24/02/2017 às 14h28min - Atualizada em 24/02/2017 às 14h28min

Morre em Belo Horizonte o Dr. Oiliam José

*09/02/1921 +23/02/2017

: Prof. Luiz de Melo Sobrinho, Prof. Oíliam José, José do Carmo Rodrigues, Dr. Ronald Alvim Barbosa no dia 20.10.2010 nos 50 anos de Oíliam José na Academia Mineira de Letras
Faleceu nesta quinta-feira, 23 de fevereiro, em Belo Horizonte, onde residia, o professor Oilliam José, que por muitos anos foi advogado e professor em Leopoldina. Ele nasceu em Visconde de Rio Branco em 9 de fevereiro de 1921. Filho de Chamel José e de Gpurra José. Casou-se com Maria da Glória Batista José.Fez o curso secundário no Colégio Rio Branco, em sua terra natal, o de contabilidade em Miracema, RJ, e em Leopoldina, MG, e o superior na Faculdade de Direito de Juiz de Fora, MG, pela qual se bacharelou em 1963. Fundou e dirigiu os jornais O Ginasiano e O Escoteiro.
 
Integrou os corpos docentes do Ginásio Rio Branco, de Visconde de Rio Branco, do Ginásio São Paulo de Muriaé, do Ginásio Leopoldinense, de Leopoldina, transformado no Colégio Estadual Prof. Botelho Reis, no qual foi titular da cadeira de História Geral e do Brasil, e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Santa Marcelina, de Muriaé, na qual foi catedrático de Literatura Portuguesa e Brasileira. Foi secretário Municipal da Prefeitura de Visconde de Rio Branco. Contabilista da Secretaria de Finanças do Estado de Minas Gerais, na gestão de Celso Porfírio de Araújo Machado chefiou seu gabinete na direção da Imprensa Oficial (1957-1959) e Secretário de Segurança Pública (1959-1961).
 
Para refrescar a memória
Publicado no Jornal Leopoldinense Online em 01/10/2003
 
OILIAM JOSÉ

Nelson Vieira Filho

Muitos tentaram sem sucesso a Academia Mineira de Letras, mas, por seus excepcionais méritos, Oiliam José lá se encontra com merecido destaque.

Fiquei imensamente feliz ao receber, via correio, com carinhosa dedicatória do autor, o livro Reflexões & Defesa, a mais recente (certamente não a derradeira) obra componente da extensa obra literária de Oiliam José. O livro em questão faz revelações para mim pioneiras, inclusive de que o nosso queridíssimo Monsenhor Antônio Chamel recusou indicação para substituir Dom Gerardo Ferreira Reis como Bispo da Diocese de Leopoldina.

O professor, advogado, historiador e acadêmico Oiliam José, ao demonstrar continuadamente sua vastíssima cultura, poderia ser visto como esnobe, não fosse ele sabidamente um homem humilde, de humildade talvez excessiva pelo somatório de todos os seus valores, sempre merecidamente enaltecidos e jamais contestados.

Depois de cursar o primário e o ginasial na minha Miraí, eu vim para o Clássico em Leopoldina. Era o ano de 1954 ! Cheio de ideais, já na estrada comecei a me programar para aqui brilhar como aluno. De cara, porém, duas decepções, a primeira, logo nos primeiros dias, quando, ao escrever incorretamente a palavra língua, descobri que, ao terminar o ginasial em Miraí, eu era quase analfabeto em matéria de acentuação gráfica. Felizmente, surgindo como um anjo em meu caminho, meu contemporâneo Deodato Rivera, em algumas aulas particulares, igualou-me ao restante da turma. À primeira decepção se juntou imediatamente outra, talvez mais aguda. Papai, que estudou alguns anos no Caraça, havia sido meu professor de francês no Ginásio de Miraí e eu era aplicadíssimo na matéria; no Clássico desaprendi ao invés de me aperfeiçoar, vez que ao professor de francês faltava qualidade, não era tão bom quanto dona Regina, a professora do Científico. 

Como que compensação divina, encontrei o Professor Oiliam José. Lembro-me que ele se impunha por si mesmo e, se queria censurar algum procedimento de aluno, dirigia-se a ele cerimoniosamente em voz baixa, quase em sussurro. Respeitava e se fazia respeitar, sem shows humilhantes desnecessários. 
Sempre de terno e gravata, falava a matéria pausadamente e em seguida a ditava; todos, sabendo que o professor Oiliam dominava o assunto, anotávamos tudo com gigantesco interesse.  Comentou-me  a colega e amiga Helenice Bella: “costumo me lembrar dele a andar durante toda a aula, socando as canelas nas quinas dos bancos de ferro de nossas carteiras e imagino que isto devia lhe causar hematomas.

Por causa dele, História se tornou meu xodó e eu cada vez mais me apaixonei pela matéria. Por isto, sempre que agora leio estar o ENEM aceitando erros de português, desde que tais erros não firam o sentido da frase, eu me recordo, sorrindo sem mágoa, que o Professor Oiliam poderia ter me dado 10 numa prova parcial escrita, mas me deu 9,98 porque ao invés de, no início de uma dissertação, eu escrever “No dia 7 de setembro de 1822”, escrevi “Em 7 de setembro de 1822”.

A severidade do 9,98 não arrefeceu meu ânimo; talvez ao contrário, deve tê-lo adubado generosamente. Certamente influenciado por meu encantamento com as aulas do Professor Oiliam, eu fui para o Rio para fazer Faculdade de História, mas papai argumentou “se você fizer História não poderá advogar, mas se fizer Direito poderá lecionar História”.  Acatei a “decisão” de papai e deu certo: com relativo sucesso, advoguei décadas e, em Ubá-MG,  acabei por lecionar História, logicamente sem sequer chegar perto do brilho de meu mestre Oiliam José, cuja didática e conhecimento jamais deixei de enaltecer e, no fundo, talvez até mesmo invejar. Ao final de cada aula, se aplicasse prova sobre o tema abordado, todos tinham chance de acertar praticamente tudo, mesmo porque, além da sua, nenhuma outra voz se ouvia na sala de aula, mercê do natural respeito que ele de todos obtinha. Quando o Professor Oiliam respirava, fazendo eventual pausa em sua fala, podiam-se ouvir até os zumbidos de insetos acaso presentes na sala de aula.

Já casado, do professor Oiliam me tornei vizinho até sua mudança para Belo Horizonte e nossas esposas e nossos filhos sempre tiveram excelente convívio. Não escreverei hoje sobre o vizinho, o advogado, o acadêmico, o historiador. Quem sabe o farei em oportunidade outra? Agora, resta-me agradecer publicamente a gentileza de que fui alvo por parte do Professor Oiliam José, sem dúvida o melhor professor que tive em toda minha vida.


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