30/06/2016 às 18h47min - Atualizada em 30/06/2016 às 18h47min

Apresentação temática do romance “A Moreninha” de Joaquim Manuel de Macedo

WALDEMAR PEDRO ANTÔNIO
Joaquim Manuel de Macedo  nasceu em Itaboraí em 1820. Em 1844 formou-se em Medicina no Rio de Janeiro e, no mesmo ano, estreou na literatura com a publicação daquele que viria a ser seu romance mais conhecido,   A Moreninha  “, que lhe deu fama e fortuna imediata. Essa obra marca o início da ficção do romantismo brasileiro.. É considerado o primeiro romance tipicamente brasileiro, pois retratou hábitos da juventude burguesa carioca, contemporânea à época de sua publicação. Um  dos maiores méritos do autor foi  a  sua capacidade de  percepção  sobre o espírito detalhista e perspicaz  que possuía , conseguindo ,  com muita competência  quase  de um pintor , retratar a vida exterior e aparente  da sociedade brasileira da época . Seu enredo segue uma linha simplista , constituído de apenas uma ação central , o namoro  entre Carolina  e  Augusto  .

       Do  relacionamento  da  Moreninha  com  Augusto , aproveita-se o autor  para  apresentar toda uma gama  de costumes  e  tradições  tipicamente brasileiras . Do convívio de um  fim-de-semana na  fazenda  da avó de Felipe , na ilha de Paquetá  , nasce  o amor  da Moreninha  e Augusto , cujas raízes já estavam vinculadas  à sua infância e cuja  realização é determinada por  desígnios   sobrenaturais que cada um possuía , fatos  ao  gosto  das  histórias  românticas .  Quanto aos seus personagens  , todos são jovens adolescentes  , pertencentes à classe média abastada , uns  mais fúteis , mais vulgares , outros mais sensatos , entretanto todos bons , donos dos mais elevados  sentimentos  , capazes  de nobres  ações , sempre impulsionados , pela emoção , pelo sentimento .Quanto ao espaço onde se desenrola a trama , ocorre na Ilha  de  Paquetá , com uma paisagem típica tropical , afastada  do  mundo agitado das grandes cidades  , onde os personagens  podiam viver à vontade no seu mundo de fantasias e sonhos . A  natureza está sempre presente no desenrolar  do enredo ; partidária dos amantes , auxilia-os nas suas peripécias , facilita-lhes  a fuga , impregna o ambiente de mistérios , como é o caso da gruta , do jardim , servindo de cenário às distrações dos jovens  e  o  da praia  e o recurso a que  a  Moreninha  recorria em busca do conforto  e  tranquilidade , quando  saudosa  de  Augusto .  Em relação ao espaço  social,  é focalizado para mostrar os costumes, como  as reuniões familiares , as festas . 
                                                                                                   
O  enredo de “A Moreninha” inicia-se com a ida de um grupo de amigos estudantes – Augusto, Fabrício e Leopoldo – a convite de Filipe, à casa de sua avó – D. Ana – residente na Ilha de Paquetá  , onde passarão o dia de Sant’Ana e o fim de semana. Filipe aposta que os amigos irão se interessar por suas primas – Joaninha, Quinquina e suas amigas, Gabriela e Clementina - ou por Carolina, sua irmã. Namorador inconstante, Augusto é desafiado por Filipe e seus amigos que lhe propõem uma aposta: caso ele se apaixone por uma das moças, escreverá a história de sua derrota; se não se apaixonar, Filipe é quem deverá escrever sobre a vitória triunfal de seu amigo inconstante.

      Ao chegar à ilha, Augusto conhece Carolina, por quem fica encantado, enquanto Fabrício o provoca, afirmando ser ele incapaz de amar seriamente. À noite, todos da casa resolvem caminhar pela ilha. Após andar brevemente com Carolina, Augusto junta-se à D. Ana, que o leva a uma gruta próxima, onde havia uma lendária fonte. Ele confidencia-lhe que, há sete anos, quando adolescente conhecera uma jovem na praia: os dois haviam ajudado um pobre velho que, agradecido, profetizou o casamento dos dois no futuro. Num gesto simbólico, o idoso casara-os, fazendo com que trocassem presentes: ele deu-lha um camafeu e ela, uma esmeralda. Trocara juras de amor eterno e de um casamento verdadeiro no futuro. Carolina, porém, a tudo escutava escondida.

     Em troca da confidência, a avó de Filipe conta-lhe a história de uma índia que se apaixonara por um índio guerreiro, mas não fora correspondida. De tanto chorar, suas lágrimas deram origem àquela fonte. Ao beber dela, o guerreiro se apaixona pela índia e os dois viveram juntos para sempre.

    No dia da festa de Sant’Ana, Augusto, como namorador que é, declara-se para as quatro moças da casa. Na manhã seguinte, recebe um convite anônimo para um encontro na gruta. Lá ele encontra as quatro moças, bebe da fonte, e passa adivinhar os segredos delas, fazendo parecer que era o poder da fonte. No entanto, ele não faz nada além de contar as peripécias que havia bisbilhotado da conversa das moças. Neste contexto aparece Carolina, que repete o mesmo gesto, passando a contar as verdades íntimas de Augusto, que ela também havia escutado no passeio à noite, na véspera do dia de Sant’Ana. Mas vai embora antes mesmo de Augusto tivesse tempo de declarar que era ela a quem amava.

    De volta à cidade, não consegue esquecê-la. Passam a se encontrar todos os domingos. Ele chega até a confessar seu amor, mas ela se contém. Como vinha faltando às aulas da faculdade, o pai proibiu-lhe de ir à ilha. No entanto, ele cai doente por vários dias. O pai resolve então atender a vontade de Augusto e ambos combinam ir juntos, no domingo próximo, à casa de D. Ana.

    O amor impossível e a mulher idealizada são frequentes na prosa romântica. Para resolver o impasse amoroso, costuma haver duas saídas: o final feliz ou o trágico. Em “A Moreninha”, o impedimento é superado quando, por coincidência, os personagens se conhecem, percebendo serem elas as mesmas personagens de sete anos antes. O resultado é o final feliz.

    Assim, o final do romance é considerado perfeitamente de acordo com o ideal amoroso romântico e as normas sociais, em virtude de não ter havido adultério ou traição em relação à “primeira esposa”. Resta apenas a Augusto pagar a aposta: que, considerando-se paga, temos o romance “A Moreninha”.

   Macedo vale-se da narração e da descrição, como recursos  expressivos convenientes ao desenvolvimento do processo  do  namoro  em  direção  do casamento e  como forma de registro  de costumes.  Os diálogos  são diretos , funcionais , como recurso para a caracterização dos personagens e progresso  da ação .

      O  romance “ A Moreninha “ é considerado o primeiro romance romântico brasileiro. Apresenta uma linguagem simples, um enredo que prende o leitor com algum suspense e um final feliz típico dessa fase do movimento do Romantismo. A obra remonta o cenário da alta sociedade carioca em meados do século XIX. Joaquim Manuel de Macedo ganhou notoriedade na corte carioca, pois a obra caiu no gosto do público.
 
Waldemar  Pedro  Antonio                                        
e-mail  :   [email protected]

 
BIBLIOGRAFIAS   CONSULTADAS  :
  BOLZANI ,  Margarida  Maria  Gomes  . “  Artigo  sobre  “ A Moreninha  “  de  Joaquim  Manuel  de  Macedo . Coleção Jabuti  , 2 ª.  edição , S.  Paulo ,  1970 .
VERÍSSIMO , José  . “  História  da  Literatura  Brasileira “ .  5ª. Ed.  Editora  José  Olympio , Rio  de  Janeiro , 1969 
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