Ao contrário de outros personagens que frequentam nossas ruas, eles não são totalmente ignorados. Talvez não sejam tratados sempre com o devido respeito, mas são apontados, comentados e até imitados. Em que pese não terem um comportamento dito “normal” pela sociedade, em sua maioria não fazem mal a ninguém, ao contrário, alguns são até muito prestativos, atenciosos e inteligentes. Escolheram ou foram escolhidos pelo destino, se é que isso existe, para serem como são. A maioria é de classe social mais baixa, tem casa e família, mas a rua é seu palco.
Em qualquer lugar do mundo eles existem. Cada qual com suas características e manias. Leopoldina não é exceção e sempre contou com suas presenças. Até o Geraldo Viramundo do escritor Fernando Sabino passou pela cidade. No passado, lá pelo início do século eram o Ferreira Carneiro, o Valdevino, Zé Relógio, Evaristo, Lourenço, Chico Doce, Joaquim Cabeludo.Todos registrados por Luis Eugênio Botelho em seu Livro “Leopoldina de Outrora”. Depois vieram o Natalino, Floriano, Pagé, Tute-Pneu-Balão, Funchal, Paná, Nestor Explosivo, entre outros, também relembrados em crônicas pelo Antônio Valentim. Nos últimos tempos tínhamos o Podre, Vitalino, Maria Angu, Maria Cavaquinho, Maria Cemitério, Nélio Boca, Nitinha Camburão, Beto Carne-seca Joaninha Torresmim, Janiro entre outros. Mas engana-se quem diz que essas personagens folclóricas desapareceram. Foram substituídas por outras. Hoje atendem por Expedito Pé-de-Pano ou Pepe Toquinha, Quinca, Chico Doido, Maciota, Criatura, Passo Longo, Xô, Cutia, Zé do Caixão, Hélio, Geraldinho Djavan, Sô Boneco, Peixeiro, Juliano, entre tantos outros.
Talvez nem eles saibam o quanto são marcantes na vida da cidade. Não que tenham necessariamente realizado algum grande feito, mas pelo simples fato de existirem, de “provocarem” essa sociedade em grande parte preconceituosa e indiferente. Não se trata de endeusar essas pessoas. Elas também erram, mas de reconhecê-las como cidadãs. É tão forte a presença dessas pessoas que é como se fizessem parte do cenário ou da paisagem da cidade e quando alguma desaparece apaga-se uma parte do cenário. Elas fazem parte da memória leopoldinense.