Quando li o cardápio da primeira refeição do ex-governador Cabral no presídio, cantarolei “O Cabral comeu chicória” e, surpreendentemente, minha filha Valéria, apolítica, completou “Alguém mais também comerá, isso vai entrar para a história, quem viver é que verá”. Segundos depois, de brincadeira, plagiando a música de gostosa marchinha carnavalesca, nós ficamos a repetir “o Cabral comeu chicória, alguém mais também comerá, isso vai entrar para a história, quem viver é que verá.” Se fossem mantidos presos, “comendo chicória”, pelo menos os transgressores espalhariam exemplos e, quem ainda está honesto, se conteria.
Infelizmente, estamos num país em que nada surpreende mais, pois o Tribunal de Contas abriga conselheiro(s) que, pago(s) para combater falcatruas, para não deixar furtar, aceita(m) participar de esquema de propinas para não fiscalizar obras.
É quase incrível que, em nosso país, um membro da magistratura, mesmo recebendo ‘quase livre’ um bom salário e ainda abonos, adicionais (noturno, de insalubridade e de periculosidade), auxílios (moradia, alimentação, creche), bons veículos com motorista e combustível, plano de saúde para si e para toda a família, horas extras, ainda cometa deslizes a ponto de ser colocado em disponibilidade sem prejuízo de todos os rendimentos e de quase todas as benesses do tempo da ativa.
Então, vendo tanta coisa errada por aí afora, divulgando que “decisão superior é para ser cumprida”, regozijemo-nos porque aqui, em nossa terrinha, não tem furto na Prefeitura, nem desleixo funcional do Judiciário.
Fiquemos na confiante torcida para que não precisemos reclamar de nossas autoridades locais e as qualificar com os adjetivos citados pela Ana Maria Machado (Múltipla Escolha, O Globo, 10.12.2016), os quais reproduzo parcialmente em ordem alfabética: “asquerosos, azêmolas, babacas, bestas, biltres, calhordas, canalhas, cínicos, covardes, cretinos, desonestos, estrupícios, energúmenos, filhos de uma égua, gananciosos, lambões, malandros, patifes, perebas, pústulas, pilantras, sacripantas, safados, trastes, velhacos, mequetrefes”.
E, já que Deus é brasileiro e o território leopoldinense é, em consequência, brasileiro, esperemos, que:
- o pejorativo “Leopoldina, cidade dos buracos” seja implodido com eficientes ações que possam, no menor tempo possível, ser percebidas por todos que por nossas vias públicas transitem;
- que se faça um tratamento eficaz, tipo UTI de hospital de primeira grandeza, para salvar dezenas de árvores leopoldinenses que estão sendo assassinadas pelo descaso com que se olham os danos causados pelas ervas de passarinho;
- que, em fenômeno sobrenatural, as bicicletas leopoldinenses, em inédita e vigorosa atuação, mesmo sob covardes sevícias, se neguem a carregar ciclistas para transitar na contramão de direção ou sobre qualquer calçada ou praça.
Ano novo, vida nova. Que todos tenhamos um ano de 2017 com paz e saúde.