23/08/2016 às 17h36min - Atualizada em 23/08/2016 às 17h36min

Miguel Torga e Leopoldina

Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia Rocha, nascido São Martinho de Anta - Vila Real,Portugal - 12 de Agosto de 1907 — Coimbra, 17 de Janeiro de 1995, foi um dos mais importantes escritores portugueses do século XX.

 MIGUEL TORGA, A VOZ DO CHÃO (1907-1925)
 
Por Antônio Olinto – Publicado em 2007
 
 Este foi o título dado ao escritor português Miguel Torga, cujo centenário de nascimento estamos comemorando. Disseram-no intérprete do próprio chão em que nascera. Mas Torga teve também uma forte influência brasileira, pois viveu em Leopoldina, Zona da Mata mineira, dos doze aos dezoito anos, e ali escreveu seus primeiros poemas, inspirados em Casimiro de Abreu.
 
Nascido Adolfo Correia da Rocha, resolveu escrever sob um pseudônimo forte. Escolheu Miguel, prenome tradicional português, ao qual juntou o Torga, que a vem a ser a raiz de uma urze com a qual se faz carvão. Mas tal só aconteceria bem mais tarde. Antes veio trabalhar para o tio que tinha uma fazenda, em Leopoldina,(Nota: Na verdade eram duas fazendas localizadas na região de Palma-MG) onde passou a cuidar de porcos, de bois, da plantação de café e se encarregava mesmo de caçar e matar cobras que atacassem o gado ou mesmo pessoas. O tio percebeu que o menino tinha uma inteligência rara, resolveu inscrevê-lo num curso secundário local (Gymnásio Leopoldinense), onde ele se destacou e começou a escrever poesia.
 
De volta a Portugal, o tio financia -lhe os estudos em Coimbra, onde se formou em medicina e deu início à sua carreira de escritor. Escreveu perto de oitenta livros. Contos, romances, poesia, teatro, ensaios, só de Diários publicou dezesseis volumes. Quando se instituiu o Prêmio Camões, foi ele o primeiro a ganhá-lo. Com ele estive em Coimbra, onde falamos sobre o Brasil. Disse-me que, na mata mineira, descobriu a poesia. E o cinema. À sua aldeia transmontana ainda não havia chegado o cinema. Em Leopoldina e em outras cidades da Mata - Ubá, Cataguazes - pôde conhecer os dois mitos opostos do Século XX: Carlitos e Tarzan. Mas, acrescentou, para ser o escritor que ele queria ser, tinha que voltar a Portugal.
 
Escrevendo mais tarde sobre sua presença no Brasil, disse: "Um de meus títulos de glória foi ter passado a adolescência no Brasil. O Brasil, amei-o eu sempre, foi o meu segundo berço, sinto-o na memória, trago-o no pensamento." Começou a colaborar na revista Presença, em que também escreviam escritores não portugueses, inclusive brasileiros: James Joyce, Anton Tchecov, Henri Bérgson, Fiodór Dostoievski, Cecília Meireles, Ribeiro Couto.


 

Na Fazenda de Santa Cruz, 25 anos depois, Miguel Torga (Fotobiografia).

Participou depois de outra revista, Sinal. De vez em quando tinha lembranças do tempo em que era "moleque de terreiro" na imensa fazenda de Santa Cruz (em cujo interior operavam até duas estações da estrada de ferro local). Lembrava-se das inúmeras vezes que ia ao pasto buscar os cavalos da cocheira, limpá-los e arreá-los, rachar lenha, varrer o pátio. Tinha ainda de atender à freguesia que ia comprar fumo, cachaça, carne-seca, feijão ou trocar grão por fubá. Tinha de fazer a escrita da fazenda e verificar à noite se as portas e janelas estavam bem fechadas.
 
 Por muito trabalhoso haja sido aquele passado, lembrava também do tempo que passou fazendo o ginásio, o gosto que ali passou a ter pelo idioma português e os livros que leu e comentou durante seu período em Minas Gerais. Com dezesseis anos lia tudo quanto lhe chegava às mãos e sabia de cor a biografia de todos os autores que havia na seleta.
 
 E essa luta pelo conhecimento ficou ligada à "pequena cidade cheia de sol", a Leopoldina em que começou a escrever, a Leopoldina que celebrou, neste fim de 2007, o centenário de nascimento de Miguel Torga.



 
 
Fonte do texto: Academia Brasileira de Letras
 


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