16/02/2017 às 20h44min - Atualizada em 16/02/2017 às 20h44min

As cantoras do rádio e seus acervos musicais: Emilinha Borba e Marlene

Emilinha Borba e Marlene (Foto: Acervo O Globo)
         Neste  reservado  espaço  musical  ,  apresentaremos  duas  verdadeiras  cantoras  do  rádio  que  contribuíram   muito  com  a  sobrevivência  de  nossos  carnavais  com  seus  sambas  e  marchinhas  , empolgando   os  foliões  de  uma  época  de  ouro  em  que  se  curtiam  blocos  e  batalhas  de  confetes  :  “   EMILINHA  BORBA  E  MARLENE “  .

      O   Cantinho   Musical  ,  prevendo  a  proximidade  do nosso  carnaval  ,  resolveu  homenagear  essas  duas  artistas  que  revolucionaram  o  “  Reinado   de  Momo  “  com  suas  contribuições  musicais .  A preocupação  na  difusão  de  nossos  trabalhos  é  dar  um  panorama  dos  intérpretes  que  se  sobressaíram  com  suas  musicalidades  e  as  canções  que  resistiram  através  do  tempo .  Esta  pesquisa  objetiva  fazer  um  retrospecto de  um  belo  momento  carnavalesco  que  vivemos .

      A  partir  da  década   de  30  ,  a  rádio  torna-se  um  meio  de  comunicação  de massa . Essa  popularização   do    meio   deve-se ,  especialmente,  a  duas  cantoras  de  samba  e  marchinhas  carnavalescas  : EMILINHA  e  MARLENE  .  Consideradas  as  rainhas  do  rádio ,  também  eram  conhecidas  pela  rivalidade  entre  seus  fãs que  torciam   para  que  somente  uma  assumisse  o  posto .  A origem do antagonismo entre as intérpretes se deu em 1949, com o Baile da Rainha da Rádio Nacional, na época a maior emissora em audiência do Brasil. Organizado pelo diretor geral Vitor Costa, o evento tinha como objetivo arrecadar fundos para construção do Hospital do Radialista.   A escolha foi realizada via voto popular, pelo preço de um cruzeiro cada. Vitória Banaiutti, a grande Marlene, foi a vencedora graças a um cheque em branco da companhia Antártica - cuja garota propaganda era ela - para cobrir a quantidade de votos das outras candidatas.  É neste momento em que se inicia a polêmica entre as cantoras. Os fãs de Emilinha Borba, inconformados com o resultado, fazem de tudo para  elegê-la. Em 1953, ela finalmente conquista o posto com mais de um milhão de votos.

        Faremos,  a  partir  de  agora,  a  demonstração  de  todo  acervo  musical  dessas  duas  musas   do  rádio  que ,   à  guisa  de  uma  interpretação  simples e  carnavalesca , lançavam,  nas  letras  de  suas  músicas ,   problemas  sociais  de  nosso  povo . Para  tanto,  senhores  leitores , reparem as  mensagens   dessas  singelas  marchinhas   .

     
   Iniciaremos  com  Emilinha  Borba  e  suas  interpretações  carnavalescas .  Esta  canção  apresenta  subliminarmente  uma  crítica  social , torcendo  para  que  a  chuva  amenize  o  sofrimento  pela  falta  d’água , problema  muito  comum  na  época .  “   TOMARA   QUE  CHOVA  “  .  [ “ /  Tomara que chova, / Três dias sem parar (2x) / A minha grande mágoa / É lá em casa não ter água / E eu preciso me lavar / De promessa eu ando cheia / Quando conto a minha vida ninguém quer acreditar / Trabalho não me cansa / O que me cansa é pensar / Que lá em casa não tem água nem pra cozinhar /  “ .   ]   . 





Como  madrinha  perpétua  da  nossa  Marinha de Guerra  ,  Emilinha  entoa  um  verdadeiro  hino  em  homenagem  aos  marinheiros :                    “  AÍ  VEM  A  MARINHA  “  .  [ “ / Alerta, vamos saudar / Aí vem a Marinha / Alerta, homens do mar / É a glória que caminha / Esquadra em formação / Com garbo a desfilar / Em linha a tripulação / Orgulhosa saudando o céu e o mar / Marcílio Dias, Minas Gerais / Belmonte, Graúnas do Luar / Singram os mares sem temer  rivais / É a glória que caminha / Aí vem a Marinha! / . “  ]  .




Esta  marcha  foi  composta  por  João  Roberto  Kelly  para  homenagear  a  miss  Brasil , Vera  Lúcia  dos  Santos ,  fazendo  um  enorme  sucesso  nos  bailes  carnavalescos  na  perfeita  interpretação animada  de  Emilinha  Borba .  “  MULATA  YÊ , YÊ , YÊ   “  .   [ “  / Mulata bossa nova / Caiu no hully gully / E só dá ela / IÊ, iê, iê, iê, iê, iê, iê, iê / Na passarela / A boneca está / Cheia de fiufiu / Esnobando as louras / E as morenas do Brasil / . “  ]  .  





Nesta  canção  há  um  alerta  às  mocinhas  da  época  em  relação aos  garanhões  que  as  convidavam para  duvidosos  momentos  amorosos .    “  VAI  COM  JEITO  “  .  [ “ / Vai Com Jeito / Vai / Com jeito vai / Se não um dia  / A casa cai / Menina / Vai com jeito vai / Se não um dia / A casa cai / Se alguém  / Te convidar / Pra tomar banho / Em Paquetá / Pra pic-nic / Na barra da tijuca / Ou pra fazer um programa no Joá / Menina, vai / Com jeito vai / Se não um dia a casa cai / (BIS) / . “  ]  






Emilinha  exalta  nesta  canção  o  nudismo  com  liberdade  própria  dos  existencialista em  relação  à  natureza .      “  CHIQUITA  BACANA  “ .      [ “ / Chiquita bacana / Lá da Martinica / Se veste com uma casca / De banana nanica / Não usa vestido / Não usa calção / Inverno pra ela  / É pleno verão / Existencialista  / Com toda razão / Só faz o que manda / O seu coração / . “  ] . 







Há  nesta  marchinha  um  recado  direto  a  quem  toma  conta  da  vida  alheia ,  fofocando  com  intuito  de  denegrir  a  imagem  de  outro ,  por isso  que    “  A  ÁGUA  LAVA  TUDO  “  ,   [ “ / Você notou que eu estou tão diferente / Você notou que eu estou tão diferente / A água lava, lava, lava tudo / A água só não lava a língua dessa gente! / (bis) / Já vieram me contar / Que me viram por aí / Em lugar tão diferente / A água lava, lava, lava tudo / A água só não lava a língua dessa gente! / . “  ] .  






Eis  aqui  uma  marchinha  carnavalesca  bem  simples  que  animou  muitos  bailes  e  blocos  , constituindo  um  verdadeiro  sucesso  que  perdura  até  hoje  nos  cantos  de  torcidas  de  futebol  .  “   MARCHA  DO  REMADOR  “   [ “ /  Se a canoa não virar, / Olê olê olê olá  / Eu chego lá / (BIS)  /  Rema, rema, rema, remador / Quero ver depressa o meu amor / Se eu chegar depois do sol raiar / Ela bota outro em meu lugar / Se a canoa não virar, / Olê olê olê olá / Eu chego lá / (BIS)  /  “ .  ]  .






Encerrando  as  amostras  musicais  de  Emilinha  Borba ,  apresentaremos uma  marchinha pequena  e  simples  , inspirada  em  uma  mania da  dança  francesa  , mas  que  se  agigantava  durante  os  bailes  no  canto   dos  foliões .                           “  CAN , CAN  NO  CARNAVAL  “  .  [ “ / Tem francesinha no salão / Tem francesinha no cordão / Ela é um sonho de mulher / Vem do folies bergères.../  (BIS)  /  Uh lá lá trés bien! / Maestro ataca o can can! /  (BIS)  /  .  “  ]  .






      
Passemos  agora  para  demonstração  das  canções  interpretadas por  Marlene   que  priorizava  mais  os  sambas  às  marchinhas , pois  naquele  espaço  sonoro  velava  muitas  críticas  sociais nas  mensagens  produzidas  em  suas  letras .  Iniciaremos  com  um  samba  que  é  o  rótulo  de  seu  acervo musical  onde  descreve  todo  o  sacrifício  das  tarefas  de  uma  mulher  brasileira para  sobreviver  “   LATA  D’ÁGUA  “    [ “   /  Lata d'água na cabeça / Lá vai Maria / Lá vai Maria / Sobe o morro e não se cansa / Pela mão leva a criança / Lá vai Maria / Maria  / Lava roupa lá no alto / Lutando  / Pelo pão de cada dia  / Sonhando  / Com a vida do asfalto / Que acaba  / Onde o morro principia. / Lata d'água na cabeça... .......   /  . “  . ]  .



Neste  samba interpretado  por  Marlene   há  uma  crítica  velada  à  ausência  de  Papai Noel  em  lares  de  crianças  pobres  e  um  louvor  à  criatividade  das  criança da  época  em  construir  seus  próprio  brinquedos  . “  PATINETE  NO  MORRO  “  .   [ “ /  Papai Noel / Não sobe na favela / O morro também / Tem garotada / Eu botei o meu tamanco / Na janela, e de manhã / Não tinha nada / Patinete lá no morro / É um cabo de vassoura / E tampa de goiabada / E é assim / Que vai crescendo / O cidadão / Vendo morrer / Ilusão sobre ilusão / Você condena / Sem pedir perdão ao céu / É triste um garoto pobre / Crescer sem Papai Noel / .  “  ]  .   




Este  samba  leva  uma  mensagem  sobre  o  sacrifício  do  trabalhador  brasileiro  diante  das  dificuldades  que  encontra  para  encarar  a  vida  com  seus  percalços  .  “  ZÉ   MARMITA  “   [ “  / Quatro horas da manhã / Sai de casa o Zé Marmita / Pendurado na porta do trem / Zé Marmita vai e vem / (bis) / Numa lata, Zé Marmita / Traz a boia que ainda sobrou do jantar / Meio-dia, Zé Marmita / Faz o fogo para a comida esquentar / E Zé Marmita / Barriga cheia / Esquece a vida / Num bate-bola de meia / . “  ]   . 







Mais  uma  crítica  velada  à  situação  social  descrevendo , através  de  sua  interpretação ,  as  circunstância  de  vida  de  um  pobre  .   “  SAPATO  DE  POBRE  “    [ “  /  Sapato de pobre é tamanco / Almoço de pobre é café, é café / Maltrata o corpo como o que, porquê? / O pobre vive de teimoso que é / Folha de zinco, caixão de banha / Faz um barraco em qualquer favela / Se tem Amélia que o acompanha / Embora pobre é feliz com ela / . “   ]   .   
Diante   da  realidade  social , este  samba , interpretado  com emoção  por  Marlene , personifica  , metaforicamente , uma  moradia  de  zinco  com  todo  seu  sofrimento    “   BARRACÃO  “ .  [ “ / Ai ! Barracão,  / Pendurado no morro,  / Que pedindo socorro,  / A cidade a teus pés.  / Ai ! Barracão, / Tua voz eu escuto,  / Não te esqueço um minuto,  / Por que sei quem tu és.  / Barracão de zinco,  / Tradição do meu país,  / Barracão de zinco,  / Pobretão, infeliz. / ( Ai! barracão...)/ . “  ]  .


Este  samba  é  uma  exaltação ao  bailado produzido  pela cadência da música .  O  samba  sempre  foi  considerado  uma  anomalia  musical , rejeitado  e  combatido  como  coisa  profana . Marlene interpreta  com muita  emoção  e  consciência do  que  queria .   “   SE  É  PECADO  SAMBAR  “  .  [ “ / Se é pecado sambar / A Deus eu peço perdão / Eu não posso evitar / A tentação / Se um samba dolente / Que mexe com a gente / Fazendo endoidecer / É um tal de me pega, me solta / Me deixa sambar até morrer / (bis) / Só o samba é culpado / De eu abandonar meu lar / Se sambar é pecado / Deus queira me perdoar / . “  ]  .  



Encerrando  este  desfile  de  sucessos  de  Marlene  , apresentaremos  um  samba  de  Monsueto  e  Arnaldo  Passos  eternizado  na  voz  desta  artista  que  contribuiu  muito com  o  nosso acervo  musical . O  samba  é  um  desabafo  sobre  a  fidelidade  amorosa expressa  filosoficamente  em   observação  ao  comportamento  da  mulher  amada .  “  MORA   NA  FILOSOFIA “   [ “ / Eu, vou lhe dar a decisão / Botei na balança, você não pesou / Botei na peneira, você não passou / Mora na filosofia / Pra que rimar amor e dor? / (bis) / / Se seu corpo ficasse marcado / Por lábios ou mãos carinhosas / Eu saberia a quantos você pertencia / Não vou me preocupar em ver / Seu caso não é de ver pra crer / Tá na cara / . “  ]  .
    
       EMILINHA  E  MARLENE  REPRESENTARAM  PARA  O  CARNAVAL  A  VERDADEIRA  ESSÊNCIA  DE  NOSSAS  MÚSICAS  QUE  EMPOLGAVAM  COM  SEUS  CANTOS  OS  BLOCOS  CARNAVALESCOS  E  AS  BATALHAS  DE  CONFETES  EM  UMA  ÉPOCA  EM  QUE O  “  REINADO  DE  MOMO  “   ERA  UMA   MARCA   DE    ALEGRIA  E  AMOR  “
 
WALDEMAR   PEDRO   ANTONIO                       email  :  [email protected]
 
 
Link
Tags »
Leia Também »
Comentários »