14/11/2016 às 16h07min - Atualizada em 14/11/2016 às 16h07min

Angustura, Além Paraíba e Leopoldina na 'Novembrada de 1955' - Carlos Luz na Presidência da República.

Da Série: Fatos e Personagens da História da Zona da Mata Mineira.

Por Plínio Fajardo Alvim
Carlos Luz sentou na cadeira presidencial por três dias.
“Veja como nosso país é formidável, Juracy. Numa só semana, tivemos quatro presidentes da República. Café Filho, titular afastado. Carlos Luz, titular deposto. Nereu Ramos, titular em exercício, e Juscelino Kubitschek, presidente eleito à espera de tomar posse”. - Senador Drault Ernanny ao Senador/General Juracy Magalhães.

“Nessa altura, começou uma transformação espantosa. Surgiu um fenômeno que eu poderia chamar de estado de graça ou a graça de estado do homem Carlos Luz. Esse deputado, presidente da Câmara, político habilidoso, jeitoso, amável – não era nada mais que isso -, de repente assumiu uma posição de grandeza que foi num crescendo até dentro do Tamandaré, como vocês vão ver. Comecei a sentir a transformação de um homem diante de mim. É como se um homem, de repente, se revelasse outro, inteiramente diferente. Primeiro, perguntou aos militares presentes (eu era, creio, o único deputado), notadamente para o Ministro da Marinha: ‘O que vamos fazer? ’”

“Houve um silêncio à espera de uma decisão do próprio Carlos Luz, que continuou: ‘Porque eu não me entrego. Eu fui investido da Presidência da República e só saio dela pela força. Estou inocente em tudo isso, fui traído pelo Ministro da Guerra e não me submeto a uma traição.’” – Deputado Carlos Lacerda, sobre a posição tomada pelo Presidente Carlos Luz a bordo do Cruzador Tamandaré.

►Introdução

Há exatamente 59 anos, o Dr. Carlos Coimbra da Luz, o principal nome da história política de Leopoldina e da região, assumia, interinamente, o cargo de Presidente da República; sendo destituído após três dias. Muitos de nós já ouvimos falar disso, ainda que superficialmente. Embora nos orgulhemos pelo fato de termos tido um Presidente da República, cuja carreira política teve início em nossa região, ficamos sem entender direito aqueles acontecimentos. Durante essa sua última interinidade na presidência, Carlos Luz protagonizou um dos mais conturbados e controversos momentos da história republicana brasileira que, apesar de já ter sido objeto de algumas obras, não foi ainda, a meu ver, revelado com a clareza necessária. Como pesquisador diletante da história e genealogia regionais, procuro explorar e divulgar a ‘nossa riqueza desconhecida’. E, sempre que encontro um viés que o permita, faço uma aproximação da história nacional com a do 'nosso quintal', em particular dos municípios de Leopoldina e Além Paraíba - e do distrito de Angustura, hoje pertencente a este último. Além de acrescentar ou tangenciar as curiosidades e de ressaltar os lados pitorescos ou polêmicos dos acontecimentos. E, sob todos estes aspectos, a ‘Novembrada de 1955’ é, sem dúvida, para mim, emblemática. Afinal, não é qualquer lugar do interior brasileiro que teve um Presidente da República como líder local e regional - e cuja ascensão, destituição, impedimento e renúncia geraram tamanha controvérsia e desdobramentos. Procuro, também, ser o mais isento possível, tentando não 'contaminar' a ótica do leitor. Devo ter em meu acervo uns trinta ou mais livros que mencionam o fato. Alguns, mais específicos, outros, mais superficiais. Vários, com opiniões e avaliações divergentes. Inúmeros outros, com ‘histórias paralelas’. Muitos, inclusive, com autógrafos dos autores. Entretanto, devo enfatizar que, neste pequeno artigo, a minha intenção é só a de registrar a efeméride para contribuir, ainda que modestamente, com o resgate e a preservação de parte de nossa memória. Deixo, portanto, subordinadas ao interesse dos leitores a pesquisa e a análise mais aprofundadas do episódio.

Para quem ainda não as conhece, informo que existem incontáveis ocorrências, interessantes e curiosas, na riquíssima história de Angustura, o único distrito de Além Paraíba-MG. Angustura, que também foi Madre de Deus do Angu, surgiu a partir de um Rancho de Tropeiros em fins do século XVIII e cresceu com o Ciclo do Café, destacando-se como grande produtora na Zona da Mata mineira. Em meados do século XIX Angustura chegou a pertencer ao então vasto município de Leopoldina. Angustura gerou e recebeu personalidades públicas, importantes, do cenário municipal, mineiro e nacional, tanto no Império como na República. Muitas figuras, renomadas nos meios culturais, jurídicos, religiosos, econômicos e políticos - incluindo ativistas e exilados - estão ligadas à memória local.

Uma dessas interessantes curiosidades é a “Novembrada de 1955”, episódio em que ocorreu o impedimento de dois Presidentes da República, em novembro de 1955 – João Café Filho e Carlos Coimbra da Luz. Poucos sabem, mas Angustura esteve envolvida - direta ou indiretamente - nas vidas de alguns dos protagonistas e coadjuvantes daqueles rumorosos acontecimentos.

Antecedentes da Novembrada

O Presidente Getúlio Vargas (PTB), forçado a renunciar por causa de “um mar de lama” nos porões do Palácio do Catete, onde funcionou a Sede do Governo, preferiu o suicídio, em 24 de agosto de 1954. Em seu lugar assumiu o Vice-Presidente, João Café Filho (PSP) – nordestino de origem, que iniciara a vida política junto às classes operárias e que não tinha formação escolar de nível superior.

Em outubro de 1955, houve eleições presidenciais. Foram eleitos, pela coligação PSD/PTB, o ex-Governador de Minas, Juscelino Kubitschek, como Presidente, e João Goulart (Jango), como seu Vice, que seriam empossados em janeiro de 1956. Com a desincompatibilização de Juscelino, em abril de 1955, para concorrer à presidência, o governo mineiro foi ocupado pelo Vice-Governador, o também médico Clóvis Salgado da Gama, natural de Leopoldina, mais tarde Ministro da Educação no governo JK.

Meses antes, havia sido aprovada uma nova Lei Eleitoral e criada a Cédula Única para a eleição do Presidente da República. A UDN defendia que o Presidente fosse eleito pelo voto da maioria absoluta e temia que houvesse fraude nas eleições. A estrutura do PSD foi usada para ajudar na distribuição das novas cédulas oficiais.

Vários candidatos disputaram o pleito e perderam para Juscelino: Juarez Távora, Ademar de Barros e Plínio Salgado. Mesmo depois da vitória de JK, a UDN insistia na tese da maioria absoluta, tentando reverter o resultado das urnas através de pedido de impugnação das eleições junto ao TSE. Juarez Távora foi contra o pedido; Afonso Arinos, também udenista, líder da minoria na Câmara, a favor.

O polêmico deputado Carlos Lacerda, também da UDN, foi o mais ferrenho defensor da impugnação, escrevendo em seu jornal ‘Tribuna da Imprensa’: “Esses homens não podem tomar posse, não devem tomar posse e nem tomarão posse”. Lacerda, inclusive, antes das eleições, fora acusado de estar envolvido com a falsificação de uma carta que, supostamente, teria sido escrita por um ex-deputado argentino, Antonio Brandi, endereçada ao então Ministro do Trabalho, João Goulart (Jango). Foi a famosa “Carta Brandi”, datada de julho de 1955 e também publicada na ‘Tribuna’, em setembro. A carta aludia a uma possível invasão peronista no Brasil e fazia menção às armas que teriam sido compradas por Jango, em Córdoba, e às “Brigadas de Choque Operárias” que ele estaria organizando.

►Testemunhos e opiniões

“Na ocasião (setembro de 1955), depois da divulgação da carta (Carta Brandi), um dos coronéis com os quais eu estivera no Edifício Montese em 1954 me disse: ‘A carta é falsa, mas os fatos são verdadeiros; quem está por dentro dos fatos e da carta é o Kruel, que tem o Jango nas mãos’”. - Almte. Júlio de Sá Bierrenbach, então Capitão, tripulante do Cruzador Tamandaré.

“Eu era a favor de um golpe que evitasse o golpe por via eleitoral. Porque aquela eleição, na minha opinião, era um golpe, que significava a volta da máquina, era o uso da máquina existente para coonestar por via eleitoral o golpe que havia contra o país”. – Deputado Carlos Lacerda.

“Não havia sido alcançada a maioria absoluta. A legislação vigente era omissa”. Deputado Armando Falcão, então futuro Ministro da Justiça.

“A UDN era para nós um cadinho de idealistas, que por serem tão idealistas não sabiam vencer eleições”. Gal. José Maria de Toledo Camargo, Assessor de Relações Públicas do Presidente Ernesto Geisel.

“O Presidente (Café Filho) prometia acatar a decisão eleitoral, mas uns duvidavam da sua sinceridade e outros não acreditavam que ele tivesse força para assegurar a tranqüila transmissão do poder”. - Deputado Oswaldo Trigueiro.

“Não havia planos para derrubar ou assumir o governo, e aí está o que há de inédito, porque a rigor era muito mais conversa do que conspiração”. – Carlos Lacerda.

“Se houvesse golpe preparado, a Marinha não teria sido apanhada tão desprevenida como foi, com a crise crescendo durante dez dias. (...). O Barroso (N.A. – Cruzador Barroso), sem água, sem óleo e sem munição, pronto para entrar no dique, rebocado, na manhã do dia 11; o Tamandaré, atracado, com caldeiras e motores abertos, sofrendo reparos e com pouca munição de boca. (...) Ao ser manobrado o guindaste, para a retirada da prancha, o mesmo enguiçou (...) indo a prancha parar n’água. Todos esses detalhes bem demonstram que o golpe da Marinha só existia na cabeça do Gen. Lott”. – Almte. Julio de Sá Bierrenbach.

A Novembrada

Em 3 de novembro de 1955, Café Filho, o Vice que assumira a presidência, sofreu distúrbios cardíacos e, depois de hospitalizado, transmitiu o cargo, no dia 8, ao Presidente da Câmara Federal, Deputado Carlos Luz, seu substituto constitucional - um político experimentado, advogado, culto, gentil, modesto, conservador e veterano líder do PSD.

Natural de Três Corações, em Minas, Carlos Luz iniciara sua carreira política em outra cidade do mesmo Estado, Leopoldina, onde também lecionara - no Ginásio Leopoldinense - e exercera os cargos de Promotor Público e de Presidente da Câmara Municipal - equivalente a Prefeito atualmente. Antes de chegar à presidência da Câmara Federal, Carlos Luz viria a ocupar, em diversos governos mineiros, os cargos de Secretário de Estado de Viação e Obras Públicas e o de Secretário de Estado do Interior. Nessa última condição, substituiu, por várias vezes, o interventor Benedito Valadares. No governo do Marechal Eurico Gaspar Dutra, Luz foi alçado à função de Ministro da Justiça e ocuparia a presidência da Caixa Econômica Federal, antes de eleger-se Deputado Federal.

Em 11 de novembro de 1955, Carlos Luz, que não apoiara a candidatura de JK, do mesmo PSD, foi surpreendido por um Golpe Militar comandado pelo General Henrique Batista Dufles Teixeira Lott, ex-Ministro da Guerra, que fora destituído do cargo, no dia anterior, pelo próprio Deputado Luz, então Presidente da República, interino.

Carlos Luz, em companhia de alguns aliados políticos e militares - Ministro Munhoz da Rocha, Carlos Lacerda, Almte. Penna Botto, Cap. Sylvio Heck, entre outros - refugiou-se a bordo do ‘Cruzador Tamandaré’, com destino a Santos-SP, onde pretendiam desembarcar. “Porque eu não me entrego. Eu fui investido da Presidência da República e só saio dela pela força. Estou inocente em tudo isso, fui traído pelo Ministro da Guerra e não me submeto a uma traição.” (Presidente Carlos Luz, a bordo do Cruzador Tamandaré). Naquela cidade, com o apoio do Governador paulista, Jânio Quadros, e do Comandante do II Exército, Gal. Olimpio Falconière da Cunha - que declinariam da decisão -, pretendiam instalar a “Sede da Resistência”, o que acabou não acontecendo.

Por determinação do Gal. Henrique Lott o ‘Cruzador Tamandaré’ foi atacado por tiros de canhão, disparados dos Fortes do Leme e de Copacabana, na saída da Baía da Guanabara. Felizmente, e por pouco, os disparos não atingiram o alvo. Esta ordem, passada ao Gal. Cunha Lima, Comandante da “Artilharia de Costa”, foi testemunhada pelo Cel. Geraldo de Menezes Côrtes, Chefe do Deptº de Polícia do Distrito Federal – preso no Ministério do Exército, para onde fora atraído e onde sofreria uma crise nervosa ao presenciar a decisão de Lott.

Precariamente acomodados e comendo “batata, bacalhau e goiabada”, Carlos Luz e seus acompanhantes permaneceram a bordo do Tamandaré até 14 de novembro, quando então desembarcaram no Rio, depois de concluídas as negociações que culminaram com sua “renúncia” à presidência da Câmara Federal.

Naquele onze de novembro, o Palácio Tiradentes - onde funcionava a Câmara, no Rio de Janeiro - foi cercado por tropas do Exército. A Câmara, reunida “a toque de caixa”, votou o impedimento de Carlos Luz, não obstante os comunicados que este, horas antes, já enviara ao presidente interino daquela Casa - Deputado Flores da Cunha – e ao presidente do Senado – Nereu Ramos - dando-lhes ciência de que, embarcado em navio da Marinha de Guerra do Brasil e navegando em águas territoriais brasileiras (“tendo em vista os graves acontecimentos desta madrugada, que ferem de frente a nossa Constituição”), permanecia no exercício das funções de Presidente da República.

►Testemunhos e opiniões

“Impunha-se calcular as eventuais reações adversas à posse de cada um dos candidatos concorrentes. (...) eram as instruções ministeriais sobre o que fazer, como fazer e quando fazer, caso se esboçasse, na prática, qualquer tentativa que visasse a perturbar ou impedir a posse dos novos presidente e vice-presidente da República”. - Dep. Armando Falcão, sobre ação preventiva planejada por Lott.

“Se golpe houvesse, seria também, e sobretudo, contra Café. Se Carlos Luz pretendesse, e perdoe o meu eminente amigo, se, para argumentar ainda que por absurdo, formule uma hipótese injuriosa, materialmente impossível; se Carlos Luz pretendesse o golpe e o ultimasse, estariam contra ele Café, Lott, bem como os elementos mais categorizados do governo”. - Ministro Munhoz da Rocha.

“Aí existem duas teorias, e eu, honestamente, não sei qual delas é a verdadeira. Uma é a de que o Carlos Luz realmente não estava na - vamos chamar – conjura para evitar a posse do Juscelino. Outros, ao contrário, dizem que ele estava profundamente empenhado em apoiar ou, digamos, em dar execução ao programa dos coronéis do Canrobert, que era o nosso programa, em suma. Dizer se era uma coisa ou outra, não sei. Em todo caso, se ele estava neste programa, executou-o muito mal”. Deputado Carlos Lacerda.

“Não será, por acaso, indiscutível mentira democrática um regime presidencial que, dada a enorme soma de poder que concentra em mãos do Executivo, possa vir a consagrar, para a investidura do mais alto mandatário da Nação, uma vitória da minoria?”. - Cel. Jurandir Bizarria Mamede, discursando no enterro do Gal. Canrobert Pereira da Costa.

“Ele falara no enterro do General Canrobert pelo Clube Militar e, portanto, em nome de uma associação civil. Seu gesto não podia ser interpretado como ato de indisciplina militar”.

“Quem me chamara a atenção para esta tese, que me pareceu correta foi o General Teixeira Lott, por ocasião de um episódio anterior”.

“(...) Lott ponderou-me, então, que Canrobert falaria em nome do Clube Militar e, conseqüentemente, por uma agremiação civil”.

“(...) Em face de tal precedente, como preocupar-me com o discurso do Coronel Mamede (...)?” - Café Filho – Presidente da República. (Grifos deste articulista).

“O discurso (...) teve enorme repercussão. O Ministro da Guerra, muito apegado à letra dos regulamentos militares, entendeu que o Coronel devia ser punido”. – Dep. Oswaldo Trigueiro.

“Também os oficiais que assessoram esta Chefia, reunidos para apreciação do assunto, foram unânimes, antes de conhecerem a opinião do Chefe, em encarar o fato pelo mesmo critério de inexistência de indisciplina”. – Tenente-Brigadeiro Gervásio Duncan de Lima Rodrigues, Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, em resposta ao Presidente Carlos Luz.

“(...) ao ver da autoridade competente para impor a penalidade, não havia transgressão: o Coronel se referira à beira do túmulo do saudoso General Canrobert a discurso por este em vida pronunciado (...)” – Carlos Luz, no discurso de renúncia.

“Quanto à ação disciplinar, parece-me que ela só pode ser exercida em linha reta, seguindo a escala hierárquica:

a) Comandante da Escola Superior de Guerra (...);
b) o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas, e
c) o Presidente da República “.

Temístocles Brandão Cavalcanti, Consultor Geral da República, em resposta ao Presidente Carlos Luz.
“Enclausurado no hospital, ignorava tudo, por ordens dos especialistas que me assistiam”. – Presidente Café Filho.

“Nessa altura, Lott já estava inteiramente entendido com o Alckmin para ser o Ministro da Guerra do Juscelino. O Carlos Luz – e por isso é que o acusaram de estar conivente com a conspiração – recusou-se a punir o Mamede. E o Lott pareceu conformar-se com o assunto, pediu demissão e foi para casa”. - Dep. Carlos Lacerda.

“Em 1955, dia 10 de novembro, (...) meu pai (...) chamou-me pelo telefone. Recebera (...) um aviso do General Odylio Denys de que haveria resistência (...) caso Carlos Luz exonerasse naquele dia o seu Ministro da Guerra, General Henrique T. Lott, conforme se propalava”. - Afonso Arinos Filho, Oficial de Gabinete da Presidência da República.

►Golpe preventivo ou Quartelada? 

Segundo alguns observadores, o General Lott, influenciado por alguns comandantes do Exército, por líderes do PSD e por aliados (Gal. Odylio Denys, Gal. Zenóbio da Costa, Dep. Armando Falcão, Dep. José Maria Alckmin, Augusto Frederico Schmidt e outros), teria liderado este “Golpe Preventivo” ou “Contragolpe”, também conhecido como ‘Retorno aos Quadros Constitucionais Vigentes’, sob o pretexto de prevenir um outro suposto golpe - que estaria sendo orquestrado pela UDN - cujo objetivo seria impedir a posse do presidente Juscelino, eleito pela “minoria”.

Havia, de fato, algumas evidências que estimulavam estas especulações, como:

a) as denúncias contra a coligação PSD/PTB - de compra do apoio político do PCB, então na clandestinidade (publicadas pelo jornal ‘O Globo’); b) as bravatas de Carlos Lacerda; c) a falsificação da ‘Carta Brandi’; d) a insatisfação da UDN e de alguns segmentos das Forças Armadas; e) a cisão do PSD; e, principalmente, o ‘Estopim da Crise’, f) os brios feridos de Lott, melindrado pela falta de punição ao Cel. Jurandir Bizarria Mamede (por seu discurso, considerado inconveniente, proferido no enterro do Gal. Canrobert Pereira da Costa); e pelo “Chá-de-cadeira” que o Presidente Luz lhe impusera, em 10 de novembro, antes de substituí-lo, à frente do Ministério da Guerra, por um militar da Reserva - o Gal. Fiúza de Castro.

Contudo, pela ótica de outros analistas, o propalado “Golpe Preventivo” não passava de uma “Quartelada”, ou seja, uma atitude arbitrária do “condestável” Lott e de seus apoiadores, baseados em informações desencontradas e avaliações improcedentes que deram origem a seus temores injustificados. Na verdade, segundo aqueles avaliadores, não havia suficientemente articulação política, apoio popular e nem mobilização ou aparelhamento militares que pudessem, eficazmente, desencadear e garantir uma pretensa manobra contra a posse de JK. Alguns afirmam que o golpe já vinha sendo preparado desde junho, por um grupo de generais. Até mesmo a “Carta Brandi”, apesar de considerada falsa pela perícia, poderia estar revelando fatos verdadeiros.

O Presidente eleito, JK, e seus aliados chegaram a duvidar do mal cardíaco de Café Filho. Há quem diga que, durante a campanha eleitoral para a presidência, questionado sobre o problema do café, Juscelino teria indagado: “Qual, o vegetal ou o animal?”. Com o impedimento de Carlos Luz - na sua condição de Presidente Interino e Constitucional da República - e a sua negociada “renúncia”, ‘a posteriori’, de Presidente da Câmara, assumiu a Chefia do Governo, sob a proteção do Gal. Lott, o Senador Nereu Ramos, Vice-Presidente do Senado e o próximo na linha sucessória da presidência.

Em 21 de novembro, ainda convalescente, Café Filho deixou o hospital e quis reassumir como Presidente da República, pois seu mandato ainda não havia terminado. Tropas e tanques do Exército cercaram o Palácio do Catete e o edifício onde Café Filho morava, em Copacabana. No dia seguinte, o Congresso aprovou também o seu impedimento, repetindo o que já fizera com Carlos Luz em onze de novembro. A seguir, Nereu Ramos decretou Estado de Sítio e Café Filho impetrou Mandado de Segurança para retornar à Presidência. O Supremo Tribunal Federal indeferiu o pedido em razão do Estado de Sítio, que foi prorrogado até a posse de JK e Jango, em janeiro de 1956.

Pelos dizeres da época, a Constituição havia sido “arranhada” ou “rasgada” - em nome de uma questionável tentativa de preservação da legalidade.

Empossado o novo governo, Lott foi mantido como Ministro da Guerra e promovido a Marechal por JK, dele recebendo a famosa “Espada de Ouro”. Nos círculos militares, Henrique Lott era considerado um “Caxias” e exigia ser chamado pela imprensa - que mantivera sob censura, desde novembro - de “Marechal Henrique Lott”, para não ser ridicularizado com um ambíguo “Marechalote”. Concorreu, depois, à sucessão de Juscelino, sendo derrotado por Jânio Quadros. A “Vassoura”, de Quadros, venceu a “Espada”, de Lott.Em síntese, esse foi o cenário político em que se passou a “Novembrada” de 1955.

►Testemunhos e opiniões

“Escurecia, chovia forte, e Lott aguardava na ante-sala presidencial”. - Afonso Arinos Filho.
“Ele está vermelhinho, esperando”. - José Monteiro de Castro, Chefe da Casa Civil da Presidência da República.

“Luz, nesse caso do coronel Mamede, tenha cuidado. Está havendo exploração política em torno do assunto. Não brinque com o princípio da disciplina militar. Lott está com a razão e detém a força. Você tem que prestigiar a autoridade do ministro da Guerra”. – Dep. Armando Falcão ao Presidente Carlos Luz.
“O Carlos Luz cometeu um erro mais grave do que a recusa ou a punição: deixou o General Lott esperando por cerca de duas horas (...). (...) uma das razões que alegou para depor o Carlos Luz é que tinha sido desconsiderado pelo Presidente da República (...)”. Dep. Carlos Lacerda.

“Porque, se eu fosse o Lott, faria vista grossa, ou melhor, retirar-me-ia do Cemitério e tudo estava acabado. Se eu fosse o Carlos Luz, responderia ao Lott: ‘Pois não, Ministro, já repreendi o Cel. Mamede, esteja tranqüilo’”. - Gal. Olympio Mourão Filho.

“Tive ímpetos de manifestar solidariedade ao General Lott, tamanho era o meu apreço pelo meu Ministro da Guerra, sobretudo ao saber que a sua exoneração fora precedida da freqüência de um noticiário radiofônico, que glosava o seu tempo de espera na ante-sala do gabinete presidencial, antes de receber a notícia de sua demissão”. – Presidente Café Filho.

“Então, ainda uma vez, o General Odylio Denys entra em cena. Com a energia que caracteriza todos os seus atos, reúne em sua própria casa os generais sob seu comando”. - Escritor Chermont de Britto.
“Decidimos, então, depor o Presidente Carlos Luz, mas manter a ordem legal”. - Gal. Odylio Denys.

“Lott levanta-se da cama, e olha para a casa do General Denys, que era ao lado daquela em que residia enquanto ministro da Guerra. A casa, apesar do adiantado da hora, estava de luzes acesas”. - Chermont de Britto.

“Lott se entendeu com o General Denys e de lá passou ordem a todas as guarnições e mandaram uma intimação ao Carlos Luz”. - Carlos Lacerda.

“Eu e meus generais resolvemos tomar medidas contra o Presidente Carlos Luz, pela ofensa cometida ao Exército, em sua pessoa, e estamos indo agora para o Ministério. Se você nos quer acompanhar, você ainda é o Ministro”. - Gal. Odylio Denys ao Gal. Henrique Lott.

“Aí, o Lott aderiu e foi para o QG, onde, segundo me disseram hoje durante o dia, teve um acesso de choro! Que homens fracos tem este Exército”. - Gal. Olympio Mourão Filho.

“Claro, foi ele quem fez o 11 de novembro”. - Gal. Cordeiro de Farias, sobre o Gal. Denys.

“Nunca admiti sequer um arranhão no Regulamento Disciplinar do Exército. E eis-me, agora, de repente, situado na incômoda posição de quem foi forçado pelas circunstâncias a rasgar a Carta Magna”. – Gal. Henrique Batista Dufles Teixeira Lott, Ministro da Guerra.

“O comportamento do General Henrique Lott tem sido, desde então, o mais difícil de entender e, sobretudo, de justificar. (...) Pode-se entender que - num país latino-americano, em que as forças armadas ainda não se imunizaram contra o ‘vírus’ da política – Lott depusesse Carlos Luz, como o fez. Nunca se compreenderá, porém, como ele pode se rebelar contra Café Filho, a quem também depôs (...)”. – Dep. Oswaldo Trigueiro.

“Pela madrugada, Carlos Lacerda irrompeu na casa de meu pai, armado e seguido de dois oficiais, instando para que ele os acompanhasse ao Tamandaré. Meu pai disse-lhe que seu posto de combate era na Câmara, e ficou”. - Afonso Arinos Filho.

“Bom, se tiver alguma coisa pelo caminho, a gente pelo menos morre atirando”. – Carlos Lacerda.
“Às quatro horas da manhã, o Marechal Mascarenhas de Morais foi enviado ao Catete para prender o Presidente Carlos Luz e os Generais Fiúza de Castro e Alcides Etchegoyen. Lá chegando, só encontrou os oficiais, porque o Presidente partira numa ambulância em direção ao Ministério da Marinha”. - Historiador Hélio Silva.

“Nada mais inverídico. (...) Ronaldo Moreira da Rocha, assistente do Ministro Marcondes Ferraz, prontificou-se a transportar o Presidente em seu carro particular (...). Não houve ambulância alguma”. - Almte. Júlio de Sá Bierrenbach.

“Pensei comigo mesmo: lá se vai a democracia neste nosso infeliz País. (...) E se o Juscelino conseguir tomar posse, que se benza porque as probabilidades são poucas. Vai surgir daí um ditador. Quem? Lott? Denys? Prefiro o Demônio a qualquer dos dois”. - Gal. Olympio Mourão Filho.

“Voto contra. O Sr. Carlos Luz está em território brasileiro, reunido com os seus ministros leais e dirigindo-se à Nação como presidente da República e chefe das Forças armadas. Designar outro presidente da República, no velho estilo caribiano, é combater uma pretensa ilegalidade com uma ilegalidade flagrante”. – Deputado Neiva Moreira, ao votar contra o pedido de impedimento do Presidente Carlos Luz.

“Naquele instante, só o Tamandaré era grande no país agachado e perplexo. O Tamandaré, nos quadros da Marinha e os bravos pilotos de Eduardo Gomes que lhe atenderam o chamado”. - Ministro Munhoz da Rocha.

“Certamente a maioria de meus colegas votaram em Juarez; mas a tentativa de mudar o veredicto das urnas, através de manobras e sofismas, acabou provocando o golpe/antigolpe de Henrique Lott e Odylio Denys – intitulado como ‘Retorno aos Quadros Constitucionais Vigentes”. Gal. José Maria de Toledo Camargo.

“(...) o Congresso agiu de maneira indefensável, derrubando, arbitrariamente, um Presidente a quem não se atribuiu nenhum crime, salvo se se considerasse delituosa a circunstância de haver adoecido e de ter sido hospitalizado. (...) Café Filho foi condenado pela vaga suspeita de que poderia colaborar em um golpe de Estado, impeditivo da transmissão do governo aos preferidos da soberania eleitoral”. - Dep. Oswaldo Trigueiro.

“Sem dúvida, houve grave quebra da legalidade, mas tudo terminou como que em acomodação geral, parecendo que Café Filho foi o único a perder o emprego”. - Dep. Oswaldo Trigueiro.

“O que o cronista viu, anteontem, nas imediações do Palácio do Catete, era de estarrecer: tropas de metralhadoras apontadas para norte e sul, como se esperassem um ataque iminente. Era quase obsceno”. (...) Que homem terrível deve ser Café Filho!” - Poeta e jornalista Manoel Bandeira.

“Eu devia ser terrível: um homem sem fortuna, um político sem partido, um Presidente em fim de mandato e até um cardíaco saindo do hospital”. – Presidente Café Filho.

► Histórias paralelas que a História não contou – Angustura, Leopoldina e Além Paraíba na ‘Novembrada’.

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▪ Dezembrada - Em 1865, noventa anos antes da “Novembrada de 1955”, o distrito de Madre de Deus do Angu pertencia ao município de Leopoldina e enviou 29 “Voluntários da Pátria” (em 1984 manuseei e copiei as Atas que registraram o recrutamento e a partida dos Voluntários, a mim cedidas pelo historiador Mauro de Almeida Pereira, que residiu em Angustura) para lutar na Guerra do Paraguai. Alguns dos mais importantes confrontos da Guerra ocorreram em dezembro de 1868 - entre os quais a “Rendição de Angustura”. Esse período ficou conhecido como a “Dezembrada”. Tempos depois, Madre de Deus teve seu nome mudado para Angustura, em homenagem àquela Rendição e aos seus 29 bravos heróis. Um destes, reza a tradição oral local, teria salvo, em outra batalha, a vida do então Marquês de Caxias;

Dr. Carlos Coimbra da Luz - Além do imenso círculo de amigos que tinha em Leopoldina, onde fincou raízes e fez carreira política, o Dr. Luz também privava da amizade de vários angusturenses, entre estes Otávio de Castro Côrtes, então futuro Prefeito de Além Paraíba. Era também muito amigo do casal Manoel Fajardo Soares (Dudu) – Farmacêutico pela Faculdade do Ginásio Leopoldinense, natural de Piacatuba, distrito de Leopoldina, ex-sócio e ex-jogador do Ribeiro Junqueira Football Club, do qual Luz fora Diretor - e Maria do Carmo Côrtes Villela Fajardo (Carmita), de família angusturense – sua ex-aluna no Ginásio Leopoldinense. Luz os visitava, com regularidade, na Fazenda Bom Jardim, que lhes pertencia, em Angustura. Em fins da década de 1920, quando Presidente da Câmara Municipal de Leopoldina (equivalente a Prefeito, hoje), Carlos Luz precisou ausentar-se da cidade, sendo substituído, temporariamente, pelo Vice-Presidente, Coronel Olivier Fajardo de Paiva Campos, após a chamada ‘Unificação da Política Municipal’ – visto que eles integravam grupos que se opunham. Olivier Fajardo voltaria a presidir aquela Câmara, nas décadas de 1950/1960. Olivier era primo de Manoel Fajardo, além de seu cunhado – pois foi casado com sua irmã Ozieta.

Comprovando sua consideração e cordialidade, o Deputado Luz viajou do Rio a Petrópolis, para assistir ao casamento de uma das filhas daquele casal (Mª Guilhermina, com João Batista Alvim, então futuro Chefe de Gabinete do Dr. Jairo Salgado da Gama – que seria, mais tarde, Prefeito de Leopoldina, médico, como seu irmão, o Dr. Clóvis Salgado da Gama). João Batista e Guilhermina foram docentes, por mais de quarenta anos, no citado Ginásio Leopoldinense. Em férias, costumavam passar temporadas em Angustura e na Fazenda Bom Jardim – ainda hoje pertencente à sua família, já há seis gerações. Em março de 1962, em razão do elevado conceito e grande estima de que desfrutava em Leopoldina e cidades vizinhas, João Batista Alvim recebeu telegrama do Dep. Federal Abel Rafael, convidando-o para candidatar-se à Assembléia Legislativa de Minas Gerais, pelo PRP; não aceitando por razões de ordem pessoal. Carlos Luz também era amigo do Professor Hernane Evaristo de Rezende, seu conterrâneo de Três Corações, filho do ex-Agente do Executivo daquela cidade (hoje, equivalente a Prefeito), Cel. Valério Ludgéro de Rezende. O Prof. Hernane Rezende residiu na Fazenda do Recanto, em Angustura, em companhia da esposa, Marina Villela Fajardo de Rezende – filha dos mencionados Manoel e Maria do Carmo. Hernane Rezende - assim como seu concunhado J. Batista Alvim - também lecionou no Ginásio Além Paraíba (atual Colégio Além Paraíba) e no Ginásio Leopoldinense (atual Escola Estadual Prof. Botelho Reis);

General Juarez Távora - Foi o segundo mais votado na eleição presidencial de 1955. Quando ainda estudante, costumava gozar férias em Além Paraíba-MG, hospedando-se na casa do tio, Padre Carloto Távora, Pároco da Matriz de São José e, depois, Bispo de Caratinga-MG. Nessa época, Juarez Távora conviveu com o alemparaibano Humberto Mauro, natural do então distrito de Volta Grande, e que também seria aluno do Ginásio Leopoldinense. Certa vez, convalescendo de uma cirurgia, Juarez hospedou-se, por mais de um mês, na Fazenda Bom Retiro, do angusturense Oscar Teixeira de Figueiredo Côrtes, cafeicultor, Coronel da Guarda Nacional, concunhado do Deputado Alfredo Martins de Lima Castelo Branco – um dos principais nomes da história de Além Paraíba, co-signatário, como Milton Campos e Fausto Alvim, abaixo mencionados, do histórico “Manifesto dos Mineiros” contra a ditadura Vargas. Há poucos anos, no exercício de minhas atividades profissionais, no Rio de Janeiro, tive a oportunidade travar cordiais relações com o Juiz de Direito Dr. Juarez Fernandes do Nascimento Távora Filho; e, também, com duas primas do Presidente Café Filho, além de conversar com um sobrinho do Marechal Henrique Lott e com uma neta do Almirante Penna Botto;

Dr. Milton Soares Campos - Candidato a vice-Presidente pela Chapa de Juarez Távora, ex-Governador de Minas Gerais, Presidente da UDN e então futuro Ministro da Justiça, também estudara no Ginásio Leopoldinense. Foi um dos mais íntegros nomes da política brasileira, de todos os tempos. Recusou, por escrúpulos, e por mais de uma vez, o cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal, em razão do pouco tempo que então lhe faltava para fazer jus à aposentadoria compulsória, aos 70 anos. Sobre ele escreveu Carlos Drumond de Andrade: “Ele foi o homem que a gente gostaria de ser”, “Ele era o orientador involuntário e despretensioso de nossa geração”. Seu pai, nascido em Angustura, era o Desembargador Francisco de Castro Rodrigues Campos – Presidente do Tribunal de Apelação de Minas Gerais. Sua avó paterna era Margarida Monteiro de Castro, nascida na já referida Faz. Bom Jardim, de Angustura, sobrinha do 1º Barão de Leopoldina, Manoel José Monteiro de Castro. Margarida casou-se, em primeiras núpcias, com Faustino José Rodrigues Campos, natural de Prados-MG, do mesmo tronco familiar de Joaquim Honório de Campos, o Barão do Rio Pardo, antigo fazendeiro em Piacatuba/Leopoldina. Faustino Campos foi Administrador das propriedades do Coronel Francisco de Assis Manso da Costa Reis e faleceu em Angustura, na Fazenda da Barra que, assim como a Faz. Bom Jardim, viria a pertencer a Domingos de Andrade Villela, pai de Carmita Fajardo;

Dr. Afonso Arinos Filho - O Oficial de Gabinete de Café Filho e de Carlos Luz era filho do deputado udenista Afonso Arinos de Mello Franco, primo do angusturense Dr. Fausto Figueira Soares Alvim – que era neto de Cypriano Gomes Figueira, pioneiro da Família Figueira em Angustura e região. Dr. Fausto foi Prefeito de Araxá-MG, Presidente do extinto IAPC e também signatário do “Manifesto dos Mineiros” contra Getúlio Vargas. Em agosto de 1948, Dr. Fausto hospedou, em sua Fazenda do Pombal (em Volta Grande), o então Governador Milton Campos, quando de sua viagem à Zona da Mata. Fausto Alvim é pai do diplomata e poeta Francisco Alvim e das poetisas Ângela Alvim, já falecida, e Maria Lúcia Alvim, residente em Volta Grande;

Coronel Geraldo de Menezes Côrtes - Então Chefe do Departamento de Polícia do Distrito Federal e, posteriormente, Deputado Federal, líder da UDN. Foi preso em 11 de novembro de 1955, suspeito de participar da pretensa “conspiração” contra a posse de JK. Menezes Côrtes testemunhou a ordem de Lott para alvejar o Cruzador Tamandaré, tendo a bordo o Presidente Carlos Luz e seus aliados. Era neto do Senador Estadual Dr. Agostinho Cesário de Figueiredo Côrtes, que dá nome à cidade de Senador Côrtes - antigo distrito de Monte Verde, em Mar de Espanha-MG, onde foi cafeicultor. O Senador foi sepultado em Angustura;

Dr. Nelson Hungria Hoffbauer - Ministro do Supremo Tribunal Federal. Nasceu na Fazenda Solidão, em Angustura, neto de Antonio Domingues (o ‘Velho Carcacena’), fundador da ‘Casa Carcacena’, rede comercial com matriz em Angustura e cerca de 20 filiais espalhadas pela Zona da Mata mineira, incluindo Leopoldina, Cataguases, Além Paraíba e Juiz de Fora. Nelson Hungria era descendente de Manoel Gonçalves Côrtes – pioneiro da Família Côrtes nesta região – e primo de Homero Côrtes Domingues e de Agenor Côrtes de Barros, sócios de Humberto Mauro na “Phebo Films”, em Cataguases. Como Ministro, Nelson Hungria indeferiu o Mandado de Segurança impetrado por Café Filho, visto que o “imperativo dos canhões” subjugara a Lei: “(...) o impedimento do impetrante para assumir a Presidência da República, antes de ser declaração do Congresso, é imposição das forças insurrecionais do Exército, contra a qual não há remédio na farmacologia jurídica”;

Dr. Clóvis Salgado da Gama - Médico, nascido em Leopoldina. Foi Vice-governador de JK, em Minas, e Governador, quando Juscelino foi candidato à presidência. Foi Ministro da Educação no governo JK e Vice-governador mineiro, quando o titular era Magalhães Pinto. Foi também Diretor do Hospital das Clínicas e Diretor da Faculdade de Medicina da UFMG. Foi Presidente da Sociedade de Cultura Artística, da Sociedade Coral de Belo Horizonte e da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais. Em 1978, a antiga Fundação Palácio das Artes, em B. Horizonte, recebeu o nome de Fundação Clóvis Salgado, órgão integrante do Sistema Estadual de Cultura de Minas Gerais. Quando Ministro, autorizou, através da CARRPE - Campanha de Restauro e Recuperação de Prédios Escolares de Minas Gerais - as obras de reforma total do ‘Grupo Escolar Barão de São Geraldo’. Apoiou, com seu pretígio político, a criação do ‘Ginásio Vocacional e Agrícola Pedro de Freitas’ e do ‘Patronato Oscar Teixeira Marinho, em Angustura’. Como reconhecimento, seu nome foi dado ao antigo ‘Largo da Grama’, onde se localiza o Grupo Escolar e onde existiu o primitivo Rancho de Tropeiros que deu origem à atual Vila de Angustura; e,

Coronel Luiz Gonzaga de Andrada Serpa - Era irmão dos então futuros generais Antonio Carlos A. Serpa e José Maria A. Serpa - Ministro do EMFA, no Governo Geisel. Em novembro de 1955, por não concordar com a “Quartelada” do Marechal Lott, Luiz Gonzaga foi preso; assim permanecendo por sessenta dias. Sua filha, Admrª. Maria Antonia Serpa, integrou, entre os anos de 1978 e 1982, a Turma do Curso de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com a qual também se bacharelou este pesquisador.

► Uma incrível coincidência - O ‘dedo mindinho’ de Lula.

Passados tantos anos, o Presidente da República é hoje eleito, obrigatoriamente, pela maioria dos votos válidos. Tecnologias e procedimentos modernos também vêm sendo cada vez mais utilizados - tanto para agilizar o processo eleitoral quanto para se tentar coibir as fraudes. Apesar dos inúmeros problemas ainda existentes, acredito que, desde aquela época, houve um grande avanço nessa matéria.
Curiosamente, em julho de 1955, foi introduzido na Lei nº 2550, que criava a Cédula Única para eleição do Presidente da República, o seguinte artigo:“Art.36 - Depositado o voto na urna, o eleitor, logo em seguida, introduzirá o dedo mínimo da mão esquerda em um recipiente que contenha tinta fornecida pelo Tribunal Superior Eleitoral ou pelos Tribunais Regionais Eleitorais”.

“§ 1º - Se o eleitor se encontrar impossibilitado de utilizar o dedo mínimo da mão esquerda para o fim previsto neste artigo, seja em virtude de lesão física temporária ou permanente, seja por qualquer outro motivo, deverá ser assinalado, pela mesma forma, em lugar visível, de preferência no dedo mínimo da mão direita”.

(Grifos deste pesquisador).

Os dois parágrafos restantes dizem, em suma, que a tinta deveria ter duração de 12 horas, no mínimo, e que o eleitor que apresentasse vestígio dela não poderia votar. Mais tarde, a lei foi alterada e este artigo foi suprimido, em razão de não ter sido encontrada, no mercado interno brasileiro, tinta que pudesse ser usada para tal fim.

Mas ninguém, jamais, poderia imaginar que, ironicamente, cinquenta anos depois, o Presidente da República, Lula, não possuiria o dedo mínimo da mão esquerda, ‘em razão de lesão física permanente’.
(*) A partir de original, deste autor, publicado em 2005 (aniversário de 50 anos da ‘Novembrada’), na versão impressa do Jornal Leopoldinense; revisto e ampliado em 2010, publicado no site do mesmo jornal; atualizado em 2011. Todas as informações deste texto foram extraídas de inúmeras obras (algumas autografadas pelos autores) existentes na biblioteca e no acervo pessoal deste pesquisador.


 
© Plinio Fajardo Alvim – Administrador, pela UFRJ. Pós-graduado. Ferroviarista. Ambientalista. Pesquisador da História da Zona da Mata Mineira. Membro da Academia Ferroviária de Letras, do Movimento de Preservação Ferroviária, do Grupo Brasil Verde e do Instituto CULTURAR.
 
 


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