01/02/2017 às 23h11min - Atualizada em 01/02/2017 às 23h11min

68 – Martins de Almeida – Jornalista e Escritor

Personagens Leopoldinenses

Luja Machado e Nilza Cantoni
O Trem de História traz agora um pouco sobre a obra deste modernista leopoldinense. E começa recordando Fernando Correia Dias([i]) que registra “o momento de decolagem” daquele grupo de jovens futuristas com o lançamento de A Revista, uma publicação que foi saudada pelo jornal O Diário de Minas.
Dias informa que Martins de Almeida e Carlos Drummond de Andrade eram seus diretores, e Emilio Moura e Gregoriano Canedo eram os redatores. O editorial do primeiro número seria de Martins de Almeida. Mas como o autor não é citado, podemos apenas informar que A Revista é apresentada ao público num texto sob o título “Para os Céticos” do qual destacamos:
“Supõe-se que ainda não estamos suficientemente aparelhados para manter uma revista de cultura, ou mesmo um simples semanário de bonecos cinematográficos: falta-nos desde a tipografia até o leitor. Quanto a escritores, oh! Isso temos de sobra.([ii])
Neste mesmo número encontra-se o artigo “À margem de Pascal”, de autoria de Martins de Almeida. Já no segundo número([iii]) o editorial é um convite “Para os espíritos criadores” do qual destacamos:
“Não queremos atirar pedras ao passado. O nosso verdadeiro objetivo é esculpir o futuro. Aí estão problemas essenciais da nacionalidade exigindo uma solução imediata. Pretendemos realizar, ao mesmo tempo, uma obra de criação e de crítica. [...] Na verdade, um dos nossos fins principais é solidificar o fio das nossas tradições. Somos tradicionalistas no bom sentido. [...] Se adotamos a reforma estética, é justamente para multiplicar e valorizar o diminuto capital artístico que nos legaram as gerações passadas.”
O artigo de Martins de Almeida vem, desta vez, na página 19, sob o título “Crítica psicológica: a propósito de Manuel Bandeira.”
É um exercício interessante analisar os propósitos da ‘rapaziada’ como foram chamados por Werneck([iv]), expressos nos editoriais de A Revista, e a forma como cada um deles se expressou naqueles únicos três números da publicação. No artigo do segundo número, Martins de Almeida declara ser “a maior parte das nossas obras de arte formada de impressões que se cristalizam à flor da pele” e que, por conta disto, “a nossa arte é constituída, quase toda, de preconceitos, artificialismos e cópias”. Em seguida faz algumas avaliações sobre a obra de Manoel Bandeira, comentando que o poeta modificou sua forma de expressão dando um verdadeiro salto entre “Cinzas das Horas” e “Carnaval”. Nesta, Bandeira([v]) “desalinhou a simetria forçada do ritmo e pôs dissonâncias na música plan-rataplan do antigo verso.”
O terceiro e último número de A Revista([vi]), que embora datado de setembro de 1925 só foi publicado em 1926, é aberto com Poética, de Manuel Bandeira, seguido de Sambinha, de Mário de Andrade, depois Pijama, de Guilherme de Almeida e Broadway, de Ronald de Carvalho.
Naquela época, em que os denominados “passadistas” não aceitavam o abandono dos rigores da técnica, a opção dos diretores e redatores pode ter representado um forte chamamento a novos valores estéticos. Os quatro poemas foram seguidos pelo texto Malazarte, em que Martins de Almeida([vii]) analisa a peça homônima de Graça Aranha, romancista que aderiu ao Modernismo e seu rompimento com os tradicionalistas causou escândalo no meio literário da época.
Além dos trabalhos para A Revista, Martins de Almeida publicou o livro Brasil Errado, pela Editora de Augusto Frederico Schmidt, cuja segunda edição([viii]) saiu em 1953. Colaborou com Terra Roxa, veículo dos modernistas de São Paulo, com a Revista do Brasil e com os jornais A Noite, Correio da Manhã, Diário de Notícias, O País, O Mundo e com o Suplemento Literário do Jornal Estado de Minas([ix]). “O Avesso dos Maridos Enganados ou, A Sociedade dos Cornos Livres”, de 1976, é o título de uma peça teatral que chegou a ser traduzida para o francês e da qual companheiros do autor dão notícia, sem contudo sabermos se foi realmente publicada.
Mas o assunto não termina aqui. O Trem de História continua a sua viagem. No próximo número virão mais alguns comentários de críticos e amigos do modernista leopoldinense. Até lá.
 

[i] DIAS, Fernando Correia. O Movimento Modernista em Minas: uma interpretação sociológica. Brasília: Ebrasa, 1971. p.38
[ii] A Revista. Ano 1, número 1, Belo Horizonte, julho de 1925, p.11
[iii] A Revista. Ano 1, número 2, Belo Horizonte, agosto de 1925, p.11
[iv] WERNECK, Humberto. O desatino da rapaziada: jornalistas e escritores em Minas Gerais (1920-1970). 2.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012
[v] A Revista. Ano 1, número 2, Belo Horizonte, agosto de 1925, p.21
[vi] A Revista. Ano 1, número 3, Belo Horizonte, setembro de 1925, p.11
[vii] A Revista. Ano 1, número 3, Belo Horizonte, agosto de 1925, p.17
[viii] MARTINS DE ALMEIDA. Brasil Errado. 2.ed. Rio de Janeiro: Organização Simões, 1953.
[ix] NAVA, Pedro. Beira-Mar Memórias/4. Rio de Janeiro: José Olympio, 1978. p.218.
 
Publicado na edição 323 no jornal Leopoldinense de 16  de janeiro de 2017
 
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