] . Ary Barroso ainda compôs verdadeiras musicais como : “ TERRA SECA “ ( 1944 ) . “ “ TERRA DE IAIÁ “, (1931) ; “ NA BAIXA DO SAPATEIRO “ ( 1938 ) ; “ BRASIL MORENO “ ( 1941 ) ; “ BAHIA IMORTAL “ (1945) . Composições sobre carnaval sempre fascinaram Ary a criar canções de diversos temas .
Esta música que apresentaremos foi feita pelo compositor sobre a ótica feminina , uma sequência épica , narrada por uma amada à procura de seu amado nos cordões carnavalescos : “ CAMISA AMARELA “ . [ “ / Encontrei o meu pedaço na avenida / De camisa amarela / Cantando a Florisbela , oi , a Florisbela / Convidei-o a voltar pra casa / Em minha companhia / Exibiu-me um sorriso de ironia / Desapareceu no turbilhão da galeria / Não estava nada bom / O meu pedaço na verdade / Estava bem mamado / Bem chumbado, atravessado / Foi por aí cambaleando / Se acabando num cordão / Com o reco-reco na mão / Mais tarde o encontrei / Num café zurrapa / Do Largo da Lapa / Folião de raça / Tomando o quarto copo de cachaça / Isto não é chalaça / Voltou às sete horas da manhã / Mas só na quarta feira / Cantando A Jardineira, oi, A Jardineira / Me pediu ainda zonzo / Um copo d'água com bicarbonato / O meu pedaço estava ruim de fato / Pois caiu na cama / E não tirou nem o sapato / E roncou uma semana / Despertou mal humorado / Quis brigar comigo / Que perigo, mas não ligo! / O meu pedaço me domina / Me fascina, ele é o tal / Por isso não levo a mal / Pegou a camisa, a camisa amarela / E botou fogo nela / Gosto dele assim / Passada a brincadeira / E ele é pra mim / Meu Sinhô do Bonfim / . “ ] .
“ SALADA MISTA “ : Ary ironiza , na marchinha de carnaval , o Pacto de Munique , que deu Tchecoslováquia a Hitler , acordo de França, Inglaterra , Itália e Alemanha . “ Uma pitada de massa de tomate / All right , all right / E três gotinhas de molho inglês / OK, OK / Algumas gramas de petit-pois / François , François / E ficou pronto o pirão do chanceler / Que papou de colher / Que papou de colher / Disse o francês: / Oui, oui, oui / Disse o inglês: / Yes, yes, / Quem não gostou foi o tchecoslovaco / Que deu o cavaco, que deu o cavaco / Italiano entrou, então na salada / E não sobrou nada / E não sobrou nada / . “ ] . Ary Barroso foi , sem dúvida , o compositor popular que mais se identificou com os temas brasileiros . Criador de várias lindas canções deixa-nos um exemplo de amor à Pátria e incentivo para a nova geração construir estruturas musicais pela veia artística , pois somente assim a obra se tornará universal e atemporal , como as relíquias deixadas por ele . No dia 9 de fevereiro de 1964 ,em pleno domingo de carnaval , quando a Escola de Samba Império Serrano desfilava , na Av. Presidente Vargas , no Rio de Janeiro, apresentando o enredo “ Aquarela do Brasil “ , um dos títulos de sua mais famosa composição , com o samba-enredo de gênero ensaístico, configurado na beleza das regiões brasileira e suas culturas, composto por Silas de Oliveira , morre Ary de Resende Barroso !
O mundo do samba se cala em respeito para ouvir o retrato de nosso país , entoado no canto dos componente da Império Serrano : “ Vejam esta maravilha de cenário / É um episódio relicário/ Que o artista num sonho genial / Escolheu para este carnaval /E o asfalto como passarela /Será a tela do Brasil em forma de aquarela / Passeando pelas cercanias do Amazonas / Conheci vários seringais / No Pará a ilha de Marajó / E a velha cabana do Timbó / Caminhando ainda um pouco mais /Deparei com lindos coqueirais / Estava no Ceará , terra de Irapuã , / De Iracema e Tupã / Fiquei radiante de alegria / Quando cheguei à Bahia / Bahia de Castro Alves , do acarajé / Das noites de magia do candomblé / Depois de atravessar as matas do Ipu / Assisti em Pernambuco / A festa do frevo e do maracatu. / Brasília tem o seu destaque / Na arte,na Beleza e arquitetura / Feitiço de garoa pela serra / São Paulo engrandece a nossa terra / Do leste por todo centro-oeste / Tudo é belo e tem lindo matiz / O Rio do samba e das batucadas / Dos malandros e mulatas / De requebros febris / Brasil, / Essas nossas verdes matas / Cachoeiras e cascatas / De colorido sutil / E este lindo céu azul de anil / Emolduram em aquarela o meu Brasil. / Lá...lá...lá... / Lá...lá...lá...lá...lá.../ . “ ] .
Ary Barroso teceu, em suas belas canções, um sentimento amoroso inigualável pelo Brasil , e o tributo ao mais expressivo compositor e divulgador da cultura brasileira não é mais que uma obrigação deste CANTINHO MUSICAL , por isso dedicamos , em poucas linhas, uma homenagem à galeria de canções maravilhosas de quem foi um verdadeiro guardião da MÚSICA POPULAR BRASILEIRA !!!