O Cantinho Musical apresenta neste artigo uma dobradinha que sempre ilustra os desfiles carnavalescos , abrilhantando com seu o ritmo e sua cadência os belos sambas-enredo em suas esplêndidas apresentações . Uma das duas escolas tem seu rótulo associado a um dos maiores compositores da MPB : Noel Rosa . A outra irradia , com sua constante alegria , muita simpatia entre os adeptos e amantes de outras agremiações do carnaval carioca pela forma como que seus sambas-enredo empolgam na avenida : VILA ISABEL e ILHA DO GOVERNADOR .
“ UNIDOS DE VILA ISABEL"
“ A VILA DESCE COLORIDA PARA MOSTRAR SEU CARNAVAL ..... “
Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos de Vila Isabel (ou simplesmente Unidos de Vila Isabel) é uma escola de samba da cidade Rio de Janeiro . Foi fundado no dia 04 de abril de 1946, por Antonio Fernandes da Silveira popularmente conhecido como “Seu” China, devendo-se o apelido, no fato de ter ele, os olhos muito apertados, à maneira oriental. Em seu brasão há a coroa da Princesa Isabel, em que figuram na parte de cima um resplendor com uma fita azul onde se encontram as iniciais da agremiação (GRESUVI), e na parte de baixo, se veem uma clave de sol, um pandeiro e a pena de Noel Rosa. Uma das figuras mais conhecidas da escola é, sem dúvida, Martinho da Vila. Sua entrada na agremiação aconteceu em 1965: ele fazia parte da Escola de Samba Aprendizes da Boca do Mato e já estava partindo para o Império Serrano, quando surgiu o convite para integrar a ala de compositores da Vila Isabel. Na nova escola, Martinho reestruturou a forma de compor sambas de enredo, com a introdução de letras e melodias mais suaves, emplacando quatro sambas consecutivamente.
Faremos a partir de agora uma apresentação dos sambas-enredo mais populares da Vila Isabel que estão perpetuados na memória dos sambistas . Iniciaremos esta seleção com um samba vencedor do ano de 1988 , quando se comemorava um século da “ Libertação da Escravatura , sancionada pela “ Lei Áurea “ , ano em que foi explorado por outras agremiações com o mesmo tema .
A Vila Isabel sagrou-se campeã com um samba-enredo composto por Jonas / Luiz Carlos Da Vila / Rodolpho onde estão expressos os sofrimentos dos escravos , exaltação a Zumbi e a outras figuras que representaram o grito de liberdade e a demonstração de toda a sua crença religiosa , através de suas entidades : “ Kizomba, Festa da Raça “ . [ “ / Valeu Zumbi! / O grito forte dos Palmares / Que correu terras, céus e mares / Influenciando a abolição / Zumbi valeu! / Hoje a Vila é Kizomba / É batuque, canto e dança / Jongo e maracatu / Vem menininha pra dançar o caxambu (bis) / Ôô, ôô, Nega Mina / Anastácia não se deixou escravizar / Ôô, ôô Clementina / O pagode é o partido popular / sacerdote ergue a taça / Convocando toda a massa / Neste evento que congraça / Gente de todas as raças / Numa mesma emoção / Esta Kizomba é nossa Constituição (bis) / Que magia / Reza, ajeum e orixás / Tem a força da cultura / Tem a arte e a bravura / E um bom jogo de cintura / Faz valer seus ideais / E a beleza pura dos / seus rituais / Vem a Lua de Luanda / Para iluminar a rua (bis) / Nossa cede é nossa sede / e que o "apartheid" se destrua / Valeu!/ . “ ] .
Em 1980 a Vila Isabel desfilou com um lindo samba-enredo composto por Martinho da Vila / Rodolpho / Graúna cujo tema é uma variação do poema de Carlos Drummond de Andrade de mesmo nome. É preciso mesmo ser um artista-poeta-cantor, para captar a poética dos versos de Drummond e transformá-la em uma nova poesia, e ainda por cima colocar ritmo e voz melodiosa para encantar e curtir um bom carnaval na avenida , transformando o sonho de um em realidade : “ SONHO DE UM SONHO “ [ “ / Sonhei / Que estava sonhando um sonho sonhado / O sonho de um sonho / Magnetizado / As mentes abertas / Sem bicos calados / Juventude alerta / Os seres alados / Sonho meu / Eu sonhava que sonhava / Sonhei / Que eu era o rei que reinava como um ser comum / Era um por milhares, milhares por um / Como livres raios riscando os espaços / Transando o universo / Limpando os mormaços / Ai de mim / Ai de mim que mal sonhava / Na limpidez do espelho só vi coisas limpas / Como uma lua redonda brilhando nas grimpas / Um sorriso sem fúria, entre réu e juiz / A clemência e a ternura por amor da clausura / A prisão sem tortura, inocência feliz / Ai meu Deus / Falso sonho que eu sonhava / Ai de mim / Eu sonhei que não sonhava / Mas sonhei / . “ ] .
O genial Martinho da Vila , em um lampejo maravilhoso , compôs um lindo samba-enredo , em 1968 , demonstrando , poeticamente , em cada verso , as modas e os costumes relacionando os tempos moderno e tradicional do povo brasileiro fruto de uma miscigenação onde , em cada passagem , cada raça desfila seus rituais e suas tradições : “ Quatro Séculos de Modas e Costumes “ . [ “ / A Vila desce colorida / Para mostrar o carnaval / Quatro séculos de modas e costumes / O moderno e o tradicional / Negros, brancos, índios / Eis a miscigenação / Ditando moda, fixando os costumes / Os rituais e a tradição / E surgem tipos brasileiros / Saveiros e bateador / O carioca e o gaúcho / Jangadeiro e cantador / Lá vem o negro / Vejam as mucamas / Também vem com o branco / Elegantes damas / Desfilam modas do Rio / Costumes do Norte e a dança do Sul / Capoeiras, desafios / Frevos e maracatu / Laiaraiá, ô, laiaraiá / Festa de menina-moça / Na tribo dos Carajás / Candomblé lá da Bahia / Onde baixam os orixás / . “ ] .
Ainda Martinho da Vila / Rodolfo compuseram um samba-enredo em que a Vila Isabel , no ano de 1969 desfilou garbosamente em que a estrutura temática versava sobre um relacionamento amoroso entre uma Sinhá Moça e um escravo , desfeito por questões de descompasso social quando a Moça entrega seu coração a um moço requintado, deixando o capoeira mergulhado em uma tristeza , entretanto conservando seu orgulho e rejeitando-a definitivamente por ocasião do retorno da “ Yayá do Cais Dourado “ . [ “ / No cais dourado da velha Bahia / Onde estava o capoeira / A Yayá também se via / Juntos na feira ou na romaria / No banho de cachoeira / E também na pescaria / Dançavam juntos / Em todo fandango e festinha / E no reisado, contramestre e pastorinha / Cantavam laralalaialaiá / Nas festa do Alto do Gantois / Mas loucamente a Yayá do Cais Dourado / Trocou seu amor ardente / Por um moço requintado / E foi-se embora / Passear em barco a vela / Desfilando em carruagem / Já não era mais aquela / E o capoeira que era valente chorou / Até que um dia a mulata / Lá no cais apareceu / Ao ver o seu capoeira / Pra ele logo correu / Pediu guarita Mas o capoeira não deu / Desesperada caiu no mundo a vagar / E o capoeira ficou com seu povo a cantar / Lalaialalará ... / Cantavam laralalaialaiá / Nas festa do Alto do Gantois / . “ ] .
Para encerrar esta maravilhosa pequena reunião de lindas obras musicais da Vila Isabel , selecionamos um dos mais lindos sambas na história do carnaval . Em 1984 , mais uma vez Martinho da Vila em sua genialidade poética , compôs este belo samba-enredo , onde , com sua sensibilidade artística no uso das palavras , narra, em seus versos, segmentos que compõem , como uma aquarela , um todo identificado com a estrutura que se constrói toda a complexidade de um desfile , retratando a grande ilusão da vida : “ PRA TUDO SE ACABAR NA QUARTA-FEIRA “ . [ “ / A grande paixão / Que foi inspiração / De um poeta é o enredo / Que emociona a velha-guarda / Lá na comissão de frente / Como a diretoria / Glória a quem trabalha o ano inteiro / Em mutirão / São escultores, são pintores, bordadeiras / São carpinteiros, vidraceiros, costureiras / Figurinista, desenhista e artesão / Gente empenhada em construir a ilusão / E que tem sonhos / Como a velha baiana / Que foi passista / Brincou em ala (bis) / Dizem quem foi / Um grande amor de um mestre-sala / O sambista é um artista / E o nosso tom é o diretor de harmonia / Os foliões são embalados / Pelo pessoal da bateria / Sonhos de reis, de pirata e jardineira / Pra tudo se acabar na quarta-feira / Mas a quaresma lá no morro é colorida / Com fantasias já usadas na avenida / Que são cortinas / E são bandeiras / Razões pra vida / Tão real da quarta-feira / (É por isso que eu canto...)/ “ ].
"UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR"
“ SEGURA MARIMBA !!! “
Se há uma escola de samba que levanta o público com sua intensa alegria irradiando muita felicidade nos desfiles do Grupo Especial , através de seus sambas-enredo com uma cadência de marchinha de carnaval , é a União da Ilha do Governador . Neste exato momento , o Cantinho Musical dedicará , para deleite dos que curtem um bom samba , uma pequena seleção , mas grandiosa em qualidade , de sambas-enredo que marcaram a presença da União da Ilha do Governador no cenário das escolas de samba. A União da Ilha é a escola mais simpática do carnaval, vamos ser honestos; quem não gosta de tanta irreverência e os seus famosos sambas ...
Grêmio Recreativo Escola de Samba União da Ilha do Governador , frequentemente referida apenas como União da Ilha , é uma escola de samba da cidade do Rio de Janeiro. Foi fundada em 7 de março de 1953 por Maurício Gazelle, Joaquim Lara de Oliveira (o Quincas), Orphylo Bastos e mais 59 sócios. Manteve-se algum tempo entre o segundo e o terceiro grupos e em 1974, quando foi campeã do segundo grupo, obteve o acesso ao grupo principal, a partir do ano seguinte.
Iniciaremos nossa seleção com um samba-enredo de 1982 composto por Didi / Mestrinho , quando a União da Ilha , desfilando na avenida , fez uma apologia ao carnaval espalhando felicidade e alegria , na esperança e expectativa de reinar naquele espetáculo como verdadeira majestade do samba : “ É HOJE O DIA “ . [ “ / A minha alegria atravessou o mar / E ancorou na passarela / Fez um desembarque fascinante / No maior show da Terra / Será que eu serei / o dono desta festa um rei / No meio de uma gente tão modesta / Eu vim descendo a serra / Cheio de euforia para desfilar / O mundo inteiro espera / Hoje é dia do riso chorar / Levei o meu samba / Pra mãe-de-santo rezar / Contra o mau olhado / Carrego o meu Patuá / Acredito ser o mais valente / Nesta luta do rochedo com o mar / (E com o mar) / É hoje o dia da alegria e a tristeza / Nem pode pensar em chegar / Diga espelho meu / Se há na avenida / Alguém mais feliz que eu / . “ ] .
Em 1977 , a União da Ilha desfilou com um samba-enredo composto por Aurinho da Ilha, Ione do Nascimento, Ademar Vinhaes, Waldir da Vala cujo tema versava sobre o Rio de Janeiro com suas belas praias , seu futebol vencedor , suas baladas noturnas , suas mulheres maravilhosas , tudo em um fenômeno natural multicor constituindo um belo cenário e proporcionando ao povo carioca um esplendoroso visual em um dia de graça : “ DOMINGO “ . [ “ / Vem amor / Vem à janela ver o sol nascer / Na sutileza do amanhecer / Um lindo dia se anuncia / Veja o despertar da natureza / Olha amor quanta beleza / O domingo é de alegria / No Rio colorido pelo Sol / As morenas na praia (bis) / Que gingam no samba / E no meu futebol / Veleiros que passeiam pelo mar / E as pipas vão bailando pelo ar / E no cenário de tão lindo matiz / O carioca segue o domingo feliz / Vai o sol e a lua traz no manto / Novas cores, mais encanto / A noite é maravilhosa / E o povo na boate ou gafieira / Esquece da segunda-feira / Nesta cidade formosa / Há os que vão pra mata / Pra cachoeira ou pro mar (bis) / Mas eu que sou do samba / Vou pro terreiro sambar / . “ ] .
O compositor Franco compôs um samba-enredo em 1991 , quando a União da Ilha fez uma homenagem a Didi, o poeta que ganhou 22 disputas de samba-enredo , onde transcreve toda alegria e o prazer da vida que caracterizavam o grande homenageado : “ De Bar Em Bar, Didi Um Poeta “ . [ “ / Hoje eu vou tomar um porre / Não me socorre que eu tô feliz / Nessa eu vou de bar em bar / Beber a vida que eu sempre quis / E no bar da ilusão eu chego / É pura paixão que eu bebo / Amor me deseja, me dá um chamego / Me beija e faz um cafuné / Bebo vem e bebo vai que nem maré / Balança mas não cai, boêmio é / Garçom, garçom / Bota uma cerva bem gelada aqui na mesa / Que bom, que bom / Minha alegria deu um porre na tristeza / Poeta enredo da canção / Cartilha que eu aprendi /Canta a Ilha com emoção / Saudade de você, Didi / Amor, amor, eu vou / É nessa aqui que eu vou / O sol vai renascer do meu astral / Amor, amor, eu vou, ô esquindô, esquindô / Num gole eu faço um carnaval / . “ ] .
Em 1978 , Maria Augusta , além de compor o samba-enredo , foi também carnavalesca de um tema com que a União da Ilha desfilou , explicitando toda crendice do povo relacionado aos acontecimentos de sua vida no dia seguinte , para solucionar o mistério, procura em uma série de superstições meios de saber sobre os acontecimentos do “ AMANHÃ “ . [ ” / A cigana leu o meu destino / Eu sonhei / Bola de cristal, jogo de búzios, cartomante / Eu sempre perguntei / O que será o amanhã? / Como vai ser o meu destino? / Já desfolhei o mal-me-quer / Primeiro amor de um menino / E vai chegando o amanhecer / Leio a mensagem zodiacal / E o realejo diz / Que eu serei feliz / Como será o amanhã / Responda quem puder (bis) / O que irá me acontecer / O meu destino será como Deus quiser / . “ ] .
Encerrando a pequena apresentação dos sambas-enredo da União da Ilha , optamos por uma peça composta em 1980 com a rubrica do autor Adalberto Sampaio que garantiu o sucesso na avenida , narrando todas as suas apresentações temáticas no Grupo Especial , citando, harmoniosamente em sua melodia, os seus enredos com a simplicidade e a simpatia que sempre caracterizam o desempenho da agremiação : “ BOM , BONITO E BARATO “ . [ “ / Colori /Com toda minha simpatia / Um visual de alegria / Cante comigo essa canção de amor / Sou a comunicação / Não tenho luxo e nem riqueza / Há simplicidade e beleza / Na festa do seu coração / Muito bom / O meu bonito é barato (bis) / Da simpatia, o retrato / Do povo no carnaval / Obrigado madrinha Portela / Que me ajudou a caminhar / (Caminhei) / E onde andei / Pelos caminhos meu nome deixei / Nos confins de Vila Monte / Eu decantei / Com um sorriso de esperança / A Praça Onze delirei / Domingo, na sutileza do amanhecer / Meu colorido encantou você / O Amanhã, / O que será?, O que será? / E outra vez na passarela / Colorida e tão singela ; O sangue novo faz toda gente vibrar / Sou eu, sou eu / Trazendo felicidade (bis) Sou eu / . “ ] .
“ Ao produzir mais este artigo , o Cantinho Musical , cuidadosamente , procurou fazer uma triagem nas galerias dos sambas-enredo das duas agremiações destacando , dentre várias joias musicais, aquelas já consagradas e adoradas pelo mundo do samba . Na certeza de ter agradado a todos nas escolhas dos sambas apresentados , pedimos escusas pela omissão . “
“ A GARANTIA DE GRANDES SUCESSOS NOS DESFILES DAS ESCOLAS DE SAMBA DO GRUPO ESPECIAL DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO NÃO ESTÁ SOMENTE NA EXUBERÂNCIA DE SUAS INDUMENTÁRIAS NEM NA SUPERIORIDADE DE GRANDES AGREMIAÇÕES , MAS TAMBÉM NA ALEGRIA E SIMPLICIDADE DEMONSTRADAS PELOS SEUS COMPONENTES . A UNIDOS VILA ISABEL E A UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR ESBANJAM , DURANTE O PERCURSO DE SUAS APRESENTAÇÕES, MUITOS INGREDIENTES QUE TANSFORMAM O AMBIENTE CARNAVALESCO ORNADO DE MUITAS FELICIDADES ! “