A Secretaria Municipal de Cultura, Esporte, Lazer e Turismo e a Academia Leopoldinense de Letras e Artes divulgaram neste sábado, 15/11, o resultado oficial do 23º Concurso Nacional de Poesias Augusto dos Anjos. Assinaram o comunicado: Amanda Oliveira Almeida, Glaucia Maria Nascimento Costa de Oliveira e Nilza Cantoni.
Foram inscritas 605 poesias
As inscrições foram abertas no dia 10 de setembro de 2014 e encerradas um mês depois, no dia 10 de outubro. Foram inscritas 605 poesias e recebidas 429, das quais foram selecionadas as 10 finalistas. Trabalho duro da Comissão Julgadora, composta pelos acadêmicos: Arnaldo Spíndola Maximiano, Begma Tavares Barbosa, Luiz de Melo Sobrinho, Maria José Ladeira Garcia e Rafael Loche Barbosa.
As poesias finalistas passaram por uma difícil seleção, sendo merecedoras de muitos cumprimentos. Antes, porém, de apresentá-las, a Comissão Organizadora faz um pequeno relato sobre a trajetória deste Concurso.
A história do Concurso
No início da década de 1990, quando as servidoras da Biblioteca Municipal Luiz Eugênio Botelho lançaram o primeiro Concurso de Poesias Augusto dos Anjos, poucas pessoas poderiam imaginar que o evento tomaria a proporção atual. Capitaneadas pela servidora municipal Maria Helena Vieira, a equipe lutou com bravura, adquirindo um tal grau de aprimoramento que já na quarta edição o certame teve âmbito nacional e, no ano seguinte, através da Lei nº 2844, passou a fazer parte do calendário oficial do município.
Ao longo destes 23 anos, Leopoldina tem vivido momentos especiais de culto à poesia, através dos poetas e declamadores que anualmente se apresentam na solenidade que marca o julgamento final. Os autores locais têm, assim, oportunidade de conhecer seus pares, ouvir novas vozes, sentir outras emoções. E muitos pequeninos começam a trilhar a estrada literária estimulados pela vivência deste acontecimento.
A forma de realizar o Concurso pode ter sofrido alterações ao longo do tempo. Entretanto, a sua essência permanece. Homenageando o poeta maior, que viveu por alguns meses em nossa cidade, o esforço desta comunidade a faz merecer o título de augustiniana, como querem alguns, ou anjosiana, como definem alguns escritores da terra de Augusto dos Anjos.
Ao longo deste século que nos separa daquele 1914, quando a cidade o recebeu para dirigir o seu principal educandário infantil, tivemos vários ciclos de maior atividade em torno de seu nome. Na década de 1920, através do incentivo de Julio Ferreira Caboclo, professor do então Ginásio Leopoldinense, foi criado o Grêmio Litero-Artístico Augusto dos Anjos que, além de despertar o interesse da mocidade pela obra do poeta, e por extensão da literatura em geral, promoveu vários encontros anuais em homenagem ao centenário de morte de seu patrono. Este ano, através das palavras de Luiz Gonzaga Rodrigues, ex-presidente e atual vice-presidente da Academia Paraibana de Letras, que nos visitou entre os dias 6 e 9 de novembro, ficamos sabendo que Leopoldina foi pioneira no culto à obra de Augusto dos Anjos, antes mesmo que ele se tornasse mais conhecido na Paraíba natal. Segundo Gonzaga Rodrigues, na década de 1920 a Paraíba ainda não se rendera ao poeta do Eu. Enquanto isto, aqui em Leopoldina um grupo de jovens realizava a então chamada Missa de Arte, cerimônia que extrapolava a celebração religiosa com palestras de vários literatos. Outros momentos de igual relevância aconteceram em outras décadas, com destaque para a intensa movimentação da cena cultural na década de 1980, por estímulo do “mordomo de Augusto”, ou o “mago das cores” como Serginho do Rock alcunhou Luiz Raphael Domingues Rosa, o artista plástico que com sua persistência trouxe para a geração atual o conhecimento não só da obra como da casa onde viveu Augusto.
Neste 2014, quando pela primeira vez a Academia Leopoldinense de Letras e Artes participa da organização do Concurso, temos a satisfação de declarar que a memória de Augusto dos Anjos continua presente não só na pequena casa agora Museu, como na atividade febril de quantos continuam poetando ou aclamando os que se dedicam a tal arte. E que estão representados nas mais de seis centenas de inscritos no 23º Concurso Nacional de Poesias Augusto dos Anjos.
1º Lugar e Melhor Intérprete
Luxúrias Lascivas, Lancinantes
Vinícius Fernandes Cardoso
Contagem, MG
Intérprete: o próprio autor
Luxúrias lascivas, lancinantes,
volúpias violentas, viscerais,
desejos despóticos, dionisíacos,
gozos gongóricos, genitais...
Orgasmos órficos, ofegantes,
selvagerias saltitantes, sensuais,
fomes furiosas, sedes soberbas,
sadismos sórdidos, saturnais...
Toques tórridos, pertos ávidos...
mãos malévolas, tendões tesos,
bocas babam, pupilas pululam,
poros porejam, suores secretam...
Rostos rotos, enrugados,
egos efusivos, extasiados,
sensações saciáveis acesas,
sentidos todos saturados...
E é no gozo que tudo desfalece,
se desfibra, morre e esquece,
é quando Súcubo se regozija,
é quando Baphomet nos vence...
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2º Lugar
Infância
Eliana Ruiz Jimenez
Balneário Camboriú, SC
Intérprete: Fabrício Manca
Minha infância não é
cais de saudades cálidas
viço a correr nas campinas
pirão em fogão à lenha.
Na minha infância chovia
em hordas torrenciais
até virar enchente
e na água que corria
eu soltava barcos de papel
inocentes.
Numa noite fria
a correnteza levou
meus cadernos de poesias
e as certezas do futuro
que eu teria.
Cresci abruptamente
no vazio do balanço que ficou
e no carrossel enlameado
que nunca mais girou.
Minha infância é
cais de saudades pálidas
viço de sonhos persistentes
forja que me tornou valente.
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3º Lugar
História de quem fez história ou Trajetória de uma história
Dodora Galinari
Belo Horizonte, MG
Intérprete: a própria autora
Eu vou contar uma história,
na Paraíba nascida;
em Minas, fez trajetória
nas três décadas de vida.
Mostrarei, em relatório,
vida de Augusto dos Anjos-
autor de um livro notório;
alma-poeta, em esbanjos.
Acolhido em Leopoldina,
deixou um marco importante:
poética genuína...
ideário palpitante.
Terreno fértil, a mente
de um advogado capaz...
do pensador inclemente...
que, de cultura se faz!
Dono de conhecimento,
usado nos seus escritos;
questionador muito atento,
honesto em todos quesitos.
Racional, inteligente,
valorizou a ciência;
pelas artes, combatente,
sem fugir da consequência.
Um Diretor exemplar...
bem sério, às vezes, patético;
sensível ao poetar;
nas relações, homem ético!
Forte espiritualidade,
muito escreveu sobre morte;
no seu túmulo, a saudade
ganha raiz muito forte.
Esse Augusto “venerável”-
dos Anjos, por sobrenome-
pensador admirável,
fez poemas de renome.
Frases, cartas, poesias...
de alguém singular, perfeito;
quem, muito além de seus dias,
fazia tudo a seu jeito.
Há uma história interessante
do mordomo dedicado:
Luiz Raphael –incessante-
deixou, também, seu legado.
E, Leopoldina agradece
aos ilustres moradores;
celebrações oferece,
rendendo-lhes mil louvores!
Agita, incentiva o povo!...
Crianças, jovens, adultos
se unem, buscando algo novo
sobre trabalhos tão cultos.
Poesia perpassando
trilhas por onde ele andou;
os seus feitos, relembrando...
na casa onde ele morou.
Pós-morte, bela obra fica...
fazendo uma trajetória
que, em cem anos vivifica
e, faz jus a nobre história!
Enaltecendo o Brasil,
Mais um bardo na memória:
literato varonil,
merecedor de vitória.
Parabéns a Leopoldina-
grande cidade mineira-
que à poesia se inclina,
sendo dela, mensageira!
Homenagens –as deste ano-
são a quem, entre os Arcanjos,
hoje, escreve em outro plano:
O augusto Augusto dos Anjos!