Joaquim Manuel de Macedo nasceu em Itaboraí em 1820. Em 1844 formou-se em Medicina no Rio de Janeiro e, no mesmo ano, estreou na literatura com a publicação daquele que viria a ser seu romance mais conhecido, “A Moreninha “, que lhe deu fama e fortuna imediata. Essa obra marca o início da ficção do romantismo brasileiro.. É considerado o primeiro romance tipicamente brasileiro, pois retratou hábitos da juventude burguesa carioca, contemporânea à época de sua publicação. Um dos maiores méritos do autor foi a sua capacidade de percepção sobre o espírito detalhista e perspicaz que possuía , conseguindo , com muita competência quase de um pintor , retratar a vida exterior e aparente da sociedade brasileira da época . Seu enredo segue uma linha simplista , constituído de apenas uma ação central , o namoro entre Carolina e Augusto .
Do relacionamento da Moreninha com Augusto , aproveita-se o autor para apresentar toda uma gama de costumes e tradições tipicamente brasileiras . Do convívio de um fim-de-semana na fazenda da avó de Felipe , na ilha de Paquetá , nasce o amor da Moreninha e Augusto , cujas raízes já estavam vinculadas à sua infância e cuja realização é determinada por desígnios sobrenaturais que cada um possuía , fatos ao gosto das histórias românticas . Quanto aos seus personagens , todos são jovens adolescentes , pertencentes à classe média abastada , uns mais fúteis , mais vulgares , outros mais sensatos , entretanto todos bons , donos dos mais elevados sentimentos , capazes de nobres ações , sempre impulsionados , pela emoção , pelo sentimento .Quanto ao espaço onde se desenrola a trama , ocorre na Ilha de Paquetá , com uma paisagem típica tropical , afastada do mundo agitado das grandes cidades , onde os personagens podiam viver à vontade no seu mundo de fantasias e sonhos . A natureza está sempre presente no desenrolar do enredo ; partidária dos amantes , auxilia-os nas suas peripécias , facilita-lhes a fuga , impregna o ambiente de mistérios , como é o caso da gruta , do jardim , servindo de cenário às distrações dos jovens e o da praia e o recurso a que a Moreninha recorria em busca do conforto e tranquilidade , quando saudosa de Augusto . Em relação ao espaço social, é focalizado para mostrar os costumes, como as reuniões familiares , as festas .
O enredo de “A Moreninha” inicia-se com a ida de um grupo de amigos estudantes – Augusto, Fabrício e Leopoldo – a convite de Filipe, à casa de sua avó – D. Ana – residente na Ilha de Paquetá , onde passarão o dia de Sant’Ana e o fim de semana. Filipe aposta que os amigos irão se interessar por suas primas – Joaninha, Quinquina e suas amigas, Gabriela e Clementina - ou por Carolina, sua irmã. Namorador inconstante, Augusto é desafiado por Filipe e seus amigos que lhe propõem uma aposta: caso ele se apaixone por uma das moças, escreverá a história de sua derrota; se não se apaixonar, Filipe é quem deverá escrever sobre a vitória triunfal de seu amigo inconstante.
Ao chegar à ilha, Augusto conhece Carolina, por quem fica encantado, enquanto Fabrício o provoca, afirmando ser ele incapaz de amar seriamente. À noite, todos da casa resolvem caminhar pela ilha. Após andar brevemente com Carolina, Augusto junta-se à D. Ana, que o leva a uma gruta próxima, onde havia uma lendária fonte. Ele confidencia-lhe que, há sete anos, quando adolescente conhecera uma jovem na praia: os dois haviam ajudado um pobre velho que, agradecido, profetizou o casamento dos dois no futuro. Num gesto simbólico, o idoso casara-os, fazendo com que trocassem presentes: ele deu-lha um camafeu e ela, uma esmeralda. Trocara juras de amor eterno e de um casamento verdadeiro no futuro. Carolina, porém, a tudo escutava escondida.
Em troca da confidência, a avó de Filipe conta-lhe a história de uma índia que se apaixonara por um índio guerreiro, mas não fora correspondida. De tanto chorar, suas lágrimas deram origem àquela fonte. Ao beber dela, o guerreiro se apaixona pela índia e os dois viveram juntos para sempre.
No dia da festa de Sant’Ana, Augusto, como namorador que é, declara-se para as quatro moças da casa. Na manhã seguinte, recebe um convite anônimo para um encontro na gruta. Lá ele encontra as quatro moças, bebe da fonte, e passa adivinhar os segredos delas, fazendo parecer que era o poder da fonte. No entanto, ele não faz nada além de contar as peripécias que havia bisbilhotado da conversa das moças. Neste contexto aparece Carolina, que repete o mesmo gesto, passando a contar as verdades íntimas de Augusto, que ela também havia escutado no passeio à noite, na véspera do dia de Sant’Ana. Mas vai embora antes mesmo de Augusto tivesse tempo de declarar que era ela a quem amava.
De volta à cidade, não consegue esquecê-la. Passam a se encontrar todos os domingos. Ele chega até a confessar seu amor, mas ela se contém. Como vinha faltando às aulas da faculdade, o pai proibiu-lhe de ir à ilha. No entanto, ele cai doente por vários dias. O pai resolve então atender a vontade de Augusto e ambos combinam ir juntos, no domingo próximo, à casa de D. Ana.
O amor impossível e a mulher idealizada são frequentes na prosa romântica. Para resolver o impasse amoroso, costuma haver duas saídas: o final feliz ou o trágico. Em “A Moreninha”, o impedimento é superado quando, por coincidência, os personagens se conhecem, percebendo serem elas as mesmas personagens de sete anos antes. O resultado é o final feliz.
Assim, o final do romance é considerado perfeitamente de acordo com o ideal amoroso romântico e as normas sociais, em virtude de não ter havido adultério ou traição em relação à “primeira esposa”. Resta apenas a Augusto pagar a aposta: que, considerando-se paga, temos o romance “A Moreninha”.
Macedo vale-se da narração e da descrição, como recursos expressivos convenientes ao desenvolvimento do processo do namoro em direção do casamento e como forma de registro de costumes. Os diálogos são diretos , funcionais , como recurso para a caracterização dos personagens e progresso da ação .
O romance “ A Moreninha “ é considerado o primeiro romance romântico brasileiro. Apresenta uma linguagem simples, um enredo que prende o leitor com algum suspense e um final feliz típico dessa fase do movimento do Romantismo. A obra remonta o cenário da alta sociedade carioca em meados do século XIX. Joaquim Manuel de Macedo ganhou notoriedade na corte carioca, pois a obra caiu no gosto do público.
BIBLIOGRAFIAS CONSULTADAS : BOLZANI , Margarida Maria Gomes . “ Artigo sobre “ A Moreninha “ de Joaquim Manuel de Macedo . Coleção Jabuti , 2 ª. edição , S. Paulo , 1970 . VERÍSSIMO , José . “ História da Literatura Brasileira “ . 5ª. Ed. Editora José Olympio , Rio de Janeiro , 1969