21/08/2021 às 09h04min - Atualizada em 21/08/2021 às 09h04min

Morre Solange Yung aos 86 anos

A “Solange do Xamego” como era conhecida, foi figura popular do carnaval e da política leopoldinense

Luciano Baía Meneghite
Solange em momento descontraído, posando com violão (Foto: Luciano Baía Meneghite- 24/03/2018)
Solange Lélia Siroco Yung nasceu em Sapucaia-RJ no dia 09 de julho de 1935, filha do construtor italiano Genaro (ou Januário) Siroco e Dona Francisca “Chiquita”. Irmã de Genaro, Benício, Mercedes, Dirce, Eunice “Nininha”, Elenice e segundo a mesma, de outros meios-irmãos por parte de pai. Quando era ainda criança a família mudou-se para Leopoldina-MG.

Solange fez o primário no Colégio Imaculada Conceição.

“Eu era da pá virada. Não estudava nada. Matava aula e tomava merenda das colegas.” Contava ela rindo.

Solange não seguia mesmo os padrões da época. Cresceu brincando de pique e comendo frutas em cemitério, andando a cavalo, pilotando motocicleta, tocando acordeom, pintando o sete e os cabelos ruivos de loiro.

Como operária da “Fábrica”, a Companhia de Fiação e Tecelagem Leopoldinense, sempre dava um jeito de escapar do serviço pesado.

“Eu era moleca mesmo. Uma vez o Raul (Raul Monteiro Filho, o popular Raul Lanterneiro) estava empurrando no corredor da fábrica um carrinho de espula e eu me escondi lá dentro. Falava pra ele ficar quieto e não me dedar. ”   

Foi também porta-bandeira do bloco carnavalesco da fábrica. Sempre gostou de carnaval.

Nesta época, segundo ela, chegou a ter um início de paquera com o jovem Ivan Botelho, filho de Ormeu Junqueira Botelho, um dos donos da fábrica, juntamente com José Ribeiro dos Reis “Zequinha Reis” e Gabriel Andrade Junqueira. Mas o romance não foi à frente.  Pouco depois foi morar com um irmão no Rio de Janeiro.

Na então Capital Federal trabalhou em confecção e após nove anos, retornou à Leopoldina.  Como o ditado diz que palhaço é ladrão de mulher, Solange se encantou mesmo foi por Roberto Vizani Yung, o “Xamego”, um ex-palhaço que fazia dupla com Xaveco no Circo Dalva que havia encerrado atividades em Leopoldina. Com ele se casou em 1956. Além da filha Francisca “Chiquinha” e Robson “Rubinho”, o casal criou os sobrinhos Sandra e Fernando “Nando”, filhos de Nininha, irmã de Solange.

O juiz-forano Xamego, em Leopoldina foi de tudo um pouco; taxista, comerciante, empreiteiro, locutor de publicidade volante, ator de teatro, mas se destacou mesmo foi como radialista. Seu programa sertanejo de auditório “Rancho Fundo”, apresentado entre finais da década de 1950, início da de 1960 é considerado por muitos como o de maior sucesso da história do rádio em Leopoldina. Xamego, assim como Solange, era uma pessoa simples, de pouco estudo, mas muita sabedoria. Com a popularidade alcançada, chegou a diretor da Rádio Sociedade Leopoldina –ZYK-5 e foi eleito vereador por três legislaturas. Na sua atuação política, tendo sempre Solange como parceira, não faltaram também polêmicas e histórias folclóricas.  Era sempre procurado por políticos renomados que vinham à cidade à caça de votos. Como dirigente do antigo PTB, foi um dos idealizadores da candidatura de Bené Guedes a deputado estadual.  Xamego morreu em 1987 em acidente automobilístico, quando era presidente da Liga Esportiva Leopoldinense.

Solange seguiu atuando como cabo eleitoral de políticos diversos. Sua casa se transformava em espécie de birô eleitoral nas eleições. Chegou a se candidatar a vereadora em 1992 e até teve quase duas centenas de votos, apesar, segundo ela, ter entrado apenas para completar a chapa.   

De personalidade forte e turrona, colecionava polêmicas e desafetos, mas também sabia ser amorosa e bem-humorada. Como Metamorfose Ambulante de Raul Seixas: “Se hoje lhe odeio, amanhã lhe tenho amor. ”

Continuou também como carnavalesca, costurando fantasias para diversas agremiações da cidade, principalmente para a Unidos dos Pirineus, da qual foi conselheira e por breve período presidente. Juntamente com a vizinha Zezé Baía Meneghite, também ajudava ao Mestre Vitalino na sua Acadêmicos de Leopoldina. Em 1989 e 1990 colocaram na rua o bloco Dissidentes dos Pirineus.

Aqui neste vídeo de 2016 Solange e Zezé relembram suas participações no carnaval leopoldinense.


 
Acostumada a trabalhar com Xamego em barracas na Exposição Agropecuária, Solange ajudava a organizar festas juninas na Cohab Velha, bairro em que viveu por 44 anos. E para a octogenária, que não aparentava a idade, pela vitalidade, não tinha tempo ruim. Colava bandeirinhas, montava barracas, arrecadava dinheiro, dançava quadrilha.

Mas após a morte do filho Rubinho, sua “criança grande” como dizia, Solange passou a se queixar de alguns problemas de saúde, principalmente de coluna, mesmo assim não parava.  Estava sempre aprontando. Jogando buraco, jogando no bicho, jogando conversa fora.

No último mês de julho, Solange sofreu outra grande perda, o filho Nando morreu no Rio de Janeiro, após lutar contra o Covid19.  Ela tentava se manter forte, mas era nítido que já não estava tão bem-disposta.   Apesar do carinho da família e amigos, Solange não cuidava muito da própria saúde e muito a contragosto ia à médicos.  Foi assim que mesmo não acreditando muito, acabou contraindo o Coronavírus.  Resistiu internada nas últimas duas semanas, até a manhã deste sábado, 21/08. 
 
Para nós do jornal Leopoldinense, este não foi apenas o registro da vida de uma personagem de Leopoldina, mas daquela que foi nossa vizinha mais próxima por mais de quatro décadas.  Na verdade, já conhecida da família há muito mais tempo. Era realmente como se fosse uma pessoa de nossa família. E como tal, nestes anos todos houveram tapas e beijos, desentendimentos e reaproximações. Não vamos mais escutar sua voz na esquina gritando para entregar ou pedir alguma coisa, para perguntar ou contar sobre a última, para trazer seus pastéis e berinjelas ou levar o torresmo ou o bolo da minha mãe. Nossa rua não vai ser mais a mesma, mas a lembrança dela será sempre a de uma grande gargalhada.
 
 
 
 
 
 


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