31/08/2017 às 07h09min - Atualizada em 31/08/2017 às 07h09min

O Córrego do Feijão Cru e a memória de Leopoldina

Se não podemos, talvez, salvar o nosso córrego, de desaparecer podemos tentar salvar sua história.

Natania Nogueira
Monumento ao Arraial do Feijão Crú(Foto João Gabriel B.Meneghite)
Os mais jovens possivelmente conhecem o "Feijão Cru" como o córrego sujo, como escoadouro do esgoto da cidade de Leopoldina (MG) e desconhecem a sua importância para a história da nossa cidade. Possivelmente eles e elas ouviram na escola, nos anos iniciais do ensino fundamental, a "Lenda do Feijão Cru", nosso mito fundador, que narra um episódio que deu nome ao córrego e que teria marcado o início da ocupação do território.
Mural na Praça Felix Martins, que conta a mito de fundação de Leopoldina, tendo como personagem central o córrego do "Feijão Cru" - a autoria da obra é de Funchal Garcia.
Mas todo mito fundador perde seu significado quando suas referências são abandonadas. Imagino que hoje um adolescente que passe por uma das pontes construídas sobre o Feijão Cru não veja nele mais do que um esgoto malcheiroso que corta a cidade. Da minha parte, guardo outras lembranças. Eu me lembro, de quando criança de ir para a beira do córrego para brincar de pegar "peixinhos". O Feijão Cru, naquela época, tinha águas cristalinas e fervilhava de vida. 
 
Não vou levantar aqui o mérito da preservação deste patrimônio natural e essencial da nossa cidade pelos poderes públicos e pela própria população. Outros já o fazem, constantemente. Mas vou falar aqui sobre outra forma de preservação, a da memória do nosso córrego ancestral.
 
O nosso "Feijão Cru", que deu nome ao arraial fundado aqui ainda nas primeiras décadas do século XIX não está desaparecendo apenas na sua existência física, ele está perdendo sua memória. Se não podemos, talvez, salvar o nosso córrego, de desaparecer podemos tentar salvar sua história dando a ela uma (re)significação, não deixando que ela desapareça do imaginário local.
 
Para isso é preciso renovar o ensino da História Local e incentivar a pesquisa em História. É necessária uma parceria entre poder público, profissionais do ensino, universidade(s) e comunidade. É preciso dar significado ao espaço que habitamos, aos seus elementos geográficos, culturais e históricos. E isso não pode ser um trabalho solitário de um ou outro indivíduo. Já ficou mais do que provado que projetos neste sentido são perenes, eles são esquecidos e abandonados, passado o furor inicial que provocam. Infelizmente, não damos continuidade ao que começamos, ou perdemos o apoio recebido inicialmente.
 
A iniciativa deve partir da sociedade civil, em seu todo, que precisa entender a necessidade de se preservar a memória local, de se ensinar a história local. Como professora, posso trazer aqui minha experiência. Quando eu separo uma aula para falar sobre algum aspecto da História de Leopoldina eu tenho uma audiência atenta na sala de aula. Eu vejo o interesse dos meus alunos. Eles passam a se perceberem como parte de um todo. Passam a ver a cidade com outros olhos.
 
Duas coisas precisam ser priorizadas: a formação e a continuidade. A formação de professores, que precisam saber mais sobre a História de Leopoldina para que possam utilizar o material disponível na forma de livros e textos disponíveis na internet para ensinar a História de Leopoldina. A continuidade de projetos e ensino e de educação patrimonial que já foram colocados em prática, com relativo sucesso, em parceria com o poder público.


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