16/01/2016 às 13h45min - Atualizada em 16/01/2016 às 13h45min

De onde surgiram tantos cães abandonados nas ruas de Leopoldina?

Repentinamente, o número de animais aumenta sem que alguém encontre uma explicação para a pergunta.

Luiz Otávio Meneghite
A pergunta tem sido feita a todo o momento pela população ao se deparar com o grande número de cães que passaram a perambular pelas ruas de Leopoldina nos últimos dias. São todos cães vira latas, uns mais arredios, outros dóceis como um pequeno grupo que atendeu a um assobio e me acompanhou durante boa parte do meu trajeto de caminhada matinal.

No centro da cidade, onde passaram a serem vistos em grupos maiores, um taxista chama a atenção do repórter para detalhes observados no comportamento dos animais.  “Repare esta aqui como é assustada”, aponta o dedo em direção a uma cadela amarela de grande porte, que se mostra arredia ao estalar de dedos do motorista querendo lhe fazer um afago. Um macho, com sinais claros de maus tratos, atende o chamado e se aproxima, para receber o carinho do profissional. Repentinamente, o número de animais aumenta sem que alguém encontre uma explicação para a pergunta: De onde surgiram tantos cães abandonados nas ruas de Leopoldina?

Em outro momento, na última sexta-feira, 15 de janeiro, o Secretário Municipal de Serviços Urbanos, Ademar Theodoro da Silva, a quem está afeta a manutenção do canil municipal, questiona o repórter João Gabriel Baia Meneghite, sobre a matéria recentemente veiculada no jornal Leopoldinense, na qual a ativista em prol da causa animal, Bárbara Reis, denuncia as precárias condições do local onde, segundo ela, faltaria ração e a água disponível para matar a sede dos animais era de poço, dando a entender que seria insalubre.
De acordo com a abordagem do secretário ao repórter, a água é de boa qualidade e que ele mesmo consome dela e afirmou que nunca faltou ração para os cães acautelados no canil e nem assistência veterinária, Para a pergunta que intitula este texto, ele não ofereceu resposta.

Para refrescar a memória:
 
Trabalhei na Prefeitura de Leopoldina por 33,5 anos e me lembro de uma época em que a famosa ‘carrocinha’ foi colocada em funcionamento pelo poder público para recolher cães abandonados pelas ruas da cidade. Uma carretinha, sobre a qual foi adaptada uma jaula, era puxada por um Jeep e enquanto se tivesse notícias de cães vadios ela estava em funcionamento, proporcionando até cenas tragicômicas por causa dos dribles que os espertos animais davam em seus ‘caçadores’.
 
Os animais capturados, geralmente abandonados com sinais evidentes de maus tratos, eram levados para um sítio de propriedade do município, localizado à margem direita da antiga estrada que liga Leopoldina a Cataguases. O local foi utilizado na década de 1950 para treinamento com fuzís, dos soldados que prestavam serviço militar no ‘Tiro de Guerra’ e por causa disso ficou conhecido como ‘Linha de Tiro’.
 
Para transformar o local em um canil, foram feitas algumas adaptações nas pequenas edificações lá existentes. Os animais recolhidos ficavam lá por um período de quarentena após o qual, em virtude de convênio, eram levados para a Faculdade de Veterinária, da Universidade Federal de Viçosa, onde serviam de cobaias para estudo dos alunos.
 
Lembro que um dos termos do convênio da época previa que a UFV forneceria a ração com a qual eram alimentados os animais durante o período em que ficavam de quarentena no canil municipal, prazo dentro do qual poderiam ser recuperados por seus donos ou adotados.
 
Outra lembrança que ainda tenho daquele tempo é que dezenas de cães eram, literalmente, despejados na calada da noite em Leopoldina, vindos de outras cidades onde tinham sido capturados. Dessa época me lembro com nitidez de uma ocorrência lavrada pela Polícia Rodoviária, que havia interceptado um caminhão, com placas de Leopoldina, despejando cães na rodovia Rio Bahia, próximo de uma das entradas da cidade. Lembro que foi feito o comunicado ao gabinete do prefeito da época que designou um funcionário para acompanhar a ação policial. Qual não foi a surpresa do prefeito ao tomar conhecimento de que o caminhão pertencia a um membro de tradicional família de políticos de Leopoldina. A explicação que deram foi a de que o motorista fizera um frete clandestino sem o conhecimento do proprietário e ficou por isso mesmo.
 
Dizem as ‘más línguas’ que o procedimento de transferência de animais de outras cidades para Leopoldina ainda continua no silêncio da madrugada. Talvez seja porque a ação social desenvolvida na cidade pela AVAC já tenha se tornado de conhecimento além de nossas fronteiras. Então, imagino que as pessoas devem pensar: “vamos levar esses animais para Leopoldina, porque lá tem quem cuida”!
 
Com relação à enquete do Jornal Leopoldinense que perguntou: Você adotaria um animal abandonado?, o público leitor se manifestou como mostra o infográfico de João Gabriel Baia Meneghite:


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