O CANTINHO MUSICAL reserva este espaço para dois expoentes de nossa Música Popular Brasileira ; presenças ativas e criativas no belo Movimento Musical da Bossa Nova: BILLY BLANCO E TITO MADI .
Billy Blanco é o nome artístico de William Blanco de Abrunhosa Trindade. Billy pioneiro na transição entre o samba-canção e a Bossa Nova, cantor e compositor paraense, carioca de coração, tem sua obra reafirmada na memória dos que curtem uma boa música . Tem um estilo próprio, descrevendo os acontecimentos a sua volta, com humor ou no gênero exaltação, falando de amor e das desilusões; onde seu samba sincopado, que fugia da cadência vigente do estilo , passa a interessar aos cantores da época. A carreira de compositor deslanchou nos anos 50, quando suas músicas foram gravadas por Dick Farney, Os Cariocas e Dóris Monteiro . Na década de 60, Billy participou de festivais e espetáculos, nos quais começaram a vir a público seus sambas em estilo de crítica sócio-comportamental.
Seu primeiro sucesso foi Estatutos da Gafieira, na voz de Inesita Barroso e , posteriormente , estabelecendo grande aceitação na voz de Jorge Veiga . O samba é uma regra de diretrizes comportamentais que eram , na época , fiscalizadas com rigidez nos salões de baile , e eram punidos aqueles que transgredissem os “ ESTATUTOS DA GAFIEIRA “ [ “ / Moço / Olha o vexame / O ambiente exige respeito / Pelos estatutos / Da nossa gafieira / Dance a noite inteira / Mas dance direito / Aliás / Pelo artigo 120 / O distinto que fizer o seguinte: / Subir na parede / Dançar de pé pro ar / Debruçar-se na bebida sem querer pagar / Abusar da umbigada / De maneira folgazã / Prejudicando hoje / O bom crioulo de amanhã / Será distintamente censurado / Se balançar o corpo / Vai pra mão do delegado / Ta bem, moço? / Olha o vexame, moço! / ] .
Ainda compondo sambas cujo tema retrata um ambiente comum nas gafieira , tumulto nos bons momentos do baile , Billy cria uma crônica musical relatando uma situação em que há uma quebra da harmonia quando alguém tira para dança uma dama marcada , o que resulta em briga entre os cavalheiros envolvidos com a dançarina e para abafar a desordem , os sons de um trompete entram em ação com o “ PISTON DE GAFIEIRA “ . [ “ / Na gafieira segue o baile calmamente / Com muita gente dando volta no salão / Tudo vai bem, mas eis porém que de repente / Um pé subiu e alguém de cara foi ao chão / Não é que o Doca, um crioulo comportado / Ficou tarado quando viu a Dagmar / Toda soltinha dentro de um vestido saco / Tendo ao lado um cara fraco / E foi tirá-la pra dançar / O moço era faixa preta simplesmente / E fez o Doca rebolar sem bambolê / A porta fecha enquanto o duro vai não vai / Quem está fora não entra / Quem está dentro não sai / Mas a orquestra sempre toma providência / Tocando alto p'ra polícia não manjar / E nessa altura como parte da rotina / O piston tira a surdina e põe as coisas no lugar. / . “ ] .
Uma das preocupações sociais de Billy Blanco era com um tratamento desigual entre as pessoas de uma mesma sociedade , não respeitando , através de um enorme preconceito , a relação de igualdade que se deva ter no relacionamento entre as pessoas . Diante desse fato , cria um samba criticando profundamente aqueles que se acham superiores aos outros , expondo com muita clareza “ A BANCA DO DESTINO “ [ “ / Não fala com pobre, não dá mão a preto / Não carrega embrulho / Pra que tanta pose, doutor / Pra que esse orgulho / A bruxa que é cega esbarra na gente / E a vida estanca / O enfarte lhe pega, doutor / E acaba essa banca / A vaidade é assim, põe o bobo no alto / E retira a escada / Mas fica por perto esperando sentada / Mais cedo ou mais tarde ele acaba no chão / Mais alto o coqueiro, maior é o tombo do coco afinal / Todo mundo é igual quando a vida termina / Com terra em cima e na horizontal / . “ ] .
A moda na época era forjar situações que identificavam com a elite de Copacabana , demonstrando justamente aquilo que parecia ser mas não era . Billy aproveita esse gancho e compôs um samba criticando o falso bacana : “ MOCINHO BONITO “ . [ “ / Mocinho bonito / Perfeito improviso do falso grã-fino / No corpo é atleta / Mas no crânio é menino / Que além do ABC / Nada mais aprendeu / Queimado de sol / Cabelo assanhado / Com muito cuidado / Na pinta de conde / Se esconde um coitado / Um pobre farsante que a sorte esqueceu / Contando vantagem / Que vive de renda / E mora em palácio / Procura esquecer um barraco no Estácio / Lugar de origem que há pouco deixou / Mocinho bonito / Que é falso malandro de Copacabana / O mais que consegue é um vintão por semana / A mana do peito jamais lhe negou / . “ ] .
A próxima canção versa sobre as alegrias e tristezas da vida , resultantes de problemas que surgem no decorrer de cada caminhada , levando uma mensagem de consolo cheia de otimismo e compreensão diante de cada situação , mesclada com “ CANTO CHORADO “ . [ “ / O que dá pra rir dá pra chorar / Questão só de peso e medida / Problema de hora e lugar / Mas tudo são coisas da vida / O que dá pra rir dá pra chorar / No jogo se perde ou se ganha / Caminho que leva, que traz / Trazendo, alegria tamanha / Levando, levou minha paz /Tem gente que ri da desgraça / Duvido que ria da sua / Se alguém escorrega onde passa / Tem riso do povo na rua / Alegre é lugar de chegada / É triste com gente partindo / Tem sempre o adeus da amada / O riso chorado mais lindo / Eu posso cantar meu lamento / Também sei chorar de alegria / As velas no mar querem vento / No porto é melhor calmaria / Somente a palavra "sofrência" / Que em dicionário não tem / Mistura de dor, paciência / Que é riso e que é pranto também / Define o Nordeste que canta / O canto chorado da vida / Reclamam no Sul chuva tanta / Errou de lugar na caída / O que dá pra rir dá pra chorar .... / 2X / . “ ] .
Vez e hora de dedicar um espaço para TITO MADI . Chegou ao sucesso nacional nos anos 50, cantando composições suas de uma forma terna, suave, com uma afinação irrepreensível, sem trejeitos nem cacoetes , considerado como precursor da Bossa Nova, estilo que estouraria nacional e internacionalmente, orgulhando-se de preservar, até os dias atuais, um ritmo que ajudou a criar, o samba canção. A profundeza temática de suas belas canções está até hoje perpetuada , com muita harmonia e maravilhosas melodias , na memória dos fanáticos por belas composições . Diante de tal fato , desfilaremos algumas pérolas musicais desse expoente de nosso cancioneiro .
Como primeira exibição , apresentaremos uma bela canção que fez grande sucesso . A letra versa sobre o abandono de um componente da relação amorosa , deixando a pessoa amada em enorme solidão e um grande sentimento saudoso : “ CHOVE LÁ FORA “ . [ “ / A noite está tão fria / Chove lá fora / E essa saudade enjoada / Não vai embora / Queria compreender porque partiste / Queria que soubesses como estou triste / E a chuva continua / Mais forte ainda / Só deus pode entender como é infinda / A dor de não saber / Saber lá fora onde estás, como estás / Com quem estás agora / . “ ] .
Em parceria com Ribamar , Tito Madi compôs uma linda canção que descreve um enorme desejo das pessoas amadas que , depois de uma triste separação , tentam reaproximação para que volte um relacionamento em um clima amoroso com “ CARINHO E AMOR “ . [ “ / Se você quer voltar / Você quem manda amor / Nem tudo está perdido / Em nossa vida / Se eu choro por você / Você também por mim / Por que sofrer assim / Por que chorar assim / Se quer me devolver / Toda a alegria / Esqueça este orgulho / Que nos mata / E volte, por favor / Venha correndo / Que estarei para lhe dar / Carinho e muito amor / . “ ] .
O caminhar sublime de uma musa da Zona Sul do Rio de Janeiro inspirou Tito Madi descrever em uma bela canção os movimentos alucinantes de sua fonte de inspiração no cadenciado “ BALANÇO ZONA SUL “ . [ “ / Balança toda pra andar / Balança até pra falar / Balança tanto que já balançou / Meu coração / Balança mesmo que é bom / Do Leme até o Leblon / E vai juntando um punhado de gente / Que sofre com seu andar / Mas ande bem devagar / Que é pra não se cansar / Vai caminhando / Balam balançando sem parar / Balance os cabelos seus / Balance e vai mas não vai / E se cair vai caindo caindo / Nos braços meus / “ . ] .
A preferência em uma triagem feita pelo CANTINHO MUSICAL , dentre excelentes compositores brasileiros , a que mais houve identidade em seus estilos foi por BILLY BLANCO e TITO MADI pelas características coincidentes em suas expressões musicais : na harmonia , na temática , na coesão e na clareza em suas poesias , na simplicidade rítmica e em suas manifestações românticas , sendo observado que o acervo musical da dupla apresenta caracteres exigidos pelos ouvintes que curtem boas canções .
“ UM BOM ELIXIR PARA OS OUVIDOS DOS ADEPTOS DA BOA MÚSICA TORNA A ALMA MAIS PURA E CRISTALINA . OS FRASCOS EM QUE ESTÃO CONTIDAS AS CANÇÕES DE BILLY BLACO E TITO MADI SÃO COMPOSTOS DE MIRACULOSOS LÍQUIDOS MUSICAIS “