30/06/2016 às 08h49min - Atualizada em 30/06/2016 às 08h49min

Meu voto é não.

NELSON VIEIRA FILHO
Praticamente, o Brasil parou há algumas semanas, para ver, pela TV, a votação em que a Câmara dos Deputados Federais discutia o pedido de abertura de processo de impedimento da reeleita presidente Dilma.

A reunião virou comédia para quem a acompanhava com olhos de neutralidade e foi de uma tensão gigantesca para quem torcia contra ou a favor de algum lado.
Ao votar contra o afastamento de Dilma, o baiano José Carlos de Araújo, presidente do Conselho de Ética da Câmara Federal, que sempre foi feito de bobo pelo presidente da Câmara, apontando para o Cunha, afirmou  “você será o próximo”, como que adivinhando, primeiro sairá a Dilma, depois você (ou V. Exa., na sempre cortês linguagem parlamentar).  O Cunha não moveu um único músculo facial, demonstrando a frieza de seus sentimentos.

Fala-se em CPMF, fala-se em aumento de imposto, mas alguém já ouviu algum político falar que é preciso diminuir-lhes os rendimentos, suas extravagantes mordomias?

O Cunha e a Dilma, mesmo afastados de suas funções, manterão todas as benesses de que usufruíam, inclusive um avião para poder viajar sempre, sendo que a Dilma pretende percorrer este mundão de Brasil para  insistir que é vítima de golpe.

Em meados de maio, deputadas ficaram exultantes porque foram recebidas no Palácio do Jaburu pelo Temer e disseram que nunca haviam sequer sido cumprimentadas pela Dilma. O Mantega, ex-ministro da Fazenda, teria contado que Dilma não aceitava sugestões, exigindo que suas ordens fossem cumpridas sem discussão e, se contrariada, gritava agressivamente.  Já li – e não só os petistas “cegos”, mas também os lúcidos devem ter lido também – que Dilma já fez até ministros chorarem de tanta humilhação. E nós, pobres mortais, podemos concluir que tais ministros, sem-vergonhas,optaram por “enfiar o rabo entre as pernas” para não perder  o status de ministro com todas suas imensas mordomias. 

Então, podemos concluir que Dilma não foi afastada da Presidência por causa das pedaladas, mas porque era sem jogo de cintura, arrogante, a rudeza personificada.
É “verdade verdadeira” que um bebum, analfabeto, sem certidão de nascimento, ficou pirado depois que ouviu muito  comentário na TV e em botecos sobre se Dilma deveria ou não ser afastada; que o Cunha tem/não tem, na Suíça,  dinheiro ganho ilicitamente; que o Temer está rodeado de muitos dos 171 que rodeavam a Dilma. E, sempre que bebia mais do que aguentava, se acomodava num alpendre de uma casa na zona rural de Argirita e ficava, dias seguidos, a falar sozinho. Sua patroa – muita amiga de minha esposa - resolveu prestar atenção no que ele dizia e anotou os questionamentos.

O bebum perguntava a si mesmo: “se a Dilma era Presidenta, o Temer deve ser Presidento?”; “o Lula queria ser candidato em 2014 e a Dilma fincou pé?”; “o Lula incentivou a Dilma a ser candidata em 2014 para ele voltar glorioso em 2018?”; “deve ser mantido o número de 513 deputados?”; “deve ser diminuído o número de 513 deputados?”; “deve acabar a verba de R$ 92.000,00 para cada deputado contratar assessores?”;“deve cada deputado ter direito a R$ 92.000,00 para contratar assessores?”; “deve-se diminuir a quantidade de partidos políticos e o fundo partidário?”; “deve-se manter a quantidade de partidos políticos e o fundo partidário?”;“deve ser regra haver sessões plenárias com votações de segunda a sexta-feira?”; “deve ser regra haver sessões plenárias com votações somente de terça à tarde até quinta de manhã?”; “devem os deputados ganhar passagens semanais para suas bases?”;  “não devem os deputados ganhar passagens semanais para suas bases?”; “deve-se manter a aposentadoria integral de deputados depois de 8 anos de mandato?”; “deve-se acabar com a aposentadoria integral de deputados depois de 8 anos de mandato?”.

Ele, de tanto ouvir argumentos pró e contra todas as conjeturas, plenamente lúcido em consequência de tanta cachaça que ingeriu, concluiu que a política no Brasil é um “samba do crioulo doido” e, “sem medo de ser feliz”, em resposta às perguntas antagônicas que ele formulava a si mesmo, repetia dezenas de vezes:“Meu voto é não  !”.
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