06/04/2017 às 10h59min - Atualizada em 06/04/2017 às 10h59min

72 – Martins de Almeida: seus antepassados - II

Personagens Leopoldinenses

Luja Machado e Nilza Cantoni
A viagem segue recordando que Martins de Almeida era neto, pelo lado materno, de Félix Martins Ferreira e de Heliodora Pinheiro Correa de Lacerda. E pela linha paterna, neto de Francisco José de Almeida e Maria Cândida, moradores do Lamim, então distrito de Conselheiro Lafaiete (MG), que por volta de 1924 tiveram seus bens partilhados, possivelmente por falecimento de ambos.

Sobre Félix Martins Ferreira[1], consta que foi o doador do terreno onde está a praça Félix Martins, no centro da Cidade, conforme  escritura de doação arquivada no Cartório do 2º ofício Judicial de Leopoldina, fato que merece um comentário.

Surgiram algumas dúvidas, quando iniciamos as pesquisas sobre os primeiros moradores do Feijão Cru, tornando-se imperioso buscar informações adicionais para entender o que ocorrera no início da ocupação. Uma destas dúvidas se refere exatamente à doação feita por Félix Martins porque a Lei de Uso do Solo da época previa cessão de terreno para construção de moradia pela municipalidade, sem contudo haver cessão do direito de propriedade. Sendo assim, conclui-se que não se deveria dizer que Félix Martins Ferreira doou o terreno para o parque (Praça Félix Martins), mas que ele devolveu à municipalidade uma parte do terreno que lhe fora cedido, o que não lhe tira o mérito de ter contribuído para que a cidade tivesse um belo espaço para convívio social.

Mas este é um assunto ainda inconcluso porque depende de mais consultas aos documentos que constituem o arquivo permanente da cidade e que estão em poder do Registro de Imóveis, o que não foi possível até o momento.

Mas é fato que Félix Martins Ferreira era fazendeiro em Angustura, vivendo na fazenda Araribá, onde nascera[2] em 1852, filho de Joaquim Martins Ferreira, nascido a 15.12.1806, em São João del Rei e falecido no Rio de Janeiro aos 29 de setembro de 1880[3] e, de Maria Esméria de Carvalho Leite. O nosso Félix Martins Ferreira era neto paterno de outro do mesmo nome, natural de Cassiterita (MG), onde nasceu aos 2 de setembro de 1762 e faleceu aos 13 de outubro de 1808, sendo filho do português André Martins Ferreira que deixou larga descendência na Comarca do Rio das Mortes, antiga divisão administrativa de Minas Gerais que tinha São João del Rei como sede.

Segundo cópias de documentos gentilmente fornecidas pelo bisneto Humberto Luiz Martins Ferreira, Joaquim fez partilha de seus bens provavelmente antes de se transferir para o Rio de Janeiro. Para o filho homônimo deixou a fazenda do Macuco, para Félix, a fazenda do Araribá, para Lindolfo, Gabriel e Francisco deixou a fazenda do Degredo. Francisca, Ernestina e Carlos receberam suas partes em dinheiro. As fazendas Macuco e Araribá, juntas, constituíam uma sesmaria de 333 alqueires de terra. A fazenda do Degredo equivalia a outra sesmaria.

Ressalte-se, a propósito, que as propriedades acima citadas já estavam sob administração dos filhos indicados desde, pelo menos, a década de 1880.

Ainda segundo informes de Humberto, Joaquim Martins Ferreira era analfabeto. Transferiu-se para a zona da mata para "abrir valas" ou divisas, por uma pataca (400 réis) a braça. Desenvolveu, no entanto, diversas atividades que lhe permitiram ampliar os negócios e deixar um bom patrimônio para os filhos. Foi acionista da Leopoldina Railway, de cuja diretoria fazia parte seu filho Carlos, advogado e Comendador da Ordem da Rosa.

A mãe de Félix Martins Ferreira (neto), Maria Esméria, nasceu na fazenda das Pedras, em Quatis, Barra Mansa, RJ, segundo nos informou Humberto Martins Ferreira. A família formada por Joaquim e Maria Esméria teve papel de destaque não só em Angustura como em Leopoldina. Os filhos do casal atuaram de forma decisiva no processo de substituição da mão-de-obra escrava pelo trabalhador livre, através do Club da Lavoura, fundado em 1884.

A carga sobre os antepassados de Martins de Almeida não se esgotou. Mas o Trem de História faz uma pausa. Voltará na próxima edição para continuar a viagem. Até lá.

Fontes Consultadas:
[1] RODRIGUES, José Luiz Machado e CANTONI, Nilza. Nossas Ruas, Nossa Gente. Rio de Janeiro: particular, 2004. p. 77.
[2] Igreja Madre de Deus do Angu, Angustura, Além Paraíba, MG. Livro 1 de batismos, fls 66.
[3] Informações colhidas no inventário do pai, fornecidas por Humberto Martins Ferreira.

 
Luja Machado e Nilza Cantoni - Membros da ALLA
Publicado na edição 327 no jornal Leopoldinense de 16 de março  de 2017
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