12/08/2020 às 12h59min - Atualizada em 12/08/2020 às 12h59min

Professor Lydio Machado Bandeira de Mello

Por José do Carmo Machado Rodrigues
Detalhe de pintura de Lydio Introcaso Machado Bandeira de Mello retratando seu pai/Foto: Álbum de família
O doutor e professor Lydio Machado Bandeira de Mello foi ex-diretor do Colégio Leopoldinense por algum tempo, e, seguramente, um de seus mais notáveis professores em todos os tempos. Em Leopoldina, lecionou também no Colégio Imaculada Conceição, tal como registrado neste Blog na biografia de Maria Machado Rodrigues, em cuja formatura, no ano de 1933, foi o professor Lydio o orador que procedeu ao encerramento da cerimônia de diplomação das formandas.

Detentor de vasta e consagrada bibliografia, grande filósofo e jurista, foi também professor universitário em Belo Horizonte. Empresta ele nome à "Biblioteca Lydio Bandeira de Mello", na Faculdade de Direito - UFMG, sita à Av. João Pinheiro, 100 - Centro, Belo Horizonte / MG.

Em 1950, quando ingressamos no primeiro ano ginasial, no Colégio Leopoldinense, o Prof. Lydio cumpria, possivelmente, seu último ano de magistério em Leopoldina. Não tive, pois, a felicidade de ser seu aluno. Minha mãe, formada normalista em 1930, para quem ele lecionara Português no Colégio Imaculada Conceição, guardou com cuidado e me passou a terceira obra do grande mestre, "No Templo da Sabedoria".

Numa livraria da Rua da Carioca, no Rio de Janeiro, encontrei a "Teoria do Destino", de 1944; e o advogado cataguasense, Dr. Galba Ferraz, ofertou-me, recentemente, a "Prova Matemática da Existência de Deus", uma edição da Gazeta de Leopoldina, de 1942. Faltam-me "O Problema do Mal", "Minutos de Meditação", "Responsabilidade Penal" e "A Procura de Deus".

Mestre do Direito ser ser exatamente um literato, Lydio foi acima de tudo um pensador vigoroso. Em Muriaé existe uma rua com seu nome. Em Leopoldina, nem rua nem praça.

Observem a alta ideia de Deus contida na alegoria que propõe para a gênese humana, na "Teoria do Destino", p. 55:

"A queda não foi um pecado, no sentido de ofensa pensada e voluntária a Deus: foi um ato de liberdade facultado por Deus. Deus deu a Adão e Eva a faculdade de escolher (reflexão e liberdade) e a possibilidade de escolher entre o Paraíso e a Terra. Escolhendo o Paraíso, o Homem teria escolhido o dom inferior da perfeição gratuita, adquirido sem esforço e, pois, sem merecimento; tendo escolhido a terra, o Homem caiu (degradou-se e degredou-se, temporariamente), porém não pecou; não ofendeu voluntariamente a Deus. Preferiu a miséria vencível das coisas imperfeitas unida à possibilidade de adquirir por si mesmo (isto é, pelo exercício da reflexão e da liberdade) a perfeição (e o Paraíso). Tornou-se, em verdade, o Filho Pródigo, a quem o Pai deixou que partisse e, depois, recebeu de braços abertos, com o mesmo infinito e inalterável amor."

Convenhamos, tranquiliza e é muito bonito!

Os dados biográficos que se seguem nós os extraímos da coluna “Ex-Diretores”, do jornal REENCONTRO, em sua edição de setembro de 1993.

Nasceu, o Prof. Lydio, em Abaeté em 19 de julho de 1901. Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito do Rio de Janeiro, em 1927. Iniciou a advocacia em Muzambinho (Sul de Minas), Professor Catedrático de Direito Penal na UFMG, professor de Aritmética, Álgebra, Geometria, Trigonometria, Matemática, Português, Direito Constitucional, Direito Civil, Técnica Comercial, Estatística, História Econômica e Administrativa do Brasil e Legislação Fiscal. Filósofo, autor do ensaio “The Biology of war and the Law of the peace”, considerado por americanos como o melhor texto filosófico de 1969, um dos brasileiros a figurar no “The International Who´s Who”, edição de 69/70, autor de 70 livros com 44 publicados e espalhados por 800 universidades do mundo.

Compõe um sistema filosófico que procura provar serem ontológicas as leis da Matemática pura “que, por conseguinte, nos levam (em sintonia com as leis da lógica formal) a um conhecimento do universo”. Nunca foi reconhecido no Brasil.

Em 1969 ele resolveu, por correspondência, um problema matemático sem solução no Japão. Nas aulas não admitia interpelações; aplaudia, na sala, sua linha filosófica, Platô e Visconde de Araguaia.

Foi professor e Diretor Técnico do Ginásio Leopoldinense, de 01.03.46 a 01.03.47. Iniciou em 06.05.42 uma série de artigos filosóficos, “Novos Minutos de Meditação, publicados no jornal quinzenal do Ginásio, o “Três de Junho”.

Por ocasião do lançamento de seu novo livro “Prova Matemática da Existência de Deus” dirigindo-se aos alunos do Ginásio, em outubro de 1942... “E, se alguém vos disser que Deus é apenas um sonho de nossa alma o qual não tem cabida na Ciência, respondei, com esse livrinho, que Deus é Quem dá existência e leis à nossa razão; que todas as ciências conduzem a Deus pela via direta de seus corpos de doutrina; que a afirmação provada da existência de Deus é o teorema supremo das ciências matemáticas”.

Faleceu em 30.09.84, vítima de insuficiência cardíaca congestiva, no Hospital das Clínicas em Belo Horizonte, tão desconhecido quanto sua obra filosófica.

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(Publicada no jornal REENCONTRO, de setembro de 1983)


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