05/01/2017 às 10h08min - Atualizada em 05/01/2017 às 10h08min

CANTINHO GRAMATICAL nº 31

WALDEMAR PEDRO ANTÔNIO
                Neste  artigo  , o  Cantinho  Gramatical   apresentará  todas  as  noções  da  língua  que  implicam  significado  das  palavras .  A  ciência  que  investiga  este  fato  chama-se   “  SEMÂNTICA  “ .  Para elucidação  de  todo  o  processo  que  envolve  a  significação  na  língua ,  desfilaremos  conceitos  com  seu  respectivos  exemplos  para  facilitar  a  compreensão  de  cada  tópico  estudado .

SEMÂNTICA

             A língua é um sistema organizado de signos. Cada signo apresenta um aspecto duplo: um perceptível, audível: o  significante ; o outro, contido no interior, produto dele: o significado.
            Saussure prefere o termo  SIGNO ( com seu duplo aspecto de significante e significado ) ao termo SÍMBOLO , porque, no caso do signo, relação entre significante e significado é contratual. Diferentemente do que se passa com o signo, SÍMBOLO comporta uma relação natural e motivada entre o significante e significado.

         O SIGNO é um todo composto pelo significante e pelo significado. Entre estes dois elementos existe uma relação de significação.
         A significação é o ponto de partida e o ponto de chegada de toda atividade linguística, pelo que é incontornável o lugar nuclear da Semântica na gramática das línguas naturais
           Para Mattoso Câmara Jr., Semântica é o estudo da significação das formas lingüísticas. Em regra, assim se focaliza apenas a significação externa das palavras concentrada no radical.

         A semântica pode ser descritiva (sincrônica) e histórica (diacrônica).

         A semântica descritiva (sincrônica =  análise  dentro  do  tempo  atual  ) estuda a significação atual das palavras de uma língua. Leva-se em conta: a POLISSEMIA de cada palavra; os CAMPOS SEMÂNTICOS, em que cada palavra se associa com outras, na base de significações correlatas dentro da cultura a que a língua serve; a HOMONÍMIA, propriedade de duas ou mais formas, inteiramente distintas pela significação ou função, terem a mesma estrutura fonológica; a ANTONÍMIA, propriedade de duas palavras terem significações opostas; a SINONÍMIA, propriedade de dois ou mais termos poderem ser empregados um pelo outro sem prejuízo do que se pretende comunicar; EXPRESSIVIDADE, capacidade que tem a linguagem de emocionar e sugestionar; CONOTAÇÃO, situada na área da estilística, corresponde à capacidade da palavra de funcionar para uma manifestação psíquica, um apelo ou uma significação mítica; DENOTAÇÃO, parte da significação linguística que diz respeito, na linguagem, à representação compreensiva em face do mundo exterior objetivo, isto é, a sua significação prática, objetiva; FIGURAS DE LINGUAGEM, significação figurada em cada palavra, aspectos que assume a linguagem para fim expressivo afastando-se do valor lingüístico normalmente aceito; VISÃO CÓSMICA, que decorre dos múltiplos campos semânticos, existentes em função da língua e da cultura.

   A semântica histórica (diacrônica  =  análise fora  do  tempo  atual )  estuda as mudanças de significação que sofrem as palavras no decorrer dos tempos. Procura-se depreender princípios gerais que orientam intuitivamente essas mudanças. Há causas de natureza diversa para as mudanças de significação ou evolução semântica. Podemos enumerar as seguintes: (a) histórico-cultural, quando a coisa nomeada muda de natureza e a denominação permanece (ex.: pena, “para escrever”, que é hoje uma peça de metal e era antigamente uma pena de ganso); (b) psicológica, quando a significação muda em virtude da mudança de conceituação (ex.: vilão, “camponês”, que designa hoje, mais comumente, “indigno”, em virtude da conceituação de “camponês”, do ponto de vista dos nobres);  (c) lógica, quando a significação de uma palavra se transfere a outra por força de associações objetivas ou subjetivas (exemplos de metonímia e metáfora); (d) formal, quando a forma da palavra acarreta uma nova significação (ex. emérito, “notável, por causa da forma da palavra , que acarreta uma nova significação (ex.: emérito, “notável”, por causa da forma da palavra, que faz lembrar mérito); (e) sintagmática, quando as significações das palavras se contaminam em virtude de figurarem comumente lado a lado em certas expressões ou locuções (ex.: o brasileirismo LEVADO, “travesso”, decorrente da expressão levado da breca, “arrebatado por uma fúria demoníaca).

        Sendo a semântica a ciência que estuda a significação, cabe aqui destacar os diferenciais em relação ao significado das palavras. Toda palavra é, por sua própria natureza, polissêmica, isto é, apresenta vários sentidos. Mesmo sob aparência de neutralidade, surpreendem-se as várias faces que ela contém. A consulta aos dicionários, neste caso, nem sempre é muito eficaz, pois a mesma palavra pode assumir significações diferentes em contextos diversos. Por exemplo:
  1.   A grade do jardim é toda de FERRO.
A palavra ferro tem o sentido que lhe atribui o dicionário (metal). É o sentido denotativo, referencial ou sentido próprio.
  1. Hércules tinha uma força de FERRO.
A palavra ferro apresenta uma relação de sentido entre a firmeza, a rigidez da força e do ferro. É o sentido conotativo, figurado.
  1.   O FERRO assassino atravessou o peito do inocente.
A palavra ferro significa arma (faca, espada, punhal). Portanto, nas frases 2 e 3, a palavra FERRO expressa sentido figurado ou conotativo, que extrapola o significado puramente referencial, embora conservando, de forma implícita, algumas relações de sentido.
     Na linguagem figurada, a palavra carrega forte carga emocional, daí a diversidade de significações. Os novos significados que lhe são atribuídos apresentam natureza afetiva, isto é, subjetiva.
  Concluindo:
            DENOTAÇÃO = sentido próprio ou referencial da palavra; interpretação única com significado objetivo, prático.
            CONOTAÇÃO = sentido figurado ou metafórico; interpretação afetiva ou subjetiva, significação mítica.
                Diante dos conceitos de denotação e conotação das palavras, demonstre as relações significativas explícitas no poema de Carlos Drummond de Andrade.
                                  “Chega mais perto e contempla as palavras.
                        Cada uma
                        tem mil faces secretas sob a face neutra
                        e te pergunta, sem interesse pela resposta,
                        pobre ou terrível, que lhe deres:
                        trouxeste a chave?”

            Após concluir as “mil faces” contidas na palavra, pode-se afirmar que a metáfora é a fonte suprema de expressividade na linguagem. De certa forma, toda linguagem figurada, no fundo, é metafórica, pois metáfora significa “mudança de significado”, e representa a figura de linguagem que consiste na transferência de um termo para um âmbito de significação que não é o seu.
            É a metáfora a figura de linguagem mais comumente usada; difere da comparação, porquanto na primeira há uma transferência de significação de um termo para outro e na comparação ambos os termos mantêm suas qualidades comparáveis.
            Quando se diz: “seus olhos são como esmeraldas”, há uma comparação, isto é, os dois termos possuem qualidades comuns, através do nexo comparativo (COMO) expresso no enunciado, logo olhos e esmeraldas apresentam qualidades comuns: A = B, então temos a COMPARAÇÃO.

          Já quando se expressa: “seus olhos são esmeraldas”, há uma comparação ideológica e não contextual, observe o apagamento do nexo comparativo (COMO), neste caso trata-se de uma METÁFORA, porque transfere as qualidades: A é B.
           Na metáfora, o elemento A (olhos) “transforma-se” em B (esmeraldas), enquanto na comparação, A (olhos) continua A e B (esmeraldas) continua B, apresentando apenas elementos semelhantes.

            Tanto na COMPARAÇÃO como na METÁFORA há uma semelhança explícita ou implícita dos termos comparados, apresentando relações semânticas em seus significados, motivadas por traços comuns
            A – olhos: cor verde, brilho, “preciosos”;
B – esmeradas: cor verde, brilho, preciosas.

            A “transformação” operada pela metáfora produz grande efeito estético e emocional.
            É a distinção entre o sentido nocional e sentido expressivo-evocativo que está na base da oposição que tradicionalmente se faz entre a DENOTAÇÃO de uma palavra e as suas CONOTAÇÕES. Em termos esquemáticos, a significação integral de uma forma resultaria da conjuração do sentido denotativo (nocional) com o conotativo (expressivo-evocativo).

             É tradicional apontar-se como amostra privilegiada da investigação semântica a descrição do sentido das palavras, tal como é feita nos mais diferentes tipos de dicionários, mas nunca o estudo do sentido das construções gramaticais.

             Desenvolveremos com base no sentido das construções gramaticais temas semânticos mais tradicionais: trataremos, entre outras, de noções como a SINONÍMIA, a ANTONÍMIA, a HOMONÍMIA ou duplicidade de sentido. Procuraremos associar essas noções, que dizem respeito a palavras, com outras como as de paráfrase, contradição, conseqüência e ambigüidade, que dizem respeito a frases completas; por outro lado, mostraremos que, além de descrever relações de sentido entre as palavras, servem com freqüência para reconhecer relações de sentido entre construções gramaticais ou mesmo efeitos de sentido originados no contexto.

      Inicialmente, desenvolveremos conceitos e praticidades de SINONÍMIA e PARÁFRASE.
  1. Sinonímia: identidade de sentido que os locutores reconhecem entre duas palavras ou entre duas construções. À identidade de sentido entre duas palavras dá-se o nome de SINONÍMIA LEXICAL e entre duas construções, SINONÍMIA ESTRUTURAL.
 
  1. Paráfrase: equivalência de sentido, que os locutores estabelecem entre orações diferentes. (Para os locutores que estejam dispostos a considerar o caráter mais ou menos formal da expressão “Pedro faleceu”, “Pedro morreu” e “Pedro bateu as botas” são paráfrases entre si.
                Consideremos as seguintes orações:
  1. Pegue o pano e seque a louça.    (2)  Pegue o pano e enxugue a louça.
 
  1. É difícil encontrar esse livro.    (4)  Este livro é difícil de encontrar.
 
                 Intuitivamente, essas orações se reúnem aos pares: (1) + (2), (3) + (4). O que nos autoriza, enquanto locutores, a efetuar esses agrupamentos é a intuição de que as orações de um mesmo par são – num sentido que teremos de esclarecer – equivalentes quanto ao seu significado: utilizadas num grande número de situações práticas, elas “dizem a mesma coisa”. Essa relação tem sido chamada recentemente de paráfrase.

       (1) e (2) são paráfrases porque empregam as palavras sinônimas SECAR e ENXUGAR; (3) e (4) são paráfrases porque empregam as mesmas palavras e porque as construções sintáticas, embora diferentes, preservam as mesmas relações de participação dos objetos no processo descritivo.

         A gramática tradicional define sinônimos como palavras com o mesmo significado. Na prática, porém, comprova-se a inexistência de palavras com significados idênticos; o que pode ocorrer é duas ou mais palavras apresentarem significados mais ou menos equivalentes.

        Segundo Ullmann,

         “Só se podem considerar como sinônimas as palavras que se podem substituir em qualquer contexto sem a mais leve mudança ou no sentido cognitivo ou afetivo.”(Apud Lyons, 1979:476)
          Concluímos que cada contexto exige a palavra adequada e, em determinados casos, torna-se impossível qualquer substituição. Então, se a significação de uma palavra é o conjunto de contextos lingüísticos em que pode ocorrer, é, portanto, impossível encontrar dois sinônimos perfeitos.

            Caso  se dispõe de várias palavras para a expressão da mesma ideia, a escolha deve recair sobre aquela que melhor se adapte ao contexto, a que seja mais apropriada ao tom geral do conjunto.


SINONÍMIA LEXICAL

          Reservamos o termo sinonímia para caracterizar pares de palavras como SECAR e ENXUGAR, e que falamos a propósito das várias frases em paráfrase. A sinonímia lexical – uma relação estabelecida entre palavras – aparece assim como um dos fatores possíveis pelos quais duas frases se revelam como paráfrases.

          Sabemos que sinonímia é a identidade de significação, entretanto havemos de considerar algumas ressalvas a respeito do conceito de sinônimo:

(a)Para que duas palavras sejam sinônimas, não basta que tenham a mesma extensão. Além da identidade de extensão, a sinonímia é identidade de sentido, como dizem os semanticistas, de intensão (grafada com S).
(b)Para que duas palavras sejam sinônimas é preciso que façam, em todos os seus empregos, a mesma contribuição ao sentido da frase.
  1. Duas palavras são sinônimas sempre que podem ser substituídas no contexto de qualquer frase sem que a frase passe de falsa a verdadeira, ou vice-versa.
  2. A sinonímia de palavras depende do contexto em que são empregadas.
  3. Palavras presumivelmente sinônimas sofrem sempre algum tipo de especialização, de sentido ou de uso.
                            
SINONÍMIA ESTRUTURAL

         Dada a dificuldade de fornecer uma definição sempre satisfatória de sinonímia, compreende-se que muitos autores, ao falar de paráfrase, prefiram propor exemplos como:

     (3) É difícil encontrar este livro
     (4) este livro é difícil de encontrar.

          Ou seja, exemplos de paráfrases com fundamento estrutural. A chamada “sinonímia estrutural” sofre problemas iguais aos da “sinonímia lexical”, onde a escolha entre duas frases sinônimas por razões estruturais nunca é completamente inocente. Assim, ao passar da voz ativa para a voz passiva, fica alterada a atribuição aos vários participantes dos papéis. “Pedro matou João” é uma frase a respeito de Pedro, ou a respeito do crime cometido por Pedro; “João foi morto por Pedro” é uma frase a respeito de João, ou a respeito do crime de que João foi vítima.

         A construção dos comparativos de superioridade e inferioridade, formuladas nos dois sentidos: “Pedro é mais esperto do que José” / “ José é menos esperto do que Pedro”, embora veiculem o mesmo “conteúdo cognitivo”, são habitualmente empregados para argumentar em sentidos contrários: “Pedro é mais esperto do que José” orienta o discurso no sentido da esperteza de Pedro; “José é menos esperto do que Pedro” orienta o discurso no sentido da inabilidade de José.

          Talvez o melhor exemplo da precariedade da chamada “sinonímia estrutural” é o fato de que frases como: (a) “Não fui eu que comprei este descascador de batatas do camelô; foi ele que me vendeu”; (b) “Não foi Napoleão que cometeu o mesmo erro de Hitler; foi Hitler que cometeu o mesmo erro que Napoleão” seriam normalmente tomadas como paráfrases uma da outra são declaradamente distintas pelo uso do NÃO: assim, orienta-se o ouvinte na busca de oposições ao invés de insistir na identidade de valores.


CAMPOS SEMÂNTICOS

           Um campo semântico é um método de estruturação do vocabulário em que se percebe a interdependência das unidades léxicas (palavras). Assim, o sentido não é propriedade da palavra tomada individualmente. O emprego de uma palavra é regido pela presença, na língua, de outras cujas funções semânticas se referem, de uma ou várias maneiras, à mesma área de ambiência situacional ou cultura. Como exemplo, podemos citar as unidades léxicas que pertencem ao campo semântico de MORADIA: casa, apartamento, barraco, chalé, choupana, mansão, cabana etc. Ou, ainda, de AGASALHO: paletó, suéter, pulôver, japona etc.

            Não se devem confundir campos semânticos com campos léxicos. Campos léxicos são famílias de palavras ou palavras cognatas, isto é, palavras que constituem um grupo de derivação. Exemplos: falar, falador, falatório, fábula, confabular.
           Concluímos que os campos semânticos constituem “famílias ideológicas”, enquanto os campos léxicos constituem famílias etimológicas.

 ANTONÍMIA

            Antonímia é a propriedade de duas palavras terem significações opostas , tornando-se   antônimos .
            A  antonímia se apresenta sobre três aspectos diferentes:  (1)  palavras de radicais diferentes; ex.: bom : mau  ;   (2) palavras de uma mesma raiz, numa das quais um prefixo negativo cria oposição com a raiz da outra, negando-lhe o semantema; ex.;  feliz: infeliz  ; (3) palavras de mesma raiz, que se opõem pelos prefixos de significação contrária ; ex.: excluir : incluir ,  regredir : progredir.

           Note-se que uma frase negativa com um dos antônimos não equivale, em regra, a uma frase afirmativa com o outro antônimo, porque a primeira pode exprimir a falta de uma propriedade sem a presença da propriedade oposta ;  ex.: “Pedro não é gordo” não significa, necessariamente, que Pedro seja “magro”.  Em certos casos, a frase negativa corresponde a uma atenuação da frase afirmativa com o outro antônimo;  ex.: “Pedro não está bem.”  ( confronte :  “Pedro está mal.” )

( Mattoso Jr. – Dicionário de Filologia e Gramática  ) 

HOMONÍNIA   -    POLISSEMIA

          Um problema sempre recorrente em semântica é o da delimitação entre polissemia e homonímia. Assim acontece porque essa delimitação pressupõe uma tomada de posição relativamente à natureza da significação.

           Em caso de  HOMONÍMIA  estamos perante unidades semântico-referencialmente distintas. Há uma relação entre unidades com identidade fônica e gráfica mas sem nenhuma relação cognitiva e semântica entre os seus significados. Os seguintes exemplos ilustram esta situação.

                 CANTO  ( de uma sala  )   e      CANTO  ( aula de canto vocal  )
                 VELA  ( de barco )             e     VELA   ( de cera )

           A descrição linguística tem de saber distinguir entre a polissemia de uma forma  e a homonímia de duas ou mais formas. Há para isso dois critérios :  (1) diacrônico, que considera homônimas apenas as formas convergentes da gramática histórica; ex.: SÃO  ( do latim sunt, sanu, sanctu ) ;   (2)  sincrônico, que considera homônimas as formas fonologicamente iguais, cujas significações não se consegue associar num campo semântico definido, o que nem sempre é conseqüência de se tratar de formas convergentes; ex.: CABO, “acidente geográfico”  -   CABO , “posto militar” ( do latim  caput ).

          Em gramática gerativa, os homônimos sintáticos são frases de superfície que podem corresponder a duas estruturas profundas diferentes. A homonímia sintática ( também chamada de homonímia estrutural ) corresponde à  AMBIGUIDADE.

      Exemplo de homonímia  estrutural:  -  o medo dos inimigos, isto é, o medo que nós temos dos inimigos ;   e  o  medo dos inimigos, ou seja, o medo que os inimigos têm de nós.

       POLISSEMIA é a relação de variação semântica de uma unidade lexical em que as variantes de conteúdo podem estar unidas por uma relação de extensão ou especialização semântica, de transformação semântica figural metonímica e/ou metafórica. Considera-se polissemia como unidades lexicais que mantêm, no mínimo, uma relação sêmica.

     COROA : símbolo da realeza  ;   COROA   de montanha   ;  COROA  de flores, conservam uma relação sêmica através do sema de CIRCULARIDADE.

     CABO – “acidente geográfico”    ;  CABO de vassoura  têm como sema comum extremidade, logo uma relação sêmica.
           Em resumo,  homonímia  e  polissemia   são fenômenos lingüísticos que apresentam palavras com a mesma forma e diferentes significados. A distinção se faz porque na polissemia há apenas um significante, um étimo, para vários significados  ;  na  homonímia, os significantes podem coincidir na forma, porém a origem ( etimologia ) é diferente, como no caso de  MANGA ( vestuário  ) e  MANGA  ( fruta  ).

         Então concluímos que, se a língua é por excelência  POLISSÊMICA , toda  HOMONÍMIA   é uma  POLISSEMIA,   porém nem toda   polissemia   é uma   homonímia.


AMBIGUIDADE

       Os fenômenos polissêmicos acarretam, em alguns contextos, uma “duplicidade de sentido”  a que chamamos em semântica,  AMBIGUIDADE.  É a propriedade de certas frases realizadas que apresentam vários sentidos. A ambiguidade pode ser do léxico, quando certos morfemas léxicos têm vários sentidos. Assim na frase: “Ele estava em minha companhia.”   Há pelo menos dois sentidos, porque  companhia  , no caso, pode ter dois sentidos, o de empresa, ou de uma pessoa ( ele estava comigo );  fala-se então de  AMBIGUIDADE  LEXICAL.

    A  ambiguidade   pode , também, advir do fato de que a frase tenha uma estrutura sintática suscetível de várias interpretações. Assim, na frase  “O magistrado julga as crianças culpadas.”  , há duas interpretações: O magistrado julga que as crianças são culpadas, ou  O magistrado julga as crianças que são culpadas ;  fala-se  então  de AMBIGUIDADE  SINTÁTICA.  As  ambigüidades  sintáticas  devem-se ao fato de que a mesma estrutura de superfície sai de duas ( ou mais de duas ) estruturas profundas diferentes. Assim,  “Jorge ama Rosa tanto quanto João.”  pode corresponder a Jorge ama Rosa tanto quanto João ama Rosa   ou  pode corresponder a  Jorge ama Rosa tanto quanto ele ama João.  Do mesmo modo,  “Eles se olham.”   É sintaticamente ambíguo, podendo ser a frase de estrutura profunda tanto   “Eles se olham.” (um ao outro )    ou     “Eles se olham.”
( cada um a si mesmo, num espelho) .

      Ambiguidades como a que acabamos de exemplificar ( ambiguidades  sintáticas  )  combinam-se  às  vezes  com  ambiguidades  de  natureza homonímica     (ambiguidades lexicais  ).  É o que acontece em  :

                 “Uma louca leva o guarda.”   (a)  uma pessoa fora do juízo ( = louca ) carrega  ( = leva )
                                                             o guarda.
                                                       (b)   uma multidão  (= leva )  louca o vigia  ( = guarda,
                                                             verbo guardar ).

HIPONÍMIA  E  HIPERONÍMIA

          O termo  HIPONÍMIA  designa uma relação de inclusão aplicada não à referência, mas ao significado das unidades lexicais em questão. Como exemplo, podemos citar uma relação de sentido que se estabelece entre um termo específico e um  termo mais abrangente. GATO   é   hipônimo   de   FELINO    e   FELINO    é    hipônimo    de   MAMÍFERO.

Consideremos agora um conjunto e  expressões :

             ( a )  Um sargento da guarda rodoviária nos pediu os documentos do Fiat.
             ( b )   Um policial nos pediu os documentos do carro.

           É  possível estabelecer relações de significação entre o par desse conjunto. O falante que afirma ( a )  aceita necessariamente a verdade de  ( b )  .  Tal relação tem sido denominada de  ACARRETAMENTO .  O acarretamento entre  ( a )  e  ( b )  resulta da relação existente entre  “um sargento da guarda rodoviária”  e  “um policial” ; e entre  “Fiat”  e  “carro”  , relação que a semântica moderna denominou de  HIPONÍMIA . Concluímos, então, que a relação  hiponímia  é aquela que intercorre entre expressões com sentido mais específico e expressões genéricas, por exemplo, entre geladeira, liquidificador, batedeira de bolo, ferro elétrico, etc. e eletrodoméstico ; é a relação que intercorre entre pardal e passarinho, e que verbalizamos dizendo que  “todo pardal é um passarinho, mas nem todo passarinho é um pardal.”  ( ILARI, Rodolfo – Semântica )

            HIPERONÍMIA   é o termo cuja significação inclui o sentido ( ou os sentidos ) de um ou de diversos outros termos chamado  hipônimos.  O sentido do nome da parte de um todo é  hipônimo  do sentido do todo que é o seu  HIPERÔNIMOAssim  ANIMAL  é o hiperônimo  de cão, gato, burro, etc.


 PRESSUPOSIÇÃO   E   IMPLICATURA

          Consideremos uma proposição : (1)  “Ana lamentou ter recusado o convite.”  ,  e sua negação    (2)  “Ana não lamentou ter recusado o convite.” . Tanto  (1) como a sua negação , (2) , implicam a verdade da seguinte proposição :  (3) Ana recusou o convite.” . Diz-se que as proposições expressas por  (1)  (2)  pressupõem a proposição  (3) ou, mais simplesmente, que  (3)  exprime uma pressuposição  de  (1)  e  (2) .

         Outra relação de sentido que se pode  estabelecer entre orações é exemplificada por :
  1. Joana parou de fumar.
  2. Joana fumava, no passado.
  3. Joana não fuma, atualmente.
            As orações  (b)  e  (c)   verbalizam separadamente duas informações que aparecem juntas em  (a)   e representam duas situações que são referidas respectivamente a um momento passado  (Joana fumava)  e ao presente  ( Joana não fuma ) . Não há dúvida de que esse desdobramento se vincula à presença em  (a)  do verbo  parar  de  : é, por assim dizer, o verbo  parar de , utilizado como auxiliar junto a  fumar  , que nos leva a distinguir um momento passado em que Joana fumava e um momento presente em que isso não ocorre. Concluímos  que  PRESSUPOSIÇÃO  é o conteúdo, sistematicamente associado ao sentido de uma oração, tal que a oração só pode ser verdadeira ou falsa se o conteúdo em questão for reconhecido como verdadeiro. (“Joana parou de fumar.”  veicula a pressuposição de que Joana fumava no passado ; de fato,  “Joana parou de fumar.”  não seria nem verdadeira nem falsa se Joana nunca fumou ) .

          Quando lidamos com uma informação que não foi dita, mas tudo que é dito nos leva a identificá-la, estamos diante de algo subentendido ou  IMPLÍCITO.

            A compreensão de implícitos é essencial para garantir um bom nível de leitura. Em várias ocasiões, aquilo que não é dito, mas apenas sugerido, importa muito mais do que aquilo que é dito abertamente. A incapacidade de compreensão se implícitos faz com que  o leitor fique preso no nível literal do enunciado, aquele em que as palavras valem apenas pelo que são, não pelo que sugerem ou podem dar a entender.

           A teoria das implicitações assenta numa distinção fundamental: a distinção entre dizer e implicitar, entre o dito e o implicitado  ( ou entre o dito e a implicatura ) . Observamos que um falante, para além daquilo que expressamente diz, pode explorar o princípio de cooperação para – por meio de uma deliberada, mas apenas aparente infração – introduzir implicitações.

          A   IMPLICATURA  é sentido derivado, que se atribui a um enunciado a partir da constatação de que seu sentido literal seria relevante na situação.

        Exemplificando : a afirmação  “O Geraldo é filho do patrão.”  pode significar  “O Geraldo  não tem função nenhuma, o Geraldo não faz nada e nem precisa.”  Em resposta  à pergunta  : “Qual a função do Geraldo na firma ? “
 
Waldemar   Pedro   Antonio                            e-mail :    [email protected]
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