16/03/2017 às 10h29min - Atualizada em 16/03/2017 às 10h29min

Intervenção militar!?

 
Intervenção militar!?
 
Paulo Lucio – Carteirinho
 
A direita conservadora cresceu muito nos últimos tempos. Fazendo com que muitos saíssem do armário - vestindo verde e amarelo. Com  um discurso pseudonacionalista, moralista e conservador. Em  defesa da: ordem,  “família” e dos bons costumes. Muitos vão além, chegam a pedir intervenção militar. Como se a Ditadura Militar fosse à solução para todos os problemas.
 
Os pedidos de intervenção militar ganham força tendo em vista o aumento da insegurança. Fazendo com que muitos comparem os dias atuais com o da época da Ditadura. Segundo  os defensores do militarismo, naquela época não havia tanta “bandidagem”.
 
Comparação é algo complicado de ser feito. Tendo em vista que, na grande maioria das vezes, é feita de forma superficial. Não leva em considerações dados importantes. No caso da segurança, por exemplo, temos que levar em conta que  na  década de 60, período do Golpe Militar, o Brasil ainda era um país agrícola. Mais de  55% da população era rural. Apenas 45% urbana. Segundo dados do IBGE.
 
https://goo.gl/images/kzrEwT 
 
Talvez o leitor tenha ouvido falar de  Êxodo Rural – migração do campo para a cidade. Isso ocorreu  em vários momentos e por vários motivos, principalmente no período da Ditadura Militar, que impedir a realização da Reforma Agrária. Uma das propostas de João  Goulart (Jango) – presidente retirado do poder pelos militares.  
 
A não realização da Reforma Agrária naquela época, somada a falta de políticas públicas para a população rural fez com que muitos deixassem o campo indo em direção as cidades. Na década de 70 por exemplo, primeiros anos da Ditadura Militar,  a população urbana igualou   a rural.  Nas décadas seguintes, 80 e 90, já no final  da Ditadura Militar, a população urbana superou  a rural. Atualmente, a população urbana representa 85% e a rural apenas 15%.

A vinda do homem do campo para a cidade trouxe graves problemas sociais. A começar pela questão da moradia. Onde a população do campo foi morar na cidade? Em bairros nobres, mansões, centro? Não! Em favelas, invasões,  acampamentos, subúrbios,  ruas, debaixo das pontes, viadutos...  
 
As cidades ficaram entupidas de gente. Morando em locais sem nenhuma  infraestrutura e condições. Sem a presença do Estado.  O que contribuiu para o aumento dos problemas sociais, principalmente a  violência: roubos, furtos, assassinatos e principalmente o tráfico de drogas.
 
Por falar no tráfico de drogas, foi justamente no período da Ditadura Militar que surgiram as primeiras facções criminosas. Com destaque para o  Comando Vermelho, que surgiu quando presos políticos foram  misturados  com presos comuns. Caso o leitor queira saber mais a respeito desse tema, assista ao filme: 400 contra 1.  Conta à história do surgimento do Comando Vermelho.
 

 
Como podem notar, a sociedade do período da Ditadura Militar era totalmente diferente da atual. A maioria estava no campo. Onde imperava o coronelismo. Os coronéis eram os xerifes. Mandavam mais que os próprios militares. Adotando da violência  como forma de controle. O que acabava criando a sensação de um país  “seguro”. Claro, seguro para quem não ousasse a se levantar contra seus mandatários. Aqueles que eram contra o governo (militares) e os coronéis sofriam: perseguições, prisões, torturas, assassinatos, exílio...
 
Hoje, devido os problemas gerados na  época da Ditadura Militar, como o Êxodo Rural e o surgimento das facções criminosas, a situação ficou muito mais complicada. Não há militar que dê jeito. Ainda mais conhecendo seus métodos: violência contra violência.
 
O buraco é mais embaixo. Não vai ser a violência contra a violência que vai resolver. Pelo contrário. Países que adotaram tratamentos mais humanizados, revendo seu código penal, principalmente na questão da repressão do tráfico de drogas, estão conseguindo diminuir a violência  sem dar um tiro. Estão inclusive fechando presídios. Diminuindo os gastos do Estado. Com o dinheiro que sobra, os países investem na educação: solução para muitos dos nossos problemas.
 
Deixando de lado a  questão da segurança, partindo para a questão econômica, temos que lembrar  que a Ditadura Militar não ocorreu somente no Brasil. Começou no Paraguai (1954). Depois Brasil (1964), Argentina (1966), Uruguai e Peru (1968),Bolívia (1971), Equador (1972), Chile (1973)...
 
Como podem notar, a Ditadura Militar ocorreu em quase todos os países da América. Isso tem uma importância para a manutenção do regime militar. Já que os demais países reconheceram  o Golpe de Estado. Que  inclusive foi  financiado por outros países, em especial   Estados Unidos e muitos  da Europa.  
 
Se por acaso o Golpe de Estado não fosse aceito,   traria graves problemas para esses países. Que não teriam seus governos reconhecidos.  Sofrendo assim sanções econômicas.
 
Aí fica a dúvida: uma Intervenção Militar nos dias de hoje  seria aceita pela comunidade mundial? Duvido muito. A democracia é uma conquista da sociedade. Ditadura Nunca Mais! Sabendo disso, quem prega Intervenção Militar tem que saber dos riscos que um possível  Golpe poderá trazer. Podendo ocorrer o isolamento desse país.
 
No caso do Brasil, vale destacar que temos acordos econômicos com quase todos os países do mundo.  Em especial Rússia, China, Índia, África do Sul devido o BRICs. Além de forte presença no MERCOSUL.  Temos uma boa relação comercial. Uma Intervenção Militar pode fazer com que o governo do Brasil não seja reconhecido. Com isso, muitos desses acordos econômicos desfeitos. Aumentando   ainda mais a crise econômica. Fora o caos político que será criado internamente.
 
Sendo assim, antes de sair gritando: Intervenção Militar; pensem nos problemas que serão criados. Caso não queira  pensar no futuro,  pegue  um livro de História e veja como   foi no passado. Leve em conta o que citei. 
 
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