15/11/2021 às 16h28min - Atualizada em 15/11/2021 às 16h28min
‘Leopoldina Orquestra: patrimônio sonoro da cidade’
A obra faz com que conheçamos o passado pelo presente, cada vez mais consciente de nossas ações, em relação ao nosso povo: plural, mestiço, heterogêneo e polifônico.
A equipe de produção-Ricardo Oliveira, Iano Oliveira, Filó Toledo e Cristiano Fófano
A população de Leopoldina possui oralidades e memórias individuais que precisam ser registradas, pois se confundem com a história da cidade! A cidade é, antes, o lugar da gente, o nosso lugar comum. Há sempre a recorrente e consensual afirmação de Leopoldina ter duas vocações que alimentam a memória coletiva: educacional e agropecuária.
De fato, a história da cidade está entrelaçada à história das instituições de ensino, consideráveis, desde o Oitocentos, até a nossa contemporaneidade, agregando valor cultural e simbólico à cidade. Da mesma forma, as atividades agrícolas, iniciadas no século XIX, marcam a economia local e regional, juntamente com a pecuária.
Porém, ao se “ouvir” a cidade, observa-se que Leopoldina possui uma sonoridade peculiar. Arrisco-me a dizer que a cidade possui mais uma vocação: a musical. Leopoldina é sonora! “Isto é Leopoldina, sonora verdade” como acenou o compositor e cantor leopoldinense, Serginho do Rock. Toca-se e escuta-se do instrumento clássico, aos tambores diversos e para finalidades diferentes. Existiram e existem grupos folclóricos, blocos carnavalescos, bandas variadas e orquestras... que tocaram e tocam seus ritmos nas ruas e nos Clubes!
Acredito que a exposição sobre o Filme Leopoldina Orquestra – patrimônio sonoro da cidade, que tem a direção, o roteiro e a produção assinados pela Professora, Produtora Cultural e, também, Pesquisadora Filomena Toledo, insere-se e inaugura o que denomino de terceira vocação da cidade. O trabalho de Filó Toledo pode ser comparado ao de uma “escafandrista”.
Ao ser contemplada pela Lei Aldir Blanc - edital Leopoldina, de incentivo à cultura, e ter recebido o Prêmio Canção Minas pelo Projeto, Filó Toledo mergulhou “fundo” nos acervos institucionais e procurou os vestígios “melodiosos” das/os artistas que viveram a “Leopoldina Orquestra”, como Athayde Pontes, Maria José Nogueira, Elpídio Rodrigues, Maria Tereza Ienaco, Edy Abrantes, Irandy Furtado, Dário Lemos, Sérgio França e Darcy Ferreira, dando-lhes voz e o devido protagonismo.
O Filme apresenta-nos muito do cotidiano e dos hábitos de Leopoldina, de décadas passadas e, além de nos presentear com a pesquisa, baseada na oralidade e na memória, presenteia-nos, por meio de uma linguagem didática, com a cultura musical e riqueza cultural, materializando o que poderia ter ficado apenas na superfície do mar da memória. Muitos se reconhecerão e outros aprenderão com as lembranças que no Filme se cruzam, tendo a música como elemento agregador das histórias de vida e essas, marcadas pelas notas musicais de uma orquestra – que uniu pessoas, possibilitou encontros, flertes, amizades, namoros, proporcionou conversas, diversões, danças, ou seja, musicalizou vidas e sustentou famílias. Sim, música é trabalho e profissão!
Assim como o cotidiano é feito de “travessias” e de “andarilhagens”, as imagens e narrativas registradas pelo Filme relevam o “um” orquestrado pelo “grupo” e a forma como Filó Toledo conduz o trabalho, deixa transparecer que Leopoldina Orquestra era, também, um espaço de sociabilidade.
Dessa forma, a terceira vocação de Leopoldina evidencia-se com potência, tanto pelas vozes, quanto pelos sons, e o Filme, mais uma vez, presenteia-nos com o que temos de muito precioso: nosso pertencimento.
A obra faz com que conheçamos o passado pelo presente, cada vez mais consciente de nossas ações, em relação ao nosso povo: plural, mestiço, heterogêneo e polifônico; nesse sentido, cuida do Patrimônio Sonoro da Cidade, para que nossa sociedade não se torne, para citar mais uma vez Serginho do Rock, “Alienada em função do futuro”!
(*) Professor Doutor/Diretor da Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG/Leopoldina.