20/04/2016 às 08h55min - Atualizada em 20/04/2016 às 08h55min

‘A cegueira nunca foi barreira para mim, na arte ou na vida’, diz Moira Braga

A atriz e bailarina está em cartaz com a peça ‘Volúpia da Cegueira’, que trata de erotismo e deficiência

Por Marina Lemos Gonzaga/Márcia Peltier
Fotos de divulgação / Janderson Pires

Moira Braga é a prova de que a determinação leva a gente para onde bem entender. Nos últimos tempos, a atriz e bailarina carioca tem passado seus dias entre as apresentações da peça Volúpia da Cegueira e os ensaios com o Pulsar, grupo de dança contemporânea do qual faz parte desde 2013. Cheia de bom humor, Moira diz que não é diferente de ninguém. E conta que sua vida, após perder a visão na infância, continua sendo maravilhosa.

– Não me pauto pelas dificuldades. É claro que elas existem, mas para todo mundo, não é mesmo?

A visão começou a ir embora aos sete anos de idade, por conta de uma degeneração da retina chamada Doença de Stargardt. Na época, sua família morava na pequena cidade de Leopoldina, no interior de Minas Gerais, e a menina teve que se adaptar à nova condição.

– Minha visão foi piorando e a gente ia arrumando soluções. Nunca estudei em colégio especial. Começaram fazendo provas com letras grandes e no final sempre tinha ajuda dos meus amigos que ditavam o que estava escrito.

Mas foi a busca da consciência corporal que mudou a vida de Moira. A dança e a dramaturgia fizeram com que ela percebesse a necessidade de se relacionar de forma plena com o próprio corpo, com o espaço e com as outras pessoas.

– Para ampliar essas percepções, a gente precisa estimular os sentidos através da consciência do movimento.

Até 15 de maio, a atriz está em cartaz com a peça de Daniel Porto dirigida por Alexandre Lino, no Teatro Maria Clara Machado, no Rio de Janeiro. O espetáculo retrata fantasias e desejos sexuais de quatro personagens cegos – e os próprios espectadores são convidados a colocar vendar nos olhos. Ela é a única mulher do elenco.

– As pessoas enxergam a deficiência antes da pessoa. Ainda existe uma ideia de que o deficiente é assexuado – comenta Moira. – Entre nós, cegos, o sexo nunca foi um tabu.

O texto do espetáculo se construiu depois de Alexandre ter lido os contos eróticos reunidos no livro Tripé do Tripúdio, de Glauco Mattoso, que é cego, homossexual e masoquista assumido, e encomendado o texto a Daniel.

No espetáculo, são apresentadas situações onde a deficiência e o erotismo se encontram, como os momentos em que um jovem descobre sua sexualidade ou um homem que enfrenta a perda da visão. Dos quatro atores em cena, dois são de fato deficientes visuais.

Moira já está acostumada à vida nos palcos.

– Precisamos nos adaptar, fazer marcações especiais e memorizar trajetos; mas é um trabalho de ator. Temos que interpretar, trabalhar o corpo e a voz.

Para a atriz, o mote do espetáculo é mostrar que todos, independentemente de sermos deficientes ou não, carregamos dentro de nós muita coisa boa e também temos um lado ruim.

– Temos dúvidas, desejos, gostamos de sexo, de fumar, beber, de sair. Podemos ser bacanas, ou de mau caráter. Somos pessoas, antes de tudo.


Link
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »