05/12/2020 às 09h54min - Atualizada em 05/12/2020 às 09h54min

Escola de Piacatuba foca em ‘como cuidar do emocional dos estudantes agora e na volta presencial à escola’

Na Escola Estadual Doutor Pompílio Guimarães, em Piacatuba, distrito de Leopoldina (MG), esse tem sido um dos principais focos.

Vista aérea da Escola de Piacatuba por João Gabriel Baia Meneghite
Para muitas escolas, a pandemia, enquanto um contexto coletivo de temor e luto, evidenciou quão indivisíveis são os estudantes: para poder raciocinar e aprender, eles precisam de um mínimo de bem-estar emocional. Assim, o cuidado com essa dimensão deve ser parte essencial do trabalho pedagógico remoto, bem como na retomada das atividades presenciais.

Leia + A importância de acolher os professores na volta às aulas presenciais



Na Escola Estadual Doutor Pompílio Guimarães, em Piacatuba, município de Leopoldina (MG), esse tem sido um dos principais focos. Por meio de uma série de atividades, envolvendo desde os estudantes até os funcionários, a instituição tem criado oportunidades para que as pessoas expressem seus sentimentos. “É papel da escola estar presente, manter um vínculo e mostrar que eles não estão sozinhos nesse momento”, afirma Ana Cristina Fajardo, professora de Língua Portuguesa na escola.

Com esse intuito, distribuíram mudas e sementes para os estudantes plantarem em casa e, depois, levarem algumas dessas plantas de volta para a escola e lá formar o Jardim da Quarentena. Em outra atividade, pintaram pedaços de pano com desenhos e textos que expressam como têm vivido esse momento. Depois, esses retalhos serão expostos pelos muros da escola e do entorno. Por meio dessas atividades, forma-se uma trilha para a transição entre o momento da quarentena e o de volta às aulas, de forma coletiva e dialogada.

“Muitas coisas estão acontecendo na vida de cada um, então não podemos apagar isso da escola. Temos que conversar sobre o que aconteceu com cada um e buscar saber o que realmente sentiram desse momento”, diz a professora de Ciências e Biologia Lívia Magalhães Vieira.

Todo esse trabalho com a dimensão emocional é também uma maneira de evidenciar outras aprendizagens que ocorreram durante o isolamento social, muito além dos conteúdos pedagógicos. “Percebo eles desenvolvendo maior empatia e cuidado com o outro, autonomia, organização, compromisso com as atividades e prazos. Também vejo as famílias dando o melhor que elas têm. E isso é importante porque a escola não educa sozinha”, aponta Maria Aparecida Furtado, professora de Artes.

Para a coordenadora pedagógica da escola, Rosane Tavares, promover esse tipo de atividade que permite a expressão de sentimentos é uma forma inclusive de estimular que os estudantes voltem para a escola. “Quero que eles saibam que tem alguém pensando neles nesse momento de dificuldade, que vamos passar por isso juntos e logo eles estarão de volta na escola. E que também juntos não vamos apagar tudo e passar por cima, vamos conversar sobre esse período para minimizar as perdas que eles tiveram”, diz.

Conheça algumas das atividades desenvolvidas pela escola:

Diário da quarentena

A partir de trechos do Diário de Anne Frank e do Diário de Slata, em que as adolescentes autoras registraram suas rotinas e angústias diante de guerras e violências, a professora Ana Cristina convidou a comunidade escolar a produzir seus próprios relatos e a “colocar para fora” tudo o que sentirem necessidade.

“Alguns devolveram os relatos e tem muita coisa interessante, inclusive por estimular que eles escrevam. Para os que preferiram não devolver os diários, conversamos sobre como eles estão sentindo ao escrever seus sentimentos, e os retornos são muito positivos”, conta a educadora.

Cápsula do tempo: olhando o hoje, tecendo o amanhã

Em um pequeno pedaço de papel, a comunidade escolar foi convidada a registrar como se sentem agora, do que sentem saudades, o que desejam para o futuro e para quando abrirem a cápsula. Também puderam contar quais livros, séries, filmes, músicas e acontecimentos marcaram esse período, e encerraram respondendo à seguinte reflexão: “Se eu soubesse que a pandemia fosse acontecer, eu antes teria…”.
 

Um dos estudantes da escola escrevendo a sua cápsula do tempo
(Crédito: E.E. Doutor Pompílio Guimarães)

Os registros foram guardados em um recipiente bem isolado e será enterrado na escola. Daqui a cinco anos, em um evento, vão convocar toda a comunidade escolar que participou desse projeto para reabri-la. “Este é um ano que vai ficar marcado, então será importante revisitar isso no futuro, juntos, poder ler aquilo que estavam sentindo e pensando nesse período”, diz Ana Cristina. 

Jardim da quarentena

Junto com as entregas de materiais impressos para os estudantes, a equipe também levou sementes e mudas de plantas de espécies diferentes, com instruções sobre como fazer o plantio e os cuidados com a rega e luz solar. Os demais professores e funcionários também receberam as mudas e sementes.

 
Estudantes mostrando as suas mudas plantadas
(Crédito: E.E. Doutor Pompílio Guimarães)

Durante as aulas, a professora Lívia abordou o tema da preservação ambiental, e para o retorno planeja a culminância do projeto, com a participação de um especialista para falar sobre as queimadas e de um biólogo que vai abordar o desmatamento na região onde vivem. “E depois, juntos, vamos plantar essas mudas na escola e no entorno. É uma maneira de levar um pouco da quarentena para a escola”, explica a educadora.

Retalhos da quarentena

Os estudantes, professores e funcionários receberam um pedaço de tecido em casa, com a orientação de usar aquele espaço para expressar o que quisessem em relação à quarentena e à escola. Alguns estudantes escreveram textos, outros fizeram colagens, desenhos e pinturas. 

“Conforme eu ia recebendo esses retalhos de volta, eu abria e via aquele pedacinho de retalho tão pequeno, mas com tanta coisa grande por trás das palavras, de cada traço, das cores. Eles realmente colocaram para fora o que estavam sentido”, relata a professora Maria Aparecida. 
 
Um dos painéis montados a partir dos retalhos criados pela comunidade escolar (Crédito: E.E. Doutor Pompílio Guimarães)

Para a volta presencial, ela planeja montar painéis e quadros na escola e em uma praça próxima, para que a comunidade também acesse essa produção. “Quero que todos vejam o que passou, que ficou marcado na escola e na vida deles”, afirma.

Pote da felicidade

Estudantes, educadores e funcionários receberam um pequeno pote e algumas fichas em branco. A proposta é que todos os dias eles respondam à pergunta: o que te fez feliz hoje?

“Assim eles vão colocando lá esses registros de pequenos momentos felizes do dia. Isso é importante para perceberem que nós não vivemos o tempo todo felizes, mas também não vivemos o tempo todo tristes”, explica Ana Cristina.

O que é a #Reviravolta da Escola?

Realizado pelo Centro de Referências em Educação Integral, em parceria com diversas instituições, a campanha #Reviravolta da Escola articula ações que buscam discutir as aprendizagens vividas em 2020, assim como os caminhos possíveis para se recriar a escola necessária para o mundo pós-pandemia.

Leia os demais conteúdos no site especial da #Reviravolta da Escola.

Fonte> Centro de Referências em Educação Integral


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