27/10/2017

Psicografia de Chico Xavier em Leopoldina atribuida ao espírito de Augusto dos Anjos

Religião

O funcionário do Ministério da Agricultura, lotado na Escola Modelo de Pedro Leopoldo, Francisco de Paula Cândido (Em 1966, mudaria para o nome paterno de Francisco Cândido Xavier). O médium Chico Xavier, (O terceiro da esquerda para a direita) sempre visitava Leopoldina a serviço quando da realização da Exposição Agropecuária.   

  De acordo com o relato do professor Zanoni Araujo, em uma dessas visitas, Chico e seu supervisor Dr. Rômulo Joviano, se dirigiam ao Centro Espírita Amor ao Próximo, onde todos já o esperavam aguardando as mensagens psicografadas que seriam recebidas até altas horas da noite.

  Dr. Rômulo era seu secretário na mesa de psicografia, fazendo pontas em lápis e trocando as folhas psicografadas.  Pelo menos em duas ocasiões (1940 e 1947) sonetos atribuídos ao espírito de Augusto dos Anjos foram psicografados por Chico em Leopoldina .  Estes foram incluídos em novas edições do livro "Parnaso de Além Túmulo"



                                         
                             GRATIDÃO a LEOPOLDINA*.
 
                        Sem o vulcão de dor de hórridas lavas,
                        Beija, augusto, este solo generoso,
                        Que te guardou no seio carinhoso
                        O escafandro das células escravas.
 
                        Aqui, buscaste o campo de repouso,
                        Depois de vagas ríspidas e bravas
                        No mundo áspero e vão, que detestavas,
                        E onde sorveste o cálice amargoso.
 
                        Volta, augusto, do pó que envolve as tumbas,
                        Proclama a vida além das catacumbas,
                        Nas maravilhas dos seus resplendores.
 
                        Ajoelha-te e lembra o último abrigo,
                        Esquece o travo do tormento antigo
                        E oscula a destra de teus benfeitores.
 
·         Poesia recebida em 18 de junho de 1940, em Leopoldina, onde foi sepultado o poeta.
 
 
RECORDAÇÕES EM LEOPOLDINA(*)
Augusto dos Anjos

A sombra amiga destes montes calmos,
Meu pobre coração de anacoreta,
Amortalhado em fina roupa preta,
Desceu à escuridão dos sete palmos.
 
Viera o fim dos sonhos intranquilos,
Entre grandes e estranhos pesadelos,
Satisfazendo aos trágicos apelos
Da guerra inexorável dos bacilos.
 
A morte terminara o horrendo cerco,
Sufocando as moléculas madrastas...
Eram milhões de células nefastas,
Voltando à paz do túmulo de esterco.
 
Indiferente aos últimos perigos,
Meu corpo recebeu o último beijo
E comecei o lúgubre cortejo,
Sustentado nos braços dos amigos.
 
Em triste solilóquio no trajeto,
Espantado, fitando as mãos de cera,
Rememorava o tempo que perdera,
Desde as primárias convulsões do feto.
 
Porque morrer amando e haver descrido
Do Eterno Sol, do qual vivera em fuga?
Como é sombrio o pranto que se enxuga
Pelo infinito horror de haver nascido!...
 
Depois, vi-me no campo onde a dor medra,
Ao contato do chão frio e profundo,
Chegara para mim o fim do mundo,
Entre as cruzes e os dísticos de pedra.
 
Terrível comoção pintou-me a cara,
Na escabrosa cidade dos pés juntos,
Tornara-se defunta, entre os defuntos,
Toda a ciência de que me orgulhara.
 
Trêmulo e só no leito subterrâneo,
Sentia, frente à lógica dos fatos,
O pavor dos morcegos e dos ratos,
Dominar os abismos de meu crânio.
 
Meus ideais mais puros, meus lamentos,
E a minha vocação para a desgraça
Reduziam-se a mísera carcaça
Para o açougue dos vermes famulentos.
 
Em seguida o abandono, enfim, do plasma,
Os micróbios gritando independência...
E tomei nova forma de existência
Sob a fisiologia do fantasma.
 
Fugindo então ao gelo, à sombra e à ruína.
Do caos sinistro em que vivi submerso
Revelou-se-me a glória do universo,
Santificado pela Luz Divina.
 
Oh! Que ninguém perturbe os meus destroços,
Nem arranque meu corpo à última furna,
É Leopoldina a generosa urna,
Que, acolhedora, me resguarda os ossos.
 
Beije minhalma alegre o pó da rua,
Deste painel bucólico e risonho,
Onde aprendi, no derradeiro sonho,
Que o mistério da vida continua...
 
Bendita seja a Terra, augusta e forte,
Onde, através das vascas da agonia,
Encontrei em mim mesmo, em novo dia,
Pelas revelações de luz da morte.
 
(*) Espírito:  Augusto dos Anjos -Psicografia de  Francisco Cândido Xavier
Recebida em 17 de julho de 1947
 
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