29/12/2017 às 13h26min - Atualizada em 29/12/2017 às 13h26min

Muitas ações governamentais têm como objetivo “apagar o fogo", e não o de resolver o problema.

Elas são frequentemente paralelas, superpostas, competitivas ou até conflitantes, o que diminui sua eficiência e eficácia.

Antônio Márcio Junqueira Lisboa (*)
Fotomontagem: Luciano Baía Meneghite
Existem no Brasil de hoje, vários milhões de crianças, jovens e adolescentes considerados de alto risco, sob todos os aspectos, porque: a)  a pobreza afeta a saúde física e mental; b)  a fome e a desnutrição prejudicam o desenvolvimento físico e intelectual; c)  a falta de um lar ou as condições habitacionais precárias e inadequadas tornam o viver amargo e difícil, seja em função das doenças que provoca e mesmo a morte, seja em função das dificuldades para desenvolvimento de potencialidades já tão reduzidas dos menores; d) a vida se desenvolve numa vizinhança que provavelmente oferece poucas oportunidades de  um verdadeiro lazer e segurança, e muitas oportunidades de perigo, brutalidade, exposição e comportamentos desviados; e)  a vida não oferece muitas esperanças e perspectivas e vai produzindo um sentimento de exclusão e rejeição; f)  precisa  recorrer a cuidados médicos de natureza em geral inferior; g)  frequenta escolas de qualidades duvidosas; h) as perspectivas de vida muito limitadas e  sombrias, até mesmo antes de sua vida começar’ (IPEA). 

Acredito que muitas coisas tenham mudado para melhor e algumas, para pior.  A desnutrição, a mortalidade infantil, o analfabetismo, diminuíram. Quanto à qualidade de vida, as perspectivas não são nada boas.

A violência tem sido a causa mais importante de morte entre os adolescentes; os roubos, os assaltos, os estupros, as agressões, os assassinatos, a corrupção; a violência contra as mulheres e as crianças - a violência doméstica - tem crescido tanto que motivou a criação de juizados especiais, que têm, infelizmente, pouco poder de resolução.O número de lares desestruturados, os capengas, onde existe somente um cônjuge, os comandados por mulheres abandonadas e sem recursos, vêm aumentando.
  
A conivência de policiais com o crime organizado; a desconfiança e o medo da população com relação ao aparelho policial; a falência do sistema de recuperação de menores infratores; o caos nas penitenciárias; o envolvimento cada vez maior de magistrados, policiais, profissionais liberais, políticos e autoridades com crimes, principalmente com a corrupção. Tudo isso vem em um crescente assustador, não poupando as crianças.

Infelizmente, boa parte das ações governamentais têm um caráter compensatório, residual, assistencial e emergencial. As ações desenvolvidas pelos governos federal, estadual e municipal, e por organizações não-governamentais são frequentemente paralelas, superpostas, competitivas ou até conflitantes, o que diminui sua eficiência e eficácia.   Muitas delas têm como objetivo “apagar o fogo", e não o de resolver o problema. 

Falta dinheiro? Tenho grandes dúvidas quando os jornais, revistas e a televisão, relatam os rombos ocorridos em bancos, nas estatais, em vários Ministérios, pagamento irregulares de precatórios, o grande número de novos milionários, inclusive políticos, advogados, policiais, magistrados, todos engordados nas tetas da República. 

E o pior, para atender a interesses políticos e eleitoreiros, são colocados em postos chaves pessoas desonestas ou, muitas vezes, honestas e de boa fé, cujo único defeito é o de dilapidar o erário público por serem corruptas ou absolutamente incompetentes. 

Minhas crianças! Para que vocês tenham um ano novo melhor é preciso que nossos governantes estejam conscientes que somos um país que necessita aplicar bem os recursos, controlar e priorizar os gastos, o que exige competência, honestidade e, principalmente, muita criatividade.

Ah!  E que nossas autoridades obedeçam a nossa Constituição, que diz que vocês devem ser consideradas de "prioridade absoluta"!  

Que, em 2018, consigamos eleger um bom presidente; Que ouçamos, com mais frequência, a frase “Abaixo de Deus...”; Que eu consiga convencer as autoridades e meus colegas pediatras, que o controle da violência é um problema pediátrico, pois depende da formação de bons cidadãos.  Só assim nós teríamos um FELIZ 2018.

(*) Membro da Academia Leopoldinense de Letras e Artes


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