08/02/2015 às 12h51min - Atualizada em 08/02/2015 às 12h51min

Cutubas deve ficar de fora do carnaval 2015

Luciano Baía Meneghite
Último desfile do Cutubas foi em 2011 sob forte chuva.No detalhe, o presidente Merquinho.( Fotos: João Gabriel e Luciano Baía Meneghite )

A mais antiga agremiação carnavalesca de Leopoldina, no ano em que completa 90 anos de existência, corre o sério risco de não participar dos desfiles oficiais do carnaval 2015. Segundo o seu presidente Américo Silva, o popular "Merquinho", por falta de gente para desfilar. “Até temos vontade, temos alguns instrumentos e fantasias, mas não faço carnaval sozinho. Gostaria de contar com a ajuda dos carnavalescos da cidade, mas ta difícil.” Diz ele. Apesar de constar da programação oficial, o Clube sequer realizou ensaios e nada indica que participará do desfile.Por inonia do destino, o Cutubas vinha sendo palco do resurgimento do carnaval de rua de Leopoldina, pois em seu salão social estavam sendo realizadas as últimas reuniões da LIESCOS - Liga Independente das Escolas de Samba e Blocos Carnavalescos de Leopoldina.

Clube dos Cutubas – Qual futuro de tanto passado?

Publicado em 2013 no Jornal Leopoldinense e atualizado

Luciano Baia Meneghite

Quem tem menos de 30 anos, talvez nem imagine que o salão localizado na Rua Sete de Setembro no centro de Leopoldina tenha tanta importância na história do nosso carnaval e na própria história da cidade.

  O Clube foi fundado em 1º de janeiro de 1925. É citado como como fundador o pastor plesbiteriano Candido Augusto Veloso. Suas primeiras reuniões teriam sido realizadas no Sitio do Domingão, do Orfanato Lenita Junqueira na casa do Paulo açougueiro.  Nos primeiros anos transferiu-se para vários lugares, como a casa de D. Alexandrina de Sousa, Chácara do Virgílio Areia, no antigo prédio do Grupo Ribeiro Junqueira, (onde hoje é o Bar Ki-Vita), Alfaiataria do Sr. Capdeville, no local do posterior Bar do Onalde, na Ubol e Casa Elite. Em 1934 adquiriu a sede da Rua Sete de Setembro. Anos depois construiu o atual prédio.

  Em sua primeira reunião, tomaram parte o Srs. Antônio Augusto, Antônio Custódio, José Inácio de Oliveira, Nestor Maximiniano, José Augusto, Francisco Martins (que deu o nome ao clube) e José Rodrigues (pai do popular músico Elpídio). São também  citados como fundadores  Alípio Assunção e Roberto Sousa Filho. Numa cidade com forte presença de negros, mas conservadora e reacionária como Leopoldina, o preconceito falava alto e em muitos lugares, como o vizinho Clube Leopoldina, pessoas “de cor” não eram bem vistas, chegando até serem impedidas de freqüentá-lo. Depois, estas mesmo, se sentindo pouco á vontade em tais locais, acabaram por transformar o “Clube dos Cotubas” (grafia da época) num ponto de encontro e resistência da cultura negra da cidade.

   O nome de origem tupi, cutuba ou cutubas significa Excelente, valente; importante, forte; inteligente, bonito.  O Cutubas, através de seus bailes, serestas, e principalmente seu carnaval de salão e desfiles arrastava multidões. Entre as atrações do carnaval estavam três bonecos criados nos anos 30, O Rei Momo, a Lourinha e principalmente a Baiana que ficou na memória dos antigos foliões. Além destas promoções sociais, o clube foi sede de diversos eventos como reuniões de sindicatos, cooperativas e cursos. Políticos, artistas, misses e diversas personalidades nacionais visitaram o clube, como os candidatos à presidência General Lott e Janio Quadros em 1960.  

  Em finais da década de 70 inicio da de 80 passada, o carnaval de rua dos Cutubas já não era mais o mesmo, outras agremiações cresceram como a Princesa Leopoldina, Unidos dos Pirineus, Vila entre outros, o Cutubas ainda com certo sucesso, concentrou-se mais em seus bailes,serestas, discotecas e Funk’s, passou alguns anos sem desfilar com tímidos retornos às ruas. 

 O Clube declarado como de utilidade pública, sendo um dos mais antigos clubes sociais negros de Minas Gerais, nos últimos tempos foi arrendado para forrós e igreja evangélica. Houve um retorno aos desfiles em 2010 e 2011, ano em que escrevi o enredo e minha mãe compôs o samba que  falava justamente da história do Cutubas. Em um dos versos  dizia: “ Pra mostrar a toda essa gente que o tempo do Cutubas não passou.” Infelizmente a realidade faz crer o contrário.

 A sede necessita de uma reforma completa.  Alterações nas questões de segurança foram feitas recentemente. O presidente Merquinho mostrou-nos a precariedade das instalações, principalmente da cozinha e banheiros. O clube também funciona como sede da Banda Musical Princesa Leopoldina, que foi desalojada após o fechamento da Usina Cultural. O salão também é alugado para  diversos fins, como reuniões e ensaios. O Cutubas ainda sobrevive do aluguel de nove salas comerciais no segundo pavimento. Atualmente apenas quatro ocupadas. O valor do aluguel segundo Merquinho é pequeno, girando em torno de duzentos reais. Ele reclama da falta de interesse tanto por parte de membros do clube quanto das autoridades municipais em ajudar a recuperar o Cutubas. Há quem culpe os membros mais velhos e até a atual diretoria pela situação de abandono. Há também quem culpe oportunistas recentes de quererem apenas usurpar o clube sem realizar nada em benefício da entidade. O Fato é que a se manter a atual situação, quem teve tanto passado, corre mesmo o risco de não ter mais futuro.


Link
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »