JOSÉ MARTINIANO DE ALENCAR nasceu em Macejana ( Ceará ) , no ano de 1829 e morreu no Rio de Janeiro , em 1877 . Dedicou-se à literatura , ao jornalismo , à advocacia . Pertencente à primeira geração Indianista do período romântico , foi o primeiro ficcionista de bom nível na literatura brasileira. Sua obra representa , na prosa , a realização da tendência nacional . Seu estilo é livre , muito pessoal e natural . A leitura atenta de qualquer de seus livros indianistas mostra a sobriedade com que pinta seus cenários e personagens . A forte presença da natureza é dividida , sobretudo , ao uso de metáforas naturais , que fundem a realidade humana na paisagem , tornando indissolúvel , na sua obra , a vinculação entre o homem e as coisas . Como recurso romântico , descobre o mundo de atrações e superstições , de riquezas com suas cores tropicais da vegetação e da fauna , com seus segredos profundos envolvidos pelo verde carregado das selvas , com seus símbolos respeitados , indicadores de um novo povo ideal com um novo valor intrínseco . Usa em suas obras um vocabulário bem brasileiro , com dificuldades advindas da variedade da fauna e da flora evocadas , em parte desconhecidas , serve como informação de uma realidade próxima e acessível , mas inexplorada nas potencialidades poéticas de suas raízes naturais .
Passemos agora explicitar o enredo de “ IRACEMA “ que , segundo Alencar , é uma lenda em um quase poema em prosa , simbolizando o encontro da raça branca com a indígena , de que proveio a civilização brasileira . O nome da obra tem um intuito crítico sobre a exploração do homem branco europeu sobre as terras americanas descobertas , por isso o acróstico de “ IRACEMA “ resultar em uma mistura de letra da palavra “ AMÉRICA “. A linha do enredo começa quando o guerreiro português Martim ( personagem histórica ) , perdido na mata , é abrigado pelo pajé dos tabajaras , Araquém . A filha deste , Iracema , a “ virgem dos lábios de mel “ , apaixona-se pelo homem branco , defendendo da sanha da tribo e com ele foge . Vivem um belo idílio nas florestas e praias do Ceará , junto ao fiel amigo Poti , guerreiro pitiguara . Porém os trabalhos da guerra afastam Martim da esposa que , depois de dar à luz um filho , morre .
O tema , considerado como o da afirmação do amor entre o povo estranho e o nativo , com a inversão da posição do conquistador à do conquistado justamente pelo
sentimento de que se vê possuído . Iracema abandona o próprio povo para acompanhar o estranho de outra raça . O destino coloca três pessoas , de três povos praticamente inimigos , a viverem calma e isoladamente à beira da praia e em meio às riquezas naturais que uma paisagem favorecida e privilegiada lhes oferece. Numa “ realidade irreal “ , os membros tendem à dissolução : impossível viver na tribo de Iracema onde , por amor , a índia contrariou os costumes da tribo tabajara ; impossível conviverem na tribo de Poti , com os pitiguaras , inimigos dos tabajaras ; e impossível para Martim viver com as lembranças da pátria a lhe roubarem até a alegria do amor por Iracema . A felicidade da convivência é toldada pela tristeza da alma distante da terra natal .
Embora a trama se desenvolva em direção do desmembramento do grupo , é o drama de Iracema que marca o ponto de real importância da obra : a índia que morre de amor pela tristeza de reconhecer a insatisfação do esposo fatigado de tanta felicidade e a cismar na sua terra longínqua . É o drama de quem tudo abandona por um objetivo alcançado , mas amargamente temporário .
A natureza é aí enfocada como fator principal e condicionante da felicidade a gerar , pródiga , a certeza da sobrevivência. Nas descrições , o elemento natural toma relevo já na viagem dos três personagem desde a taba dos tabajaras até a costa cearense . E Iracema , sempre apresentada em comunhão com a natureza , aparece livre a correr pelas campinas a se banhar na lagoa Porangaba , a colher frutas , a fabricar a bebida com o coco e mel de abelha .
A realização plena dos ideais expostos através dos personagens se consuma na figura do filho do casal , o “ primeiro cearense “ que , nascido naquelas terras , terá o berço como motivo do sentimento patriótico .
Em Iracema , os elementos ocupam um primeiro plano a serviço da caracterização do heroísmo do índio que se concentrará na abdicação dos preconceitos da raça em favor de um sentimento unificador de povos . A força sustentadora da luta não será a audácia e a coragem de guerreiros a combaterem inimigos para a conquista do amor da amada ; residirá , sobretudo , na faculdade de união de seres em que raças se fundem num ato de confraternização .
O Romance Iracema é considerado um poema em forma de prosa, com características épicas, em que tanto Martim como Iracema são heróis. Além disso, o livro é escrito após a regularização da colonização do Ceará. Todo esse cenário de lendas, de amor proibido, serve para acontecer o nascimento do primeiro filho da miscigenação entre o branco e o índio. Assim, o índio é visto com bons olhos ufanistas e representantes da cultura brasileira.
BIBLIOGRAFIAS CONSULTADAS :
PIRES , Maria Lúcia Soares . “ Artigo sobre “ IRACEMA “ de José de Alencar . . Coleção Jabuti , 2ª. edição , S. Paulo , 1970 .
VERÍSSIMO , José . “ História da Literatura Brasileira “ . 5ª. Ed. Editora José Olympio ,
Rio de Janeiro , 1969 .