24/11/2018 às 16h43min - Atualizada em 24/11/2018 às 16h43min

‘Inventário’, do poeta Marcos Vinicius Queiroga Pereira, venceu o Concurso de Poesias Augusto dos Anjos

As 20 obras finalistas foram apresentadas nesta sexta-feira, 23 de novembro de 2018, quando foram escolhidas as 5 primeiras colocadas e os três melhores intérpretes.

João Gabriel B. Meneghite
A Secretaria Municipal de Cultura de Leopoldina realizou nesta sexta-feira, 23 de novembro de 2018, no Centro Cultural Mauro de Almeida Pereira, a solenidade de premiação do XXVII Concurso Nacional de Poesias Augustos dos Anjos, que tradicionalmente é realizada no Museu Espaço dos Anjos.  A mudança de local foi justificada pela temporada de chuvas neste mês que segundo a previsão do tempo deve se manter por mais alguns dias.
 
As 20 obras finalistas foram apresentadas a partir das 19h30min, quando foram escolhidas as poesias classificadas nos cinco primeiros lugares, bem como os três melhores intérpretes. O corpo de jurados foi formado por membros da ALLA-Academia Leopoldinense de Letras e Artes: Maria José Sales, Maria José Garcia, Natania Nogueira, Arnaldo Spindola, Luiz de Melo Sobrinho e Rafael Locha.
Os jurados Maria José Sales, Maria José Garcia, Natania Nogueira, Arnaldo Spindola, Luiz de Melo Sobrinho e Rafael Locha.
 
Dos poetas inscritos estiveram presentes na solenidade Aloísio Ferreira de Araújo, Elisa Kitamura, Isabela Ribeiro Marinuse e Márcia Jader, que receberam certificados de participação.
 
Os declamadores escolhidos pelos autores foram: Amanda Olindo Ferraz, Altair Soares, Carlos Augusto, Cristiane Ribeiro, Fabrício Manca de Souza, Liliane Gonçalves, Hugo Brum, Júlia Farinazzo, Kiko Loçasso, Marconi, Maria José Baía Meneghite, Mirela, Sérgio Júnior e Wilens Douglas.

As poesias vencedoras

1º lugar: ‘Inventário’, do poeta Marcos Vinicius Queiroga Pereira. Ele foi representado pela declamadora Maria José Baía Meneghite, que recebeu o troféu das mãos da Secretária Municipal de Cultura Jussara Thomás.

2º lugar: ‘Um Poema Para Menina’, do poeta Luiz Eduardo de Carvalho. Ele foi representado pela declamadora Mirela Matozinhos, que recebeu o troféu das mãos da Secretária Municipal de Educação Regina Lúcia Barbosa  Brito de Oliveira.

3º lugar: ‘Noite de Insônia’, do poeta Lucélio Lopes da Anunciação. Ele foi representado pelo declamador Wilens Douglas, que recebeu o troféu das mãos de Neusa Maria Domiciano.

4º lugar: ‘Aprendizado’, da poeta Maria do Carmo Almeida Correia. Ela foi representada pelo declamador Cristiano Franco, que recebeu o troféu das mãos da acadêmica da ALLA, Gláucia Costa.

5º lugar:  ‘A primavera em mãos’, da poeta Ana Margarida. Ela foi representada pela declamadora Amanda Ferraz, que recebeu o troféu das mãos da funcionária da Biblioteca Pública Municipal, Aparecida Figueira de Carvalho.
 
Os melhores intérpretes
 
1º lugar: Marconi, com a declamação da poesia ‘Ao som da bela agonia’. Ele recebeu a premiação das mãos do presidente da ALLA – Academia Leopoldinense de Letras e Artes Luiz de Mello Sobrinho.
 
2º lugar: Fabrício Manca, com a declamação da poesia ‘O Mito de Dominguinhos’. Ele recebeu a premiação das mãos da servidora Neusa Domiciano Vargas, da Biblioteca Pública Municipal.
 
3º lugar: Cristiane Franco, com a declamação da poesia ‘Aprendizado’. Ela recebeu a premiação das mãos da servidora da Biblioteca Pública Municipal Aparecida Figueira de Carvalho.
 
A repercussão do evento
 
O prefeito José Roberto de Oliveira comentou sobre a importância da criação do Centro Cultural Mauro de Almeida Pereira, cujo espaço atende a sociedade na realização de eventos, valorizando as expressões artísticas. Ele recordou dos trâmites burocráticos do pedido de cessão do prédio. O chefe do Poder Executivo comentou que todo o sistema de refrigeração do prédio já foi adquirido, mas devido a problemas financeiros, terá que postergar a sua instalação. Ele lamentou as condições de penúria que as prefeituras de todo o Brasil estão enfrentando, justificando a falta de apoios e investimentos em eventos importantes por parte da Prefeitura de Leopoldina.
José Roberto de Oliveira, prefeito do município de Leopoldina.

Marconi (foto) foi eleito pelos jurados o melhor intérprete. Em seu discurso ele disse que é militante do movimento de poesias há anos, desde quando ingressou nas primeiras escolas em sua terra natal, Bicas. “Estou em Leopoldina há cinco anos, pela primeira vez, participando [do concurso], para mim, é uma alegria muito grande poder estar aqui. Foi uma situação ocasional, não estava premeditada, mas, acabou dando certo. Destaco a grandeza do poema que me permitiu a declamação que vocês viram, isso faz muita diferença para o declamador. Os versos escritos me tocaram profundamente, tive a oportunidade de compartilhar com vocês um pouco da minha leitura a respeito dessa poesia tão linda. Gostaria de agradecer a prefeitura pela organização, ao corpo de jurados e todos vocês, para mim é uma honra estar aqui”, comentou.


Maria José Baía Meneghite declamou ‘Inventário’, de Marcos Vinicius Queiroga Pereira. Ela comentou que ficou muito emocionada quando fez a primeira leitura da poesia, recordando de seu pai. “Quem de nós não tem um ‘Inventário’ para fazer, de alguma coisa na vida e, principalmente, de um pai. Lembrei das coisas que ele podia me dar, das coisas que ele não podia me dar, das coisas que ele prometia e não podia cumprir. Quando crescemos, envelhecemos, vivemos os mesmos problemas com os filhos, passamos a ter uma compreensão melhor da vida e perdoamos os pequenos erros de nossos pais, pois, a vida, é um aprendizado. Ele escreveu tudo o que senti e que muita gente sente”, comentou.
Maria José Baía Meneghite (D) declamou ‘Inventário’, de Marcos Vinicius Queiroga Pereira. Na foto, ela recebe o troféu de Marcos das mãos da secretária de cultura Jussara Thomás.

A Secretária Municipal de Cultura Jussara Thomás agradeceu a presença do público e a parceria da ALLA, que tem dado um suporte fundamental para a promoção da cultura em Leopoldina. Jussara disse ainda que está há seis anos à frente dos trabalhos na Secretaria e que percebeu a evolução dos trabalhos realizados até o presente momento. Ela convidou a população a acompanhar os trabalhos e eventos divulgados pela sua pasta na página oficial da Secretaria de Cultura nas redes sociais.

O presidente da ALLA – Academia Leopoldinense de Letras e Artes, Luiz de Melo Sobrinho, comentou que foram 27 edições do evento, que hoje, atinge todo o território nacional. Disse que o nível das poesias vem melhorando a cada ano e espera que cresçam as participações dos poetas.

Em contato com o Jornal Leopoldinense, o poeta Marcus Vinicius Queiroga Pereira(foto), relatou a sua alegria com a conquista e fez agradecimentos:


“Gostaria de dar parabéns à Secretaria Municipal de Cultura de Leopoldina pela contínua realização do concurso, com a colaboração da Academia Leopoldinense de Letras e Artes, e de agradecer, especialmente, à Maria José Baía Meneghite, pela interpretação do texto. Para o poeta, solitário em seu ofício, um prêmio sempre representa a oportunidade de ser lido e reconhecido por outros escritores e críticos. Registro aqui, portanto, a minha satisfação de, além do troféu Augusto dos Anjos, receber a leitura e o incentivo de meus pares”.  

INVENTÁRIO
Marcos Vinicius Queiroga Pereira (Tonho)
 
Penso no pai sempre com desculpas.
Usa palavras difíceis, fora do vocabulário das crianças.
Para um pouco de lado na porta,
como se houvesse a dúvida
de entrar ou de partir.
O terno parece envelhecido
e as mangas apresentam rugas que não tinham antes.
 
Penso no pai sempre com fantasias
No aniversário, teremos muitos brinquedos,
que ele só não trouxe ainda,
por causa do peso
Um vulto desaparece na memória
onde também desapareço.
É ele a figura que vejo
distante no espelho?
 
Penso no pai sempre com adiamentos.
A vida vai ficar para depois de amanhã.
Enquanto isto, anotamos em papéis
as tarefas não feitas
e o futuro rabiscado como um rascunho.
O trem na estação do subúrbio
apita a sua falta.
O tempo não me esperou.
Retorno ao quarto emprestado da infância,
para mais tarde devolvê-los:
o quarto e a infância.
 
Penso no pai sempre com uma pasta
de desatenções na mão.
Esqueceu os afetos trancados
em alguma gaveta do escritório.
Tinha pressa de chegar a algum lugar,
embora ele não soubesse nomeá-lo.
Será que sou sua continuidade
ou o seu contrário? 
 
Penso no pai como se um retrato,
posto primeiramente na sala
e agora em uma caixa do sótão.
E em como aprendi sobre o tempo
com essa fisionomia amarelada,
perdida entre outros não pertences.
Em que se ocupa ele durante a janta,
com o cenho franzido
e o diálogo adiado?
 
Penso no pai como um silêncio,
um apito de trem que não se ouve mais
em uma estação enferrujada.
Vejo um vulto indo sobre os trilhos
e o nevoeiro na plataforma
Avisto o pai no vagão que parte,
jamais no que retorna.


Confira os títulos das 20 poesias finalistas e os pseudônimos dos autores escolhidos pela Comissão Julgadora:

A interrogação da vida (pseudônimo: Edujaem Sued)
Ao som da bela agonia (pseudônimo: Braguinha)
A paz (pseudônimo: Gato Malhado)
Aprendizado (pseudônimo: Esmeralda)
A Primavera em mãos (pseudônimo: Girassol)
Estações da vida (pseudônimo: Cavaleiro das Letras)
Celebração (pseudônimo: Melchior)
Inquieto (pseudônimo: Açucena Linhares)
Inquisição (pseudônimo: Igor de Miranda)
Inventário (pseudônimo: Tonho)
Livros (pseudônimo: Garota Lunar)
Monumentos íntimos (pseudônimo: Fera ingrata)
Noite de insônia (pseudônimo: Airton Senna)
O Mito do Dominguinhos ( pseudônimo: Luiz Lua Gonzaga)
O Tapete (pseudônimo: Tapeceiro)
Sem sentido (pseudônimo: Solidão)
Soneto do cotidiano (pseudônimo: Colibri)
Tesouro sem preço: (pseudônimo: O Sonhador)
Um poema para menina (pseudônimo: Joel Bento)
Vazio Interior (pseudônimo: Stella)

Com informações da Secretaria Municipal de Cultura de Leopoldina


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