10/10/2017 às 17h53min - Atualizada em 10/10/2017 às 17h53min

Atire a primeira pedra

Wesley Moraes Botelho – Advogado

Leopoldina se assustou com a violência repetida em conhecido e respeitável estabelecimento comercial que embala muitos de nossos momentos de felicidade e alegria, mas que, infelizmente, já experimentou mal maior e irreparável. Para sempre.

Dois rapazes, tentando realizar um deplorável roubo, invadiram o local e foram rechaçados por um agente da lei. Um dos que delinqüiu, um jovem leopoldinense de 15 (quinze) anos, que não estava armado, tomou 5 (cinco) tiros a queima roupa. Cinco.

Apreendido, aguarda que a Justiça lhe aplique a pena devida e, para lamento dos seus, merecida e justa, se fiel aos termos da lei. Para eles a desgraça assegurada. O policial, enaltecido, recebe loas por balear o adolescente, e assim experimenta a efêmera glória terrena.

Não cabe analisar cada ação, e apresentar méritos e deméritos em cada qual. Se cuida esta reflexão de assegurar que o delito se resolva na forma da lei. É como desejaria que ocorresse se fosse um dos meus.

O linchamento, físico ou moral; a execração pública e humilhante; os comentários desairosos, a imputação exacerbada de todos os males do mundo não podem ser penas acessórias para ninguém, ainda mais que falamos de um adolescente de quinze anos. A notícia que ajudou a criar, sempre será deplorada, mas não se há de esquecer que não se refere a uma coisa ou ser sem alma.

Por trás de histórias tristes como esta tem uma família, pai, mãe, avós, tios, primos e amigos. É um drama humano. Ainda tem uma sociedade que não podemos permitir venha a retroagir ao tempo e sob as regras de Talião. Não podemos contribuir para que se faça com ódio, vingança e armas a cidade onde desejamos criar nossos filhos e netos.

Todos já tivemos, ou teremos quinze anos. Nós, filhos, irmãos, amigos e inimigos. Não se cuida de bandido irrecuperável, mas um adolescente que cometeu um erro e, só por ele, deve pagar.

E que aprenda e nunca mais repita ato semelhante.

A ira, os comentários desairosos, as pragas rogadas atingem o acusado como pena acessória, mas, ainda pior, também ferem de morte os pais e familiares, de todos os lados. O infrator deve aproveitar eventual punição para fazer dela o ponto de partida para novos rumos e ações diversos do erro reconhecido. Como nunca antes tinha delinqüido, que não torne a fazê-lo.

Peço sempre a Deus que meus comentários sobre terceiros passem por três barreiras que desejo intransponíveis. Primeiro questiono se minha fala é expressão fiel da verdade; depois, se o que digo contribui para minorar o mal ou mudar o fato e, por fim, se fosse comigo como gostaria de ser tratado. Assim também julgo meus semelhantes, como gostaria de ser julgado.

Que os maus exemplos não tenham eco nos meus, nem se repitam. Quem cria monstros, pode ser por eles devorado. Se em nada posso contribuir, permita Deus que não auxilie a ainda mais piorar. Se produzirmos morte física ou moral, também estaremos arriscando morte igual. Se o monstro se criar que não seja com alimento por nós fornecido, e que tal certeza nos baste.

E, como disse Jesus àquela mulher adúltera. “Mulher, alguém te condenou? Todos os pecadores, humanos passíveis de erros, foram pegos em suas próprias fraquezas. Eles desnudam a verdadeira natureza humana. Todos erram. Todos se foram? Ninguém teve coragem de atirar a primeira pedra naquela mulher.” Que esta pedra não parta de mim ou dos meus, e que erros de outrem bastem como exemplos para não os repetir. Que assim seja.


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