26/04/2019 às 22h13min - Atualizada em 26/04/2019 às 22h13min

A Leopoldina que me acolheu. Por Alexandre Carlos Moreira

Alexandre Carlos Moreira

Há oito anos cheguei, numa manhã chuvosa à Leopoldina. Confesso que, além do que encontrei na internet pouco antes de vir, praticamente nada sabia sobre a cidade e, na minha fantasiosa ignorância, imaginava ter o aspecto das cidades históricas mineiras que eu conhecia.

Minha decepção por não encontrar a arquitetura colonial foi amplamente compensada pelo fato da cidade ser bastante plana, sem aquele sobe e desce contínuo de ladeiras das suas irmãs, as chamadas históricas. Mesmo naquela manhã chuvosa, pós vendaval da noite anterior que derrubou galhos de árvores, destelhou casas, cobriu ruas e calçadas de folhas, caminhar pela primeira vez pela Cotegipe foi bastante prazeroso.

Cresci cercado por mineiros. Os melhores amigos dos meus pais foi um casal de Guaxupé que adotei como padrinhos em cuja casa havia um pé de ora-pro-nóbis, planta cujo nome, para mim,soava como angelical música e remetia à penumbra de igrejas barrocas construídas com devoção, suor, ouro e arte, e que minha mãe justificou como sendo “um tempero mineiro”.Lúcia Maria, minha melhor amiga desde sempre, teve pouquíssimo trabalho em me convencer a passar todos e mais animados carnavais da minha adolescência no interior de Minas. Por sua vez foi D. Odete, a responsável pelas nossas refeições, quem encontrou a melhor forma de expressar seu amor e saudade pela sua amada Minas Gerais encantando nosso paladar com quitandas de pães de queijo, de biscoitos de polvilho, de doces feitos em  tachos onde, numa requintada receita que incluía muito talento e longa experiência, transformava leite e açúcar numa experiência gastronômica de dourada e aveludada cremosidade. E o que dizer das compoteiras plenas de goiabas, laranjas, cidras, figos e mamão boiando em caldas perfumadas com cravos-da índia? Sim, eu conheci Minas e os mineiros, muito antes de conhecer Minas Gerais, se me permitirem o paradoxo.

Leopoldina e eu foi uma paixão construída aos poucos, às vezes timidamente num flerte respeitoso, uma rua por vez, às vezes um bairro, noutras um grupo de pessoas, uma festa popular, um festival em algumas ocasiões. Foram dias, semanas e um pouco menos de uma década para que nossos vínculos se estreitassem a tal ponto que às vezes tenho alguma dificuldade em lembrar como era a vida antes daqui. Bastaram alguns poucos anos para que amizades fossem construídas e solidificadas. Para que essa troca de afetos que tanto pauta as relações humanas fosse mais explícita, mais sincera e promissora. Pouco tempo se passou para que a paisagem local fosse uma extensão dos meus olhos e a falta dos casarios coloniais à maneira de Tiradentes, Mariana ou Sabará que eu esperava encontrar ao chegar não mais importasse. Troquei-os pela gótica verticalidade da Catedral, pelo frontão e colunatas do Ginásio, pela sólida presença do Morro do Cruzeiro e pela brejeirice do Feijão Cru. 

Neste aniversário da minha cidade eu quero tornar a dizer o quanto sou grato a todos que tão fraternal e generosamente me acolheram e colaboraram para que eu me sentisse mais um filho desta terra, sem esquecer que, de algum modo, sob alguma inspiração, de alguma forma premonitória, mineiros como vocês haviam amorosamente me preparado, há muitas décadas, para melhor amar a aniversariante de hoje.

Que soem, então, os sinos da Catedral de São Sebastião proclamando aos quatro ventos esta festiva data e nossa satisfação de sermos filhos dessa mineira gostosa... nossa cidade.
Ora-pro-nóbis, que nome mais lindo!
 
Leopoldina 27 de abril de 2019 / Alexandre Moreira


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