Quem é que mora em Leopoldina, principalmente no bairro Pirineus e não conheceu o Bastião Capim?
"Sebastião vei lá da roça
Vei do meio do capim
Comprou casa na cidade,
Pra montar um botequim!"
Natural da localidade de Barreiro, em Recreio-MG, Sr. Sebastião vivia em Leopoldina há longos anos com sua esposa, a trabalhadora Dona Martinha. Aqui formou uma grande família. Por alguns anos manteve na Praça do Chafariz um pequeno comércio de bar e quitanda que era parada obrigatória de todos que por ali passavam. Meus dois avôs, João e Dionísio eram dois dos frequentadores.
Sô Sebastião sempre foi uma figura simples e carismática. Uma de suas filhas, a Silvana, foi minha babá e às vezes me levava até sua casa onde sempre fui bem tratado. Lembro-me que tempos depois, já um pouco maior eu juntava jornal velho para vender pra ele.
Mesmo depois de se aposentar e fechar o comércio, Sô Sebastião não perdeu o hábito de diariamente prosear com todos que passavam em frente a sua casa, onde passou a manter cadeira cativa, ou melhor, banco cativo. Continuou a contar causos, piadas, recitar versos decorados ou que criou, sempre com o bom humor característico. O folclore em pessoa.
E ele se lembrava de cada uma! Como os versos de um antigo pasquim que citava alguns vizinhos que era mais ou menos assim:
“Licinho vai pro inferno
O Zezinho pras prefunda
Zé Moraes vai junto
Com o Rubéns na carcunda.”
E outro:
“Chamaro o Licinho de rato
O Licinho não gostou
Chamaro o rato de Licinho
O rato suicidou.”
E mesmo com alguns problemas de saúde, ao falar da visita ao médico:
“- O Dotô pergunto o que que’u tinha.
Uai, eu tenho uma vaca, umas galinhas e uma mulher véia.”
E olhando sério para o pé de manga carregado do Sô Mauro, no outro lado da rua, Bastião perguntava ao interlocutor:
- Sabe por que a manga cai do Pé?
- Não
- Porque não sabe descer.
Dito por outra pessoa, talvez não tenha graça, mas contada pelo Sô Sebastião, e quase sempre acompanhada de uma gargalhada, não tinha quem não ria.
Os casos, versos e piadas são muitos.
“- Martinha! Vem ver quem tá aqui.”
E Dona Martinha vinha participar da conversa.
Todo mundo parava para prosear com ele (Foto: Luciano Baía Meneghite)
Mas, meses atrás Sô Sebastião teve uma notícia triste. Perdeu o filho mais velho.
Aos 80 anos, a saúde já não era a mesma de tempos atrás e aos poucos ele foi deixando a esquina.
Todos que passavam em frente a sua casa sentiram sua falta e torciam que melhorasse logo e voltasse a “cobrar o pedágio”. O sorriso.
Após descobrir um câncer, Sr. Sebastião faleceu neste domingo,29/01/2017
Sempre ao se despedir de alguém dizia:
"- É bão brincá né?!"
É Sô Sebastião.
Foi bão brincá.