17/04/2014 às 09h57min - Atualizada em 17/04/2014 às 09h57min

Nossa Gente-“Dionísio Fria”

Lanterneiro

Por Antonio Valentim
Acervo pessoal - Luciano Baía Meneghite

De um certo tempo para cá,temos visto o ocaso de muitas profissões,assim como de muitos profissionais,e muitas das vezes,o total desaparecimento de alguns.Profissionais,que em seu mister,eram verdadeiros artistas,perderam seu campo de trabalho,com a chegada da modernidade,e da informática.A tecnologia cada vez mais avançada,minou e diminuiu o número de profissionais fazendo-os quase desaparecer de vez.Artesãos, que trabalhavam com couro,madeira,bambu,argila.lataria,etc.

É sobre um desses profissionais,que irei fazer uma narrativa,prestando-lhe a devida homenagem.

Dionísio Cândido Baía,era natural de Tuiutinga, criado em Guidoval então distrito de Ubá.Veio para Leopoldina,trazido por amigos e admiradores de sua arte e sua habilidade em lanternagem, uma profissão em que os grandes mestres nesta arte,estão cada vez mais escassos.Os profissionais de hoje,acham mais fácil,trocar a peça,do que tentar recuperar a que foi danificada.São poucos,os que trabalham à moda antiga,a base do martelete,do martelo de borracha,a bigorna e a estampa.Apenas alguns mais antigos,e que tiveram a felicidade de terem aprendido a trabalhar com Dionísio,é que ainda fazem da profissão uma a arte.Conversei com dois ou três,que trabalharam com Dionísio,e eles me falaram de sua grande habilidade,e de sua inteligência,pois além de excelente lanterneiro,o “Fria”,como os amigos o chamavam,conhecia também,muito de mecânica,e inúmeras vezes era consultado pelos colegas,quando o caso era difícil e exigia um estudo mais profundo,Dionísio,punha a cachola pra funcionar,e resolvia o problema.

Não conheço,a origem do apelido de “Fria”,mas calculo que era por causa de uma gíria,muito usada até nos dias atuais,e da qual ele fazia uso freqüentemente.Conversa vai,conversa vem,era “Fria’ para cá, ‘Fria”pra lá.Como todo lanterneiro,pintor,mecânico,e outros profissionais que lidam com graxa,gasolina,óleo,tintas e derivados destes produtos,costumam tomar umas “biritas”,que dizem eles,que é para cortar o efeito tóxico dos mesmos.Verdade ou não,a realidade e que noventa por cento dos que trabalharam nestas áreas,fazem uso,e degustam uma “pinguinha”.Dionísio não era exceção.Muito pelo contrário,era até bem chegado “numa branquinha”,chegando às vezes a extrapolar.Nestas ocasiões,ficava falastrão,alegre,contava histórias,inventava outras,contava piadas,e discutia sobre todos os assuntos que apareciam.Mas o “Fria’,apesar de grande profissional que era,não tinha grandes ambições,e este era seu maio defeito,tudo que ganhava,gastava,com a família,com ele próprio e com os amigos em suas escapadas após o trabalho, para “desintoxicar”,como dizia.

De certa feita,numa destas escapadas com seus amigos,e após terem tomado “umas e outras “,e de terem discutido sobre diversos assuntos,a conversa girou em torno de céu e inferno,quem iria pra onde,etc e tal.Dionísio,afirmava com toda convicção que para o inferno não iria de maneira alguma.Um de seus amigos teimava com ele,de que pessoas que nem eles,principalmente quando bebem,são candidatos a acertar contas com o demo.E tome mais uma,e tome mais outra,e a discussão continuava.O amigo insistia: “Ó Fria,você vai direto pró inferno.Gente que nem nóis não tem jeito,são candidatos ao fogo eterno.Nóis já vivemos de fogo diariamente,não vamos nem estranhar!”Dionísio,ficava bravo,e respondia:É fria heim!Quem vai ro inferno,é você que é cachacista militante.Eu ,nem pensar.Não devo nada ao diabo,tenho minha alma limpa.de tanto o amigo insistir,o Fria por fim admitiu: “Ta bem cara,tá bem!Mas eu só vou pro inferno,se lá tiver alguma coisa amassada.Aí ,eu chego lá e conserto tudo,porque eu sou é LANTERNEIRO.E tenho dito!”

Dionísio faleceu em 1982, deixando entre nós seus quatro filhos,que são nossos amigos e bastante conhecidos em nossa comunidade.Um deles,é o Jorge Luiz(nosso querido Tula), funcionário da Câmara Municipal. Outro foi o José Mário(também já falecido)grande mecânico em nossa cidade.E mais duas mulheres,a Gracinha,que atualmente trabalha em Juiz de Fora e a Maria José Baía Meneghite,funcionária pública e colunista social, esposa de nosso amigo Luiz Otávio Meneghite,diretor-editor do jornal LEOPOLDINENSE.

Vale ressaltar,que Dionísio deixou para seus filhos,um legado muito grande de amizades,e como herança,a habilidade e a inteligência,que cada um deles demonstra em seu mister,e que nós tão bem conhecemos.

Outra do Dionísio:

Por Luciano Baía Menghite


Durante uma discussão com sua esposa D.Mariana, Dionísio disse que iria embora de casa e tratou de arrumar as malas.O detalhe é que dentro delas não levou nenhuma roupa ou objeto pessoal,mas umas galinhas que apanhara no quintal, escondido de D.Mariana.Ela talvez tenha estranhado a “mala cacarejar”,e desconfiada saiu em seu encalço.A busca não durou muito.Logo Dionísio foi descoberto tomando umas num boteco lá pros lados da Praça da Bandeira.Como devia estar sem “nenhum”,trocou as galinhas na “marvada”.Ele que dizia não entrar em botequim de uma porta só,pois em caso de briga ficaria encurralado,ficou mesmo sem saída. Acabou escutando poucas e boas de D.Mariana e foi só “pena que voou”.


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