13/02/2021 às 10h40min - Atualizada em 13/02/2021 às 10h40min

Os Bonecos gigantes em Leopoldina

Luciano Baía Meneghite
A Baiana do Cutubas em 1938 vestida por João Luiz, ladeada por José Augusto e o presidente José Martins de Oliveira e uma outra boneca em carnaval de 1973 (Autores desconhecidos, acervo Jornal Leopoldinense)
Há muitos anos eu ouvi minha mãe falar sobre como ela e outras crianças, lá pelas décadas de 1950/60 ficavam encantadas ao ver passar a boneca baiana do Vitalino, o carnavalesco mais popular da história de Leopoldina.

Fiquei curioso e pus na cabeça que gostaria de fazer uma réplica da Baiana do Vitalino. Infelizmente nunca consegui uma fotografia da tal boneca e quase ninguém lembrava de seus detalhes. 

Lendo publicações antigas, fui descobrindo que os bonecos gigantes, que tem origem europeia,  faziam parte de uma tradição tão antiga no município de Leopoldina quanto em Olinda-PE. A diferença é que lá tiveram visão da importância cultural e turística dessa manifestação e aqui nunca deram o devido valor.

Luiz Eugênio Botelho, em seu livro “Leopoldina de Outrora” falando sobre o carnaval de Leopoldina no final do século XIX, cita o trabalho do artista espanhol Raphael Gimenez que  segundo ele, era fértil na concepção de alegorias e críticas. Chama atenção a narrativa sobre uma alegoria do carnaval de 1898:“Tratava-se de um carro no qual fora colocado um caixão mortuário, ladeado de velas acesas e cruzes. A um brado convencionado, dele surgia um esqueleto humano que se sentava e depositava cédula em uma urna colocada à sua frente. Era uma crítica alusiva ao fato de terem votado eleitores já falecidos nas últimas eleições municipais.”

Como se vê, já haviam em Leopoldina artistas que construíam bonecos para o carnaval, mas com as características dos bonecos gigantes, os registros que se tem são já do século XX.


O tradicional Clube dos Cutubas, fundado em 1925, já apresentava em seus desfiles três bonecos gigantes: o Rei, a Lourinha e a Baiana Virgulina, essa a mais famosa e a única da qual existe uma fotografia.   Ressaltando que no distrito de Tebas, o Bloco da Baiana, hoje o mais antigo em atividade do município, com 86 anos, mantém a tradição, apresentando bonecos gigantes, mulinhas e bois. Mas na sede do município, a partir da década de 1970 os bonecos foram desaparecendo do carnaval. Eu não compreendia como a cidade havia deixado morrer tal tradição.

No final de 2002 resolvi, junto com minha mãe, fazer então um boneco do próprio Vitalino que já com problemas de saúde veio a falecer em 2003, sem participar de seu último carnaval. O boneco, porém, participou e ainda hoje, depois de várias reformas, continua desfilando.

Naquele ano, Maria Lúcia Braga, então coordenadora da Usina Cultural, hoje extinta, me convidou para colocar na rua o bloco “Gigantes da Usina” com cerca de uma dezena de bonecos, a maioria feitos por ela e alunos da APAE. Fizemos até uma boneca representando Mônica Botelho, cuja roupa foi confeccionada por Ana Maria César. O bloco infelizmente não teve continuidade. A cada ano eu com ajuda de minha mãe criava um boneco novo, melhorando a técnica e desfilando em diferentes blocos como do Pirineus, Fajardo e Só Falta Você. A ideia de montar outro bloco de bonecos continuava na minha cabeça, mas as dificuldades sempre adiavam a concretização.

Foi então que no carnaval de 2006, sem nada combinado, pouco mais de vinte pessoas que se reuniam no Bar do Dário na Cohab Velha, resolveram pedir os quatro bonecos que tinha para fazer uma brincadeira pelo bairro, se empolgaram tanto que deram uma volta de quilômetros por diversas ruas de Leopoldina. Numa parada no Bar do Telo, na Avenida Getúlio Vargas, tive um “estalo” e pegando uma expressão debochada do açougueiro Marco “Bagaceira”, também usada pelo pintor Rubens Canastra que acompanhava o desfile, escrevi numa cartolina “Bão Igual Bosta” batizando o bloco.


Atualmente o bloco com maior número de foliões de Leopoldina, o Bão Igual Bosta a cada ano também aumenta o número de bonecos. (Foto: João Gabriel Baía Meneghite-2019)

De lá pra cá, o bloco e o número de bonecos só crescem a cada ano. Uma nova geração já cresceu tendo os bonecos na memória.

Infelizmente não temos um local adequado e com condições de segurança, para mantê-los expostos e mesmo uma oficina para construí-los. Tudo é feito na base do improviso e com sacrifício, mas gostamos do que fazemos.

Este ano, pelas razões óbvias eles não desfilarão, mas esperamos que voltem e permaneçam para sempre.


Além dos bonecos para o carnaval fazemos outros sob encomenda para festas particulares, exposições da Casa de Leitura e Festiviola (Fotos: Luciano Baía Meneghite e Iano Oliveira)
 
  

 


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