04/01/2015 às 12h08min - Atualizada em 04/01/2015 às 12h08min

Zequinha passa fim de ano em Leopoldina

João Gabriel B. Meneghite

Um dos maiores pontas direita do futebol brasileiro, o leopoldinense José Márcio Pereira da Silva, o Zequinha, que jogou pelo Ribeiro Junqueira, Flamengo, Botafogo, Grêmio, São Paulo, Seleção Brasileira, FC Dallas, entre outros times do futebol dos Estados Unidos, esteve em Leopoldina, sua terra natal, para passar parte de suas férias com familiares.

Na ocasião, Zequinha e sua esposa, a simpática Deize da Silva, mataram a saudade de Marly e Marcinha, irmãs de Zequinha que moram em Leopoldina e em Vista Alegre, respectivamente, além de rever os amigos e curtir a cidade.

Além disto, Zeca jogou uma pelada descontraída no Clube do Moínho e recepcionou dezenas amigos e pessoas que gostam de sua pessoa.

Esta é a segunda entrevista de Zequinha ao jornal Leopoldinense. Na primeira ocasião, no ano de 2010, ele contou um pouco de sua trajetória como jogador de futebol. Agora, em 2015, ele conversou com o repórter João Gabriel Baía Meneghite sobre as suas férias no Brasil e de seu trabalho e visão como treinador de futebol e torcedor do futebol arte brasileiro.

 

Zequinha com suas duas irmãs: Marly (à frente) e Marcinha à esquerda. Ao centro, Maria da Silva, mãe de Marcinha.   Zeca e sua esposa Deize.

 

Leia abaixo a entrevista concedida no dia 01/01/2015

 

Conte um pouco sobre as suas férias no Brasil e especificamente em Leopoldina.

Cheguei ao Brasil no dia 17 de dezembro, indo direto para o Sul do país, onde passei parte de minhas férias com a família de minha esposa Deize. No dia 24 cheguei a Leopoldina, passando o Natal e réveillon com os meus familiares, encontrando com as minhas irmãs Marly e Marcinha, além de ver os amigos. Quando venho em Leopoldina, fico deslumbrado com o carinho das pessoas comigo e minha família. Todos que encontro sempre falam no meu pai e na minha mãe. A comida é sensacional! Eu tento não prestar atenção nas outras coisas que estão acontecendo por fora disto. Tento aproveitar cada minuto com os meus amigos de infância, que são os meus amigos para sempre. Têm sido maravilhosos os dias que passei aqui.

Há quanto tempo está nos EUA? Há planos de voltar ao Brasil?

Eu fui para lá em 1997. Pensar em voltar para o Brasil ficou um pouco complicado, depois que adquiri a cidadania americana e ter realmente me enraizado por lá com o meu próprio negócio, que é envolvimento total com o futebol. Voltar para o Brasil ainda não passou pela a minha cabeça. Mas a gente nunca sabe o dia de amanhã.

Você acompanha o futebol brasileiro?

Eu acompanho o futebol brasileiro o mais que eu posso, pois onde estou eles mostram muito o futebol europeu, principalmente o futebol inglês, espanhol e francês. O futebol brasileiro é mostrado muito pouco, sendo algumas partidas do campeonato brasileiro e do futebol paulista. Já do futebol carioca não se consegue ver nada.

O que achou do desempenho do Brasil na Copa do Mundo?

Eu achei um Brasil sobrecarregado pela responsabilidade, um time jovem que teria a possibilidade de apresentar muito mais do que apresentou. Achei que desde o primeiro jogo o time estava um pouco desorganizado. Eu, como torcedor gosto de ter a certeza de que o seu time vai entrar em campo e vai ganhar. Eu nunca tive essa tranquilidade em nenhum jogo do Brasil na Copa do Mundo.

Após a Copa do Mundo cogitava-se nomes estrangeiros para comandar a nossa seleção canarinho, como o Pep Guardiola. O que você acha disto?

Eu acho que o treinador, mais do que isto, é um aglutinador, uma pessoa que consiga formar um grupo de jogadores que se focalizem num objetivo, que é ganhar. Não importa de onde ele é. Se ele conseguir uma situação desta com um grupo, eliminando aqueles que não "compram o projeto", ou seja, a ideia que o treinador tem, não importa se é o Pep Guardiola ou qualquer outro. Se ele não conseguir fazer isto, nenhum consegue. O treinador tem que fazer com que o grupo pense como se fosse uma cabeça só, e isso não é fácil.

Hoje em dia, o que se vê no Brasil são clubes "engessados" financeiramente, com uma folha salarial alta e com poucos investimentos em base. O que você acha que os clubes brasileiros têm que rever em sua política?

Pelo que vi e ouvi, o Brasil tem que cair na realidade. Eu acho que os clubes estão vivendo numa realidade falsa. O objetivo da maioria dos clubes aqui é conseguir jogadores para mandar para o exterior. Virou um negócio.  Para o torcedor que é apaixonado pelo clube, que gosta da camisa e da tradição, não é isto que a gente quer. Eu falo hoje como torcedor e quero ver meu time ganhar e não estou preocupado com os grandes negócios que eles vão fechar vendendo um jogador para Europa ou para qualquer lugar do mundo. Eu quero ver meu time ganhar, e parece que o objetivo maior de alguns clubes é pegar um jogador, valorizá-lo o máximo possível e mandá-lo embora. E título nada!

Hoje você está nos EUA treinando uma equipe de futebol feminino e está com um projeto do Grêmio USA. Conte um pouco sobre este projeto.

O Grêmio USA foi uma ideia de começar um clube em que eu pudesse realizar tudo o que eu gostaria de fazer no futebol sem ter que assumir a intenção de outras pessoas que eram donos de clubes. Minha proposta é diferente, principalmente quando se trata de crianças. É uma proposta totalmente diferente do pessoal de lá, que lida com o futebol infantil com influência inglesa e alemã. Eu penso de uma forma diferente de ensinar, então montei o Grêmio USA, uma homenagem que fiz ao Grêmio, clube que joguei por quase quatro anos, sendo o clube que, depois que saí do Brasil, mantive mais contato pelo fato de ter vivido em Porto Alegre por quase doze anos antes de voltar aos Estados Unidos. O Grêmio USA é um clube de meninas no qual estamos trabalhando com a faixa etária de 07 aos 16 anos e o objetivo é ajudar os jovens a conseguirem bolsas de estudos através do esporte, pois nos EUA o estudo é muito caro e os pais querem colocar os seus filhos em universidades através de bolsas de estudos. É muito bom desenvolver o futebol nessas crianças, principalmente nessa idade de 07 e 08 anos. O futebol feminino nos EUA é um dos melhores do mundo e o investimento lá é grande em termos de ensinamento e tudo mais. O Grêmio me contatou e gostaria que o meu grupo fizesse parte do sistema de escolinha deles. Eu estive no Rio Grande do Sul, mas não tive oportunidade de conversar pessoalmente com eles.  Quando eu voltar, espero retomar os contatos para saber como vamos fazer isso. Existem muitas crianças que querem ir para os EUA e, de repente,  pode-se começar alguma coisa diferente de outros clubes.

O futebol feminino nos EUA cresceu muito e possui uma das melhores seleções do mundo. Em contrapartida o futebol masculino não tem dado muitos resultados positivos, assim como a equipe feminina. O que os EUA tem feito para mudar este quadro?

O investimento no futebol masculino tem sido grande. Ao invés de investir em jogadores, eles investiram em mídia, de forma a promover o futebol naquele país e fazer com que o americano gostasse do esporte. Hoje há pessoas nos EUA que entendem de futebol. Hoje, o investimento que eles fizeram foi o mais correto em termos de desenvolver a Liga, pois estão criando ídolos americanos, diferente do período em que estive lá como jogador em que eles contratavam ídolos de fora do país como Pelé, Cruyff, Beckenbauer, Carlos Alberto, ou seja, jogadores de nomes foram para lá, mas naquele período eles não entendiam muito bem de futebol. Agora é diferente, eles entendem e gostam de futebol, vibraram com a Copa do Mundo. E agora sim, eles começaram a trazer jogadores de nomes Thierry Henry, David Beckham, Kaká. Então, agora, eles começam a investir em jogadores conhecidos mundialmente, o que é bom.  Mas ainda o nível técnico dos jogadores americanos é baixo comparado com os jogadores internacionais. O momento é de evolução e temos de esperar melhores desempenhos. Eu tenho um menino que treinei desde os 08 anos até os 13. O nome dele é Kellyn Acosta e aos 13 anos ele foi jogar na academia do FC Dallas, aos 15 anos ele já estava na seleção sub 17 dos EUA. Agora ele está na seleção sub 20 e vai jogar a Copa do Mundo nesta categoria e é muito bom jogador. Já tem contrato profissional com o FC Dallas. Os EUA é um país com mais de 300 milhões de habitantes e assim como o Kellyn Acosta, outros surgirão nos EUA com alto nível técnico.

Zequinha e sua esposa Deise, juntamente com o filho João Alfredo (esquerda) e o jogador Kellyn Acosta

 

 

Como é feito o trabalho de base nos EUA?

O trabalho de base nos Estados Unidos é realizado por pessoas como eu, que tem os seus clubes de futebol. A garotada joga campeonatos bastante competitivos e às vezes a nível nacional. Clubes como FC Dallas e outros clubes começaram a criar as academias, que são formadas por jogadores que passaram pela minha mão e de outros treinadores. Não é uma criação do clube, pois eles pegam a garotada que está sabendo alguma coisa. O americano tem muita opção e isto é um problema. Aqui no Brasil uma criança vê, "dorme" e "come" futebol e nos Estados Unidos eles têm muita opção como baseball, futebol americano, basquete, tênis, entre outros.

O Brasil é um país que revela joias para futebol mundial. Como você analisa o trabalho de base realizado aqui?

Há algum tempo, o São Paulo e o Guarani eram os melhores clubes que desenvolviam este trabalho de base. É de se lembrar do time do São Paulo que foi Campeão Mundial com Raí, Muller, Palhinha, enfim, toda aquela garotada foi criada dentro do clube.

Com a entrada de muito agentes neste meio, eles estão querendo acelerar a formação do jovem. Hoje você vê jogadores convocados para a seleção e parece que eles não tiveram uma experiência no Brasil. Alguns saem tão novos daqui, jogam em outros países, crescem e desenvolvem com uma diferença daqueles que foram criados aqui. Aquele estilo brasileiro de jogar com criatividade, está sendo perdido e esses jogadores passaram a jogar um futebol de laboratório. Eu acho que a gente está perdendo isto. Hoje um garoto da base faz duas ou três partidas em uma equipe principal e está sendo levado para fora. Parece-me que isto está acontecendo no Brasil, pois eu vejo brasileiros de 17 anos jogando na Alemanha, na Holanda e em outros países e que poderiam estar aqui no Brasil aprendendo a jogar muito melhor.

Em Leopoldina, alguns atletas estão atuando na base de grandes clubes no Brasil, qual a dica que você deixa para eles e seus familiares?

É difícil você querer traçar um futuro para qualquer pessoa, é um risco que a gente corre. O negócio é treinar bastante, encarar com seriedade e esperar que aconteça o melhor porque tem tantos obstáculos, como contusões, treinadores que podem não gostar de você, entre outros. Isso aconteceu comigo. Se não fosse o meu pai para me falar para eu voltar e jogar, eu teria desistido, pois eu cheguei ao Flamengo, depois de ter sido campeão juvenil, jogado no primeiro time, eu peguei um treinador que por alguma razão que até hoje não entendo, não gostou de mim e me proibiu de treinar. Eu fiquei tão chateado que peguei tudo e voltei para casa. Meu pai me questionou o que estava fazendo em Leopoldina e na época comentei que estava tirando uma folga, sendo retrucado com a ordem de juntar as minhas coisas e voltar para o Rio de Janeiro. Graças a Deus quando retornei ao Rio, fui contratado pelo Botafogo e em menos de um mês estreei fazendo um gol naquela goleada de 4 x 1 em cima do Flamengo. Este é um exemplo de tantas coisas que podem acontecer. E por maior que seja o obstáculo, se a pessoa realmente gosta e quer atingir um objetivo, não pode desistir. Se contar com o apoio da família é melhor ainda. Não deixar que nome, imprensa ou algo parecido aumente o seu ego, que o faça ficar tão grande, que não consegue entrar com a cabeça dentro de casa. Leve tudo numa boa e espere pelo melhor.

 


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