Bernardo Guimarães (1825-1884) foi um romancista e poeta brasileiro . "A Escrava Isaura" foi o seu romance mais popular. Estreou como poeta com "Cantos da Solidão", mas foi como romancista que seu nome ganhou destaque. Foi considerado o criador do romance sertanejo e regional, ambientado em Minas Gerais e Goiás.
Escrito em plena campanha abolicionista (1875), o livro conta as desventuras de Isaura, escrava branca e educada, de caráter nobre, vítima de um senhor devasso e cruel.
O romance “ A Escrava Isaura “ foi um grande sucesso editorial e permitiu que Bernardo Guimarães se tornasse um dos mais populares romancistas de sua época no Brasil. O autor pretende, nesta obra, fazer um libelo anti-escravagista e libertário e, talvez, por isso, o romance exceda em idealização romântica, a fim de conquistar a imaginação popular perante as situações intoleráveis do cativeiro.
Baseado na história de dois amores – a escrava Isaura reclamada por seu senhor , Leôncio , ou simplesmente amada por um rapaz, Álvaro , a trama se resume nesse “ amor de perdição “ e “ amor de salvação “ , com a idéia bem romântica de defesa da liberdade individual e da colocação do sentimento além e até em oposições às convenções legais .
O romance acontece no município de Campos de Goitacases, localizado no Rio de Janeiro, e também na cidade de Recife. Isaura era a filha de uma escrava muito bonita, que por não ter se sujeitado aos desejos sórdidos do comendador Almeida, o dono da casa, acabou sofrendo as mais terríveis privações. Isaura era fruto do relacionamento de sua mãe com seu feitor, chamado de Miguel, um homem bom e que não se sujeitava aos mandos e desmandos de Almeida. Mas, apesar disso, foi criada como filha pela família que servia. A mulher do comendador queria libertar Isaura, mas nunca chegava a fazer pelo desejo de ter sempre companhia por perto.
Quando o comendador finalmente se aposenta, seu filho Leôncio passa a tomar conta da fazenda. Este por sua vez, herdara do pai todos os maus instintos e toda a sua devassidão. Apesar de ter ido morar na fazenda, com sua mulher Malvina e seu cunhado, Henrique, Leôncio logo se viu cego de amor pela jovem escrava branca.
A mãe de Leôncio morre sem antes deixar seu desejo de libertar Isaura em testamento. Percebendo as intenções de seu cunhado para com Isaura, Henrique se oferece para ser o amante da escrava branca, em troca de sua liberdade. O jardineiro da fazenda, considerado um ser humano desprezível e disforme também se oferece como amante. Mas, Isaura, simplesmente não dá a mínima para ambas as propostas e revela seu desejo de se casar por amor. Ao perceber o interesse de seu marido, Malvina sentencia: ou Isaura ou eu.
Neste contexto, Miguel, pai de Isaura , chega com dinheiro suficiente para comprar a liberdade dela, conforme o comendador havia prometido. Mas, Leôncio não aceita o dinheiro, muito menos libertar a jovem. Malvina continua a pressionar o marido para que ele a liberta, mas diante de todos os adiamentos e desculpas de Leôncio, decide voltar para a casa de seu pai. Era o que faltava para que ele passasse a investir de maneira indecente em Isaura, que resistia, mas era constantemente ameaçada com torturas.
Miguel então decide fugir para o Norte com Isaura e essa, muda seu nome para Elvira e seu pai, para Anselmo. Quando conhece Isaura, Álvaro fica impressionado com tanta beleza. Por diversas vezes, a jovem tentou contar ao amado que era uma escrava fugida, mas sempre acabava perdendo a coragem.
Ao irem a um baile, Isaura se destaca no meio de todas as mulheres, por saber tocar muito bem piano e também pela sua beleza. Martinho, um jovem estudante, acaba reconhecendo-a e provoca um escândalo, fazendo com que Isaura confessasse na frente de toda a sociedade que era uma escrava fugida. Sem conseguir levá-la, já que Álvaro defendeu a jovem, Martinho informa através de uma carta para Leôncio, que havia localizado a sua escrava.
Uma intensa briga se desenrola quando Leôncio aparece de surpresa, exigindo levar a jovem escrava embora. Ele ainda tinha em mãos um mandado de prisão contra Miguel. Surpreendentemente, Isaura se entrega ao senhor.
De volta à fazenda, Isaura fica na mais completa reclusão. Seu senhor, iria precisar de dinheiro, por isso, volta com Malvina. Na cadeia, Miguel tenta persuadir sua filha para que se case com o jardineiro da fazenda, Belchior, em troca de sua liberdade e da filha.
Sem mais esperança e forças para lutar, a jovem escrava aceita o desafio. No dia do casamento, Álvaro chega de surpresa à fazenda e informa que havia comprado todos os créditos de Leôncio, que a essa altura estava falido, e se torna dono de tudo, inclusive a fazenda e todos os escravos. Isaura nem acredita em sua sorte. Leôncio jura que nunca irá implorar a sua generosidade para abrandar a dívida. Ele se ausenta da sala e se mata.
Circundando a realidade fictícia surgem os costumes do Brasil da época , numa visão mesclada de nacionalismo com exaltação ao povo, através dos encantos da escrava mulata , a “ perfeita brasileira “. Em crítica consciente dos fatos e baseado na ideologia , ressalta a futilidade , a vaidade mesquinha e hipócrita das senhoras de sociedade , movida pelo amor-próprio , pela curiosidade , inveja e vingança . É a acusação direta ao proprietário de terra explorador dos fracos , que corrompe - pela sanha do lucro e poder do dinheiro - a justiça e a autoridade .
Ao lado da sociedade de Recife ou da usurpação de direitos individuais pelo fazendeiro Leôncio, há valorização dos humildes , dos escravos com suas intrigas , seus deveres , mas com uma ingenuidade santa e seus suplícios . Numa classe intermediária , sem a pompa do ricaço nem a miséria do escravo , Isaura e seu pai , no Recife , representam a classe média , simples, num ritmo pacífico de vida acomodada , com os costumes típicos de uma época em que o tratamento por “ tu “ , entre os namorados , era já um sinal de intimidade e compromisso estabelecido entre eles .
“ A Escrava Isaura “ é a história de um romance puro , sincero , tendente a concretizar-se pela força sobre-humana que envolve o ser amado e impulsiona-o à conquista do que lhe é negado , sempre acompanhando a fatalidade do seu sentimento com a fatalidade da luta e da vitória .