No seguimento das publicações sobre as Escolas de Samba da Grupo Especial do Rio de Janeiro , O Cantinho Musical explanará as atividades carnavalesca de uma escola cuja popularidade está expressa na preferência dos jovens moradores da Tijuca em prova de fidelidade com a agremiação que faz explodir seus corações de alegria ; “ SALGUEIRO “ .
Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro é uma escola de samba brasileira da cidade do Rio de Janeiro, originária do Morro do Salgueiro. Foi fundada em 5 de março de 1953, a partir da fusão de duas escolas de samba do Morro , a “ Depois Eu Digo “ e a “ Azul e Branco “ , tendo como madrinha a “ Estação Primeira de Mangueira “ . A história da Acadêmicos do Salgueiro, entre as décadas de 50 e 70, é marcada por pioneirismos e inovações. A escola foi a primeira agremiação a convidar artistas plásticos, de formação acadêmica para confeccionar seus desfiles . A Acadêmicos do Salgueiro também inovou nas escolhas dos enredos, homenageando personalidades brasileiras, na época, pouco conhecidas, como Zumbi dos Palmares (em 1960), Chica da Silva (em 1963), Chico Rei (em 1964) e Dona Beija (em 1968). Na época, apenas figuras conhecidas da história nacional eram temas de enredo, herança do patriotismo imposto pelo Estado Novo e que ainda vigorava no carnaval carioca. Em 1957, a escola colocou os afrodescendentes como protagonistas do carnaval, ao realizar o enredo "Navio Negreiro", sobre a viagem de escravos ao Brasil. A escola criou forte identificação com essa temática, tendo diversos enredos abordando a cultura afro-brasileira. Foi também a primeira escola a homenagear outra agremiação, com enredo "Nossa madrinha Mangueira querida", de 1972 Em 1973, Joãosinho Trinta colocou, pela primeira vez, uma pessoa em cima de um carro alegórico . Também foi a primeira escola a fazer a junção de dois sambas de enredo concorrentes, no ano de 1975. Os bons resultados da caçula do carnaval carioca foram conquistando o público e a escola foi se firmando como uma das grandes dos desfiles das Escolas de Samba do Grupo Especial Rio de Janeiro .
Daremos início às relíquias musicais que impulsionaram o Salgueiro em suas grandes apresentações na Passarela do Samba . Iniciaremos com um samba de 1993 composto por Arizão / Bala / Celso Trindade / Dema Chagas / Guaracy / Quinho , que cedeu uma estrofe que hoje é o grito de esquenta na avenida : “ Explode coração / Na maior felicidade / É lindo o meu Salgueiro / Contagiando, sacudindo essa cidade “ . O tema deste samba-enredo descreve uma viagem levando os aventureiros do Norte do Brasil em uma retirada de sua terra natal rumo ao Rio de Janeiro em busca de toda felicidade que o carnaval proporciona : “ PEGUEI O ITA NO NORTE “ [ “ / Lá vou eu... Lá vou eu... Lá vou eu ... / Me levo pelo mar da sedução (sedução) / Sou mais um aventureiro / Rumo ao Rio de Janeiro / Adeus, Belém do Pará / Um dia volto, meu pai /Não chores pois vou sorrir / Felicidade o velho Ita vai partir / Oi no balanço das ondas... Eu vou / No mar eu jogo a saudade... amor (bis) / O tempo traz esperança e ansiedade / Vou navegando em busca da felicidade / Em cada porto que passo / Eu vejo e retrato, em fantasias / Cultura, folclore e hábitos / Com isso refaço minha alegria / Chego ao Rio de Janeiro / Terra do samba, da mulata e futebol / Vou vivendo o dia-a-dia / Embalado na magia / Do seu carnaval / Explode coração / Na maior felicidade / É lindo o meu Salgueiro / Contagiando, sacudindo essa cidade / (BIS) / . “ ] . Houve uma época no Rio de Janeiro em que a figura do malandro era respeitada , pois representava a esperteza , boemia , a vagabundagem e a imagem do poder .
Em 2016 , o Salgueiro , baseado em uma peça de Chico Buarque de Holanda , faz uma homenagem a esse herói da rua com todas as suas características desfilando garbosamente pela Passarela com a cadência de um belo samba-enredo composto por Francisco Aquino / Fred Camacho / Getúlio Coelho / Guinga / Marcelo Motta / Ricardo Fernandes : “ A ÓPERA DOS MALANDROS “ . [ “ / É que eu sou malandro batuqueiro / Cria lá do morro do Salgueiro / Se não acredita / Vem no meu samba pra ver / O couro vai comer! / Laroiê, mojuobá, axé! / Salve o povo de fé, me dê licença! / Eu vou pra rua que a lua me chamou / Refletida em meu chapéu / O rei da noite eu sou / Num palco sob as estrelas / De linho branco vou me apresentar / Malandro descendo a ladeira... ê, Zé! / Da ginga e do bicolor no pé / "Pra se viver do amor" pelas calçadas / Um mestre-sala das madrugadas / Ê, filho da sorte eu sou / Vento sopra a meu favor / Gira sorte, gira mundo / Malandro, deixa girar / Quem dá as cartas sou eu, pode apostar! / O samba vadio, meu povo a cantar / Dia a dia, bar em bar / Eis minha filosofia / Nos braços da boemia / Me deixo levar... / Eu vou por becos e vielas / Chegou o barão das favelas / Quem me protege não dorme / Meu santo é forte / É quem me guia / Na luta de cada manhã / Um mensageiro da paz / De larôs e saravás! / . “ ] .
Em 1969 , o Salgueiro sagrou-se vencedor no desfile do Grupo Especial com um samba-enredo composto por Bala / Manuel Rosa , levando para a avenida um tema altamente emocionante em homenagem à querida Bahia , demonstrando toda a sua tradição , sua cultura , seu folclores e , acima de tudo , o ar de felicidade que se manifesta no povo baiano : “ BAHIA DE TODOS OS DEUSES “ . [ “ / Bahia, os meus olhos estão brilhando, / Meu coração palpitando / De tanta felicidade. / És a rainha da beleza universal, / Minha querida Bahia, / Muito antes do Império / Foste a primeira capital. / Preto Velho Benedito já dizia / Felicidade também mora na Bahia, / Tua história, tua glória / Teu nome é tradição, / Bahia do velho mercado / Subida da Conceição. / És tão rica em minerais, / Tens cacau, tens carnaúba, / Famoso jacarandá, / Terra abençoada pelos deuses, / E o petróleo a jorrar / Nega baiana, / Tabuleiro de quindim, / Todo dia ela está / Na igreja do Bonfim, oi / Na ladeira tem, tem capoeira, / Zum, zum, zum, / Zum, zum, zum, / Capoeira mata um ! / . “ ] .
Uma das personagens mais polêmicas da História do Brasil , tendo como causa o descompasso social provocado por um profundo amor entre uma escrava e um personagem da mais alta nobreza , criando no reinado uma verdadeira insatisfação. Diante desse conteúdo histórico , em 1963 , o Salgueiro desenvolveu na Passarela este tema com um samba-enredo composto por Anescarzinho / Noel Rosa de Oliveira , descrevendo os detalhes que envolviam “ XICA DA SILVA “ . [ “ / Apesar / De não possuir grande beleza / Xica da Silva / Surgiu no seio / Da mais alta nobreza. / O contratador / João Fernandes de Oliveira / A comprou / Para ser a sua companheira. / E a mulata que era escrava / Sentiu forte transformação, / Trocando o gemido da senzala / Pela fidalguia do salão. / Com a influência e o poder do seu amor, / Que superou / A barreira da cor, / Francisca da Silva / Do cativeiro zombou ôôôôô / ôôô, ôô, ôô. / No Arraial do Tijuco, / Lá no Estado de Minas, / Hoje lendária cidade, / Seu lindo nome é Diamantina, / Onde nasceu a Xica que manda, / Deslumbrando a sociedade, / Com o orgulho e o capricho da mulata, / Importante, majestosa e invejada. / Para que a vida lhe tornasse mais bela, / João Fernandes de Oliveira / Mandou construir / Um vasto lago e uma belíssima galera / E uma riquíssima liteira / Para conduzi-la / Quando ela ia assistir à missa na capela./ . “ ] .
Mais uma vez o Salgueiro demonstrando toda sua história através da magia e da beleza do samba . Em 1984 , com o samba-enredo empolgante ,composto por David Corrêa e Jorge Macedo tendo como tema no desfile a sequência da origem e a importância desse nosso ritmo maravilhoso apresentando em cada verso uma bela linguagem metafórica baseada em uma expressão onomatopaica : “ SKINDÔ , SKINDÔ “ . [ “ / O quem vem de mim é pra rolar / Amor, raiou o dia / A noite trouxe o meu cantar / Enfeitado o luar da Bahia / Foi um vento tão menino / Que soprou o meu destino pelo mar / Vim de terra tão distante / Sou o negro mais amante, Skindô ô ô ô ô / Ô ô ô ô ô ô ô, a vida fica mais feliz, meu amor / A folha nasce da raiz, / Skindô / O samba é a flor / Ca, ca, cadê / Cadê meu agogô (bis) / Mandei buscar o quê / Pra eu bater pra ioiô / Só por amar, querer sambar / Meu peito é um clarim de poesia / Um arco-íris nos meus olhos / Brilha a noite como o dia / Pandeiro, surdo, cavaco, ganzá / Me pega, me deixa ficar, ô iaiá / Roda, o meu Salgueiro / Roda e vem mostrar / O canto de quem ama, acende a chama / Viajando no meu doce olhar, ô ô ô / Oiá, oiá / Água de cheiro pra ioiô (bis) / Vou mandar buscar / Na fonte do senhor / . “ ] .
No ano de 1972, em um belo reconhecimento à receptividade que o mundo da Mangueira demonstrou ao convite para batizar uma nova escola de samba, aceitando orgulhosamente , é que o Salgueiro , com um samba-enredo composto por Zuzuca Do Salgueiro , leva para avenida em homenagem à madrinha uma bela saudação por quem tece grande admiração : “ Minha Madrinha, Mangueira Querida “ . [ “ Tengo-Tengo / Santo Antônio, Chalé (bis) / Minha gente, é muito samba no pé! / Em noite linda / Em noite bela / Viemos à avenida / Desfilar em passarela / O batizado será lembrado / Pelo Salgueiro de agora / Alô Laurindo, alô Viola / Alô Mangueira de Cartola / Tengo-Tengo / Santo Antônio, Chalé (bis) / Minha gente, é muito samba no pé! / Ô ô ô, oh meu Senhor / Foi Mangueira (bis) / Estação Primeira / Que me batizou / . “ ] .
Em 1964 , dando continuidade aos temas de nossa história , o Salgueiro , com um belo samba-enredo composto por Binha / Djalma Sabiá / Geraldo Babão , levou para avenida um tema cujo conteúdo era uma narrativa poética sobre um rei africano , símbolo de seu povo , que , capturado pelos portugueses , foi levado com outros escravos para o Brasil , porém , admirado pelos seus súditos , tornou-se mais tarde herói em Vila Rica : “ CHICO REI “ . [ “ / Vivia no litoral africano / Uma régia tribo ordeira / Cujo rei era símbolo / De uma terra laboriosa e hospitaleira. / Um dia, essa tranqüilidade sucumbiu / Quando os portugueses invadiram, / Capturando homens / Para fazê-los escravos no Brasil. / Na viagem agonizante, / Houve gritos alucinantes, / Lamentos de dor / Ô-ô-ô-ô, adeus, Baobá, / Ô-ô-ô-ô-ô, adeus, meu Bengo, eu já vou. / Ao longe Ninas jamais ouvia, / Quando o rei, mais confiante, / Jurou a sua gente que um dia os libertaria. / Chegando ao Rio de Janeiro, / No mercado de escravos / Um rico fidalgo os comprou, / Para Vila Rica os levou. / A idéia do rei foi genial, / Esconder o pó do ouro entre os cabelos, / Assim fez seu pessoal. / Todas as noites quando das minas regressavam / Iam à igreja e suas cabeças lavavam, / Era o ouro depositado na pia / E guardado em outro ligar de garantia / Até completar a importância / Para comprar suas alforrias. / Foram libertos cada um por sua vez / E assim foi que o rei, / Sob o sol da liberdade, trabalhou / E um pouco de terra ele comprou, / Descobrindo ouro enriqueceu. / Escolheu o nome de Francisco, / Ao catolicismo se converteu, / No ponto mais alto da cidade Chico Rei / Com seu espírito de luz / Mandou construir uma igreja / E a denominou / Santa Efigênia do Alto da Cruz! / . “ ] .
Em 1971 , com modificação na cronometragem dos desfile , Zuzuca compôs um samba-enredo , acelerando significativamente a cadência melódica para cumprir o tempo reduzido na passarela . Nesse ano o Salgueiro , ainda na tradição de desenvolver enredos com temas africanos , narra uma festividade onde homenageia um rei que vem de longe , expressando passagens da cultura africana : “ FESTA PARA UM REI NEGRO “ . [ “ / O-lê-lê, ô-lá-lá, / pega no ganzê / pega no ganzá. / Nos anais da nossa História, / vamos encontrar / personagens de outrora / que iremos recordar. / Sua vida, sua glória, / seu passado imortal, / que beleza / a nobreza do tempo colonial. / O-lê-lê, ô-lá-lá, / pega no ganzê / pega no ganzá! / Hoje tem festa na aldeia, / quem quiser pode chegar, / tem reisado a noite inteira / e fogueira pra queimar. / Nosso rei veio de longe / pra poder nos visitar, / que beleza / a nobreza que visita o gongá. / O-lê-lê, ô-lá-lá, / pega no ganzê / pega no ganzá. / Senhora dona-de-casa, / traz seu filho pra cantar / para o rei que vem de longe, / pra poder nos visitar. / Esta noite ninguém chora, / e ninguém pode chorar, / que beleza / a nobreza que visita o gongá. / O-lê-lê, ô-lá-lá, / pega no ganzê / pega no ganzá. / . “ ] .
Em 1974 , com um belo samba-enredo composto por Malandro / Zé Di , o Salgueiro, o Salgueiro fez um belo desfile impulsionado pelo entusiasmo de seu componentes com o tema misterioso sobre as lendas contadas pelo povo maranhense em que faz abordagem sobre uma visão fictícia de um rei mimado com a chegada de uma rainha deusa no reino encantado , descendo de uma linda carruagem refletindo a luz da nobreza : “ O Rei de França Na Ilha da Assombração “ . [ “ / In credo in cruz, ê ê, Vige Maria, / As preta veia se benze, me arrepia / Ô, ô, ô Xangô, / As preta véia não mente, não sinhô. / Não cantaram em vão / O poeta e o sabiá / Na fonte do Ribeirão. / Lenda e assombração / Contam que o rei criança / Viu o reino de França no Maranhão. / Das matas fez o salão dos espelhos / Em candelabros palmeirais, / Da gente índia a corte real, / De ouro e prata um mundo irreal. / Na imaginação do rei mimado / A rainha era deusa / No reino encantado. / Na praia dos Lençóis, / Areia assombração, / O touro negro coroado / É Dom Sebastião. / É meia-noite, Nhá Jança vem, / Desce do além na carruagem / Do fogo vivo, luz da nobreza, / Saem azulejos, sua riqueza, / E a escrava que maravilha / É a serpente de prata / Que rodeia a ilha./ . “ ] .
Encerrando esta seleção de sambas-enredo do Salgueiro que se destacaram nos desfile das escolas de samba do Grupo Especial , o Cantinho Musical traz uma linda melodia composta por Aurinho da Ilha , em 1968 , que , com bastante harmonia , narra uma bela história de amor sobre uma bela mulher que enfeitiçou o coração de um Ouvidor Real , introduzindo-a na corte de Araxá onde foi apresentada como uma dama admirada e respeitada por todos : “ Dona Beja, a Feiticeira de Araxá “ . [ “ / Certa jovem linda, divinal, / Seduziu com seus encantos de menina / O Ouvidor Real. / Levada a trocar de roupagem, / Numa nova linhagem / Ela foi debutar. / Na Corte, fascinou toda a nobreza / Com seu porte de princesa / Com seu jeito singular. / Ana Jacinta, rainha das flores, / Dos grandes amores, / Dos salões reais, / Com seus encantos e sua influência / Supera as intrigas / Os preconceitos sociais. / Era tão linda, tão meiga, tão bela, / Ninguém mais formosa que ela / No reino daquele Ouvidor. / Ela com seu feitiço inteligente / Cria um reinado diferente / Na corte de Araxá, / E nos devaneios nas festas de Jatobá. / Mas antes, com seu trejeito feiticeiro, / Traz o Triângulo Mineiro / De volta a Minas Gerais, / Até o fim da vida / Dona Beija ouviu falar / Viu seu nome triunfar / Na história de Araxá. / . “ ] .
“ A grande dificuldade em filtrar dentro das galerias de ótimos sambas-enredo das escolas do Grupo Especial é separar as canções que estão vivificadas na memória dos sambistas , o que nos deixa completamente atentos para não selecionar sambas que não estão memorizados naqueles que curtem este estilo de música . Diante deste exposto , O Cantinho Musical espera que todos sejam tolerantes com a seleção apresentada .
“ A ALMA GLORIOSA DE TODO DESFILE , ALÉM DA HARMONIA , RITMO E MELODIA PRESENTES NOS SAMBAS-ENREDO , ESTÁ NA BELEZA TEMÁTICA LEVADA PELAS ESCOLAS DE SAMBA PARA IMPLEMENTAR VALORES CULTURAIS AO QUE PRETIGIAM VERDADEIRAMENTE O ESPETÁCULO . A “ ACADÊMICO DO SALGUEIRO “ ESBANJA TEMA ASSOCIADOS À NOSSA HISTORIA , EXALTANDO A RAÇA BRASILEIRA COM SUA ETNIA , SEU FOLCLORE E SEU AMOR À ARTE . “