01/03/2019 às 19h41min - Atualizada em 01/03/2019 às 19h41min

Nem todo carnaval é Carnaval

Foto: Amantes do Carnaval
Por Luciano Baía Meneghite

Não gostar de carnaval, seja por motivos religiosos ou apenas por preferir ficar sossegado em casa é uma opção que devemos respeitar.  O mesmo respeito merece os carnavalescos que fazem a maior manifestação cultural do Brasil. Pra alguns o carnaval não passa de uma época de alienação, bagunças e desperdício de dinheiro.  Será?

Embora caracterizado como a “festa da carne” época de excessos que antecedem à quaresma, o carnaval foi evoluindo para muito mais que isso.  Não se deve culpar a festa por distorções de caráter do ser humano que vemos até dentro de igrejas. Infelizmente nos últimos anos, tais distorções vêem se acentuando e boa parte por culpa da grande mídia. 

O carnaval mesmo envolve todas as artes e diferentes setores da economia, mas ao invés de valorizarem mais quem de fato o constrói, no geral vemos nessa época a exaltação de sub-celebridades, BBBostas , músicas descartáveis de péssimo gosto e ritmos alheios a folia.  

“Super Escolas de Samba S/A... Super alegorias... Escondendo gente bamba que covardia...”
(Bumbum Paticumbum Prugurundum - Beto Sem Braço e Aluisio Machado - Império Serrano 1982). 

Antes Nelson Sargento já havia composto Agoniza, Mas Não Morre:
“...Mudaram toda sua estrutura, lhe impuseram outra cultura e você nem percebeu” Gravada em 1978 por Beth Carvalho

 Vejam só! O jeito que o samba ficou e sambou ...Nosso povão ficou fora da jogada...Nem lugar na arquibancada...Ele tem mais pra ficar...” Excelente critica da São Clemente em 1990 aos rumos tomados pelo carnaval. (E o Samba Sambou - Chocolate, Helinho 107, Nino, Mais Velho, Alceu). 

São apenas três exemplos da consciência critica dos verdadeiros carnavalescos em relação à realidade do país e ao próprio meio. Quem, por exemplo, depois de escutar o samba-enredo da Mangueira deste ano pode dizer que carnaval é coisa de alienado?

Muita coisa ruim continua aparecendo ,mas houve também uma reação já bem conhecida do surgimento e crescimento de blocos de rua que defendem o carnaval tradicional.

Em cidades como Leopoldina, sem as grandes estruturas das agremiações de Rio de Janeiro e São Paulo, suas escolas de samba foram sumindo uma a uma. Quem tem menos de 30 anos não viu os grandes desfiles da Unidos dos Pirineus, Unidos da Vila, Cutubas, Princesa Leopoldina, União das Cores, Acadêmicos de Leopoldina,Juventude Imperial, Unidos do São Cristovão, Alto do Cemitério entre outras. Não que fossem perfeitos, mas não faltava público e animação.

As novas gerações, influenciadas pela mídia, não sentem tão atraídas a reorganizarem nesse formato. .  Daí o surgimento de novos blocos de rua de mais fácil organização.  É positiva a criação e crescimento do Cooper Beer, Bão Igual Bosta, Fla Lelê, Pé de Cachorro entre outros.

Triste é ver grupos de jovens sem nenhuma motivação além de se drogar, rodando de um lado para o outro, feitos zumbis. Geralmente ao som de “bate estacas” no último volume. Na verdade isso é o ano todo, apenas ficam mais visíveis no carnaval por se concentrarem em alguns pontos de Leopoldina.  Daí a critica generalista de que o carnaval seja o gerador de tudo que não presta.

Havendo maior interesse do poder público, do comércio e dos próprios carnavalescos, através de uma liga que de fato funcione, nosso carnaval não só pode voltar ao que era, mas evoluir para algo bem melhor.

Imaginem o salão do Cutubas, a quadra do Pirineus, o Poliesportivo do Bela Vista ou o Centro Social Urbano ocupados por oficinas de percussão, dança, corte e costura, artesanato. Os carnavalescos ainda vivos passando seus conhecimentos e formando uma nova geração com amor ao carnaval. Tudo isso já foi feito em outros locais. Olhem o exemplo do Grupo Pérola Negra. Olhem o exemplo do carnaval do distrito de Tebas. Por que não ampliar idéias do tipo para toda a cidade?  

Qual foi a última vez que a Secretaria Municipal de Cultura se reuniu para ouvir os carnavalescos?

Qual a última vez que alguma agremiação da cidade promoveu algum evento?

 É só não pensar pequeno. E agir.
 
 
 


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