26/12/2014 às 15h22min - Atualizada em 26/12/2014 às 15h22min

Proposições para o Patrimônio Cultural é o novo livro de Yussef Campos

Lançamento em Leopoldina será na segunda-feira, 29 de dezembro, às 19h30min, no Lobato Bar e Restaurante

Capa de Proposições para o Patrimônio Cultural, novo livro de Yussef Campos

Falar sobre o próprio livro trata-se de ofício desafiador e arriscado, podendo levar o autor à injustiça da valoração desmedida ou ao menosprezo indevido. O que posso fazer é fazer breve apresentação sobre esse objeto que será lançado no dia 29 de dezembro, no restaurante Lobato (Rua Manoel Lobato, 203, Centro - Leopoldina), às 19h30min. E, na tentativa de tentar o leitor desse jornal a comparecer ao evento, ilustrar a obra com a leitura de alguns dos mais competentes profissionais e pesquisadores que já se debruçaram sobre a obra.

O livro “Proposições para o Patrimônio Cultural” é fruto de pesquisas realizadas pelo autor durante o mestrado e o doutorado, publicado pela Lei Murilo Mendes, de Juiz de Fora, com o selo de edições Funalfa. Agraciado com recursos da lei juizforana de incentivo à cultura, saiu do prelo em 2014, discutindo pontos distintos sobre o Patrimônio Cultural, como legislações, memórias coletivas, restaurações, demolições, processo constituinte e reivindicação de identidades sociais. Em alguns momentos teórico, em outros prático, o livro apresenta estudos de caso (sobre Juiz de Fora, Cataguases, p. ex.) como também analisa políticas públicas voltadas para a preservação do patrimônio, aplicadas tanto a planos mais abrangentes, como locais, como o repasse e ICMS do estado de Minas Gerais a seus municípios, como Leopoldina.

O juiz de Direito Dr. Felipe Morais Barbosa, leopoldinense, com atuação no estado de Goiás, assim falou sobre o livro, em texto publicado em sua orelha: "O processo de globalização gera nos grupos sociais a sensação de perda de identidade. O próprio conceito de “nação” se relativiza em razão da homogeneização dos hábitos e tradições. Atento a tais alterações e conhecedor da importância da identidade social, Yussef Campos não vem medindo esforços para sistematizar conceitos fluidos e delimitar o real alcance dos institutos de proteção do patrimônio cultural. Nesta obra, o jurista-historiador contribui de forma significativa para a otimização da tutela do patrimônio cultural, realçando a importância da sua proteção e os mecanismos colocados à disposição dos agentes políticos e aplicadores do direito. O livro é leitura obrigatória a todos aqueles que enxergam que o passado ajuda a construir o presente e antecipa o futuro. O passado fundamenta as opções, abre outras perspectivas. Quando investigado, o passado condiciona o presente e o futuro de forma incisiva".

O historiador Ms. Moysés Neto, consultor da Unesco no Brasil, se posicionou assim (trecho extraído de texto de apresentação): " Yussef pode vivenciar os paradoxos dos posicionamentos das identidades culturais e seus marcos tão sacralizados pelos processos de institucionalização do patrimônio. O pesquisador não só leu, como pode viver o campo do patrimônio e da representação com espaço da concordância e conflito, da identidade e da diferença, como elemento fundamental da construção de discursos hegemônicos, em histórias oficiais e celebrativas, bem como de estratégias de resistência e liberdade de grupos minoritários, ambos sob a ordem da preservação".

Para a antropóloga Dra. Maria Letícia Mazzuchi (vide prefácio): "Falar de patrimônio no presente é falar de processos cognitivos e afetivos de reconhecimento de valor pelos quais o objeto patrimonial passa a designar o passado no presente. Nesse 'regime patrimonial', conforma aponta Valdimar Hafstein, o passado é objeto de disputa, controle, articulador de identidades, tendo no Estado o maior agente de sua promoção. É desse papel do Estado nesse novo regime de relação com o tempo, que o livro de Yussef Daibert nos fala. Composto por sete capítulos, o que temos na verdade são sete exercícios de reflexão sobre o processo de normatização e regulação do patrimônio no Brasil, processo que, em ultima instância, pode ser considerado como ativador patrimonial, buscando nos aproximar aqui do conceito formulado por Llorenç Prats".

Já para o museólogo Mário Chagas (4ª capa): "O leitor tem diante de si um livro que desafia o senso comum e investe com admirável ousadia, criatividade e inteligência na possibilidade de se pensar e de se desenvolver novas questões patrimoniais. Yussef Campos é um pesquisador raro e conectado no mundo contemporâneo, capaz de lidar com o passado sem perder o foco no presente e no futuro e, por isso mesmo, capaz de abrir novos horizontes de pesquisa. Yussef Campos é um pesquisador que combina consistente formação no campo do direito, com formações igualmente consistentes no campo do patrimônio e da memória social. O livro Proposições para o Patrimônio Cultural aporta especial contribuição para as práticas e as reflexões em torno do patrimônio cultural. Nele encontram-se uma importantíssima entrevista com Antônio Augusto Arantes, além de pesquisas e ensaios que colocam em diálogo os campos da história, do direito, da antropologia, do cinema, do patrimônio e da memória. Vale a pena conferir”.

E, por fim, a celebrada escritora Rachel Jardim, em carta endereçada ao autor, assim se manifestou:

“Yussef Campos não é arquiteto, mas conhece Viollet-le-Duc e Ruskin. O primeiro, arquiteto, escandalizou os franceses “bem pensantes” de sua época ao introduzir, na arte de restaurar, inovações que traduziam o passar do tempo. Não é à-toa que Proust se refere várias vezes a ele na sua busca do tempo perdido. Ruskin, com sua paixão pelas catedrais góticas, o influenciou grandemente, inclusive no seu estilo literário, em seus textos iniciais. Ruskin, cuja procura pela beleza levou verdadeiras caravanas eruditas a percorrer o mundo seguindo seus roteiros, condenava qualquer modificação que alterasse o aspecto original das edificações citadas por ele. Ao contrário de Viollet-le-Duc, preferia a morte à alteração e desvirtuamento das construções. Yussef Campos tem uma visão atualizadíssima de patrimônio cultural, chegando até ao cinema, com o cinema Paradiso – o nosso Central em Juiz de Fora.

O cinema pode ser bem um símbolo do que representa o patrimônio cultural – imagens que vão se inserindo na eternidade, nas quais seu espírito permanece, apesar das transformações vindas do tempo, que a máquina assinala. A eternidade, e não a permanência, é a busca do patrimônio.

Assim, temos um jurista que, ao contrário de sua maioria (Procuradores têm propugnado uma indenização do estado aos bens tombados ou preservados), percebe as verdadeiras leis que regem o instituto do patrimônio – a pedra e o espírito.

O patrimônio imaterial, o patrimônio afetivo, a concepção das cidades estão expressos em diversos momentos. A procura da beleza que norteou a visão de Ruskin e ensejou tantas viagens de seus seguidores pelo mundo inteiro, no século XIX, deixou de ser a visão de Proust. Sua “memória transitória”, que protege sensações,  coincidente com o que Campos reproduz na abertura de seu livro: “Há quem diga que, sem percebermos, vamos inventando tudo que à medida que avançamos, com bordados e enfeites, e me inclino a concordar que a Senhora Memória é muito dissimulada e sutil” (John Banville)

Sutil é todo o livro de Campos, alicerçado, entretanto, em concepções as mais concretas, buscando uma legislação inovadora, mas sem brechas, de uma solidez irretorquível.

O desenho da capa de seu livro é emblemático – a eternidade, a Criação, vistas através de uma janela. O vidro, aparentemente frágil, as revela e as guarda com todas as mudanças de luz, hora, intempéries, agitação e calma. Até o infinito, pois não há limites para o olhar humano.” Rachel Jardim.


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