23/12/2015 às 16h30min - Atualizada em 23/12/2015 às 16h30min

Idoso de 91 anos é agredido em lotérica do centro de Leopoldina

Zé Sodré
Na terça-feira, 22 de dezembro, por volta de 09h25min, o idoso José Dário Sodré, 91 anos, foi agredido dentro da loja lotérica existente na Praça General Osório, sendo levado para atendimento no Pronto Socorro Municipal Dr. José Bastos Faria Freire, anexo ao hospital da Casa de Caridade Leopoldinense. Uma de suas filhas, a advogada Marluce Sodré, conseguiu cópia da filmagem feita pelas câmeras de vigilância do local e registrou boletim de ocorrência policial. (Clique aqui para ver). A cena da agressão foi postada em sua página no facebook na tentativa de identificar o agressor, mas até a tarde desta quarta-feira, o homem ainda não foi identificado.

Ex-líder sindical e fundador do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Fiação e Tecelagem de Leopoldina e também da Associação dos Aposentados, José Dário Sodré é uma figura muito querida em Leopoldina, tendo sido por muitos anos dirigente da Liga Esportiva Leopoldinense e do Operário Futebol Clube.

Memória Leopoldinense
José Dário Sodré – 91 anos de história

Luciano Baía Meneghite

Zé Sodré sendo homenageado no sindicato em 1981

Zé Sodré sendo homenageado no sindicato em 1981
 
Todo mundo em Leopoldina conhece ou pelo menos já ouviu falar de José Dário Sodré ou simplesmente “Sodré”. Testemunha viva do apogeu e queda da maior indústria já instalada em Leopoldina. Um dos personagens centrais do sindicalismo na cidade e também do esporte.
 
Para os amigos mais antigos é o Zé “Caburé”, apelido ganho provavelmente pelas sobrancelhas grossas e juntas. Para a família é o Zé ou Zezé; o nosso tio Zezé.

Nasceu em 25 de outubro de 1924, na Fazenda Boa Vista, do Capitão Olímpio de Almeida Machado, entre Aracati e Vista alegre, distritos da vizinha Cataguases. Primogênito do casal Deolindo Sodré e Albertina Cândida de Oliveira. Irmão de Maria Nazareth, Joaquim “Quinzinho”, Antônio “Totôe”, Rubens, Gilberto “Betinho” e Roberto Heleno. Em 1939 veio com a família para Leopoldina.  

Aos 15 anos de idade entrou para a Fábrica de Tecidos, a “Companhia de Fiação e Tecelagem Leopoldinense”. Era então a maior indústria da cidade, fundada em 1925 por Gabriel Andrade Junqueira, José Ribeiro dos Reis “Zequinha Reis” e Ormeu Junqueira Botelho. A Fábrica chegou a ter mais de 1800 operários. Em 18 de dezembro de 1947 casou-se com Sebastiana Couto de Oliveira,“Taninha”,com quem teve os filhos: Maria Helena, José Heleno, Marlene do Carmo e Marluce do Rosário. Em 17 de setembro de 1958, ficou viúvo com os filhos ainda pequenos.  Em 11 de setembro de 1960 casou-se com Ieda Rodrigues de Oliveira, com quem vive até hoje. Com ela teve os filhos: Carlos Sérgio “Kiko” e Luzia Valéria.

O Sindicalista - Apesar  do pouco estudo (primário), Zé Sodré passou a ler  e se interessar sobre as recentes leis trabalhistas implantadas pelo governo Getúlio Vargas.  Em 1953, com um número de 407  associados,   iniciou-se a fundação do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Fiação e Tecelagem de Leopoldina, sendo  conseguida a carta de registro em 17 e 18 de março de 1954 graças a intervenção de Antenor Ribeiro dos Reis junto ao deputado José Bonifácio Lafayette de Andrada, curiosamente um deputado da UDN, oposição ao governo Getúlio.  Segundo Zé Sodré, também ajudaram na formação da entidade, Alziro de Azevedo Carvalho, Castelar Modesto Guimarães (membros do antigo Partido Trabalhista Brasileiro), Adávio Pires de Almeida, José Antônio Botelho da Silva, Joarês Silvio da Costa, além dos sindicalistas de Cataguases, Antônio Gama do Vale, presidente do Sindicato Têxtil, José Galdino Condé, presidente dos Gráficos, Felicíssimo Gonçalves Vieira, presidente dos Hidroelétricos, e os advogados Pedro Dutra Nícacio Neto e Theodósio Passos Guieiro. 

Com a primeira eleição, o número de filiados chegou a 788. Duas chapas disputaram uma dura eleição e Zé Sodré foi eleito o primeiro presidente da entidade com 130 votos de frente.  Sem sede própria, reuniões chegaram a ser feitas na rua ou na residência de Sodré, pois ninguém na cidade se dispunha a alugar um espaço. Os sindicalistas eram vistos como “inimigos da fábrica”.  Pouco tempo depois o sindicato foi transferido para o Clube dos Cutubas, não sem antes enfrentar certa resistência por parte da diretoria do Clube que também temia “ser mal vista” pelos donos da fábrica. Sebastião Maximiniano era um dos integrantes do Cutubas que num primeiro momento resistiu à instalação do Sindicato no clube. Após muita conversa, acabaram entrando num acordo. O Cutubas era então presidido por Alípio Assunção. Sodré foi reeleito em 1956. Voltando ainda em 1960 quando foi lançada a pedra fundamental da sede própria do Sindicato têxtil projetada por Ubirajara de Oliveira Leite. Segundo Sodré, a obra teve importantes colaborações de pessoas como Antônio Firmino “Xuxú”, Joaquim Pacheco e operários da fábrica de tecidos.
José Dário Sodré não tinha nenhuma militância política/partidária; não podia ser considerado de esquerda ou direita, mas mantinha contatos com importantes lideres sindicais como Sinval Bambirra, presidente da Federação dos Tecelões de Minas Gerais e Clodsmith Riani, presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Indústria Elétrica de Juiz de Fora. Ambos se tornaram deputados pelo antigo PTB e foram cassados pela ditadura.

A paranóia anticomunista, muito comum na época fez com que o sindicato fosse visto com desconfiança por alguns dirigentes políticos/empresariais de Leopoldina.  Alguns não demonstravam claramente a antipatia pelo sindicato, mas manobravam nos bastidores pelo seu controle. Sodré lembra-se de um guarda-livros da fábrica que segundo ele não o via com bons olhos.   Isso se acentuou com o Golpe de 1964. Houve uma intervenção do Ministério do Trabalho no sindicato e Zé Sodré temendo que “plantassem” documentos falsos para incriminá-lo de alguma forma, procurou com antecedência o então delegado de polícia e seu amigo Derneval Vargas, que no dia da posse dos interventores, junto com o delegado Edgar Reis de Andrade e peritos fez um levantamento minucioso no sindicato, não encontrando nenhuma irregularidade.Só então foram entregues as chaves da entidade para a junta.   

“Nossa luta foi mais de sofrimento que de alegrias. Depois de construída a nossa sede, tivemos que sair dessa maneira brutal.” Disse Sodré. “Graças a Deus tivemos algumas autoridades do nosso lado, como o promotor Leonel Alves Pequeno e o advogado Gustavo Monteiro de Castro Junior, que foi um verdadeiro anjo da guarda. Companheiros de outras cidades foram presos, espancados e mortos’, completa. 
Passados os tempos mais duros, Sodré voltaria ao sindicato em 1981 a convite do presidente Oswaldo Borges como homenageado, emprestando seu nome à sala de reuniões.
O desportista - Além de sindicalista, José Dário Sodré teve participação ativa no esporte. Organizou o “Operário Textil Futebol Clube” e auxiliou na renovação dos estatutos da antiga LEAL -Liga Esportiva Amadorística Leopoldinense, alterando seu nome para LEL – Liga Esportiva Leopoldinense, incluindo o profissionalismo no caso do Esporte Clube Ribeiro Junqueira.  Junto com Roberto Vizani Yung, o Xamego, Ivo de Almeida do Nascimento, Cabo Onalde Ribeiro, João Bonin, Prof. Alziro Carvalho, José Barroso Lamas “Rivelino”, Geraldo Fajardo “Bidon”, José Edgar Soares, Nilo Bastos, Bené Guedes, Pedro Carlos Serpa e Paulo Rubens Franzone, ajudou a reorganizar os clubes para se filiarem à Federação Mineira de Futebol e ao Conselho Regional de Desportos. Em abril de 1987, José Dário Sodré assume a presidência da Liga devido ao falecimento de ‘Xamego’, de quem era vice, em desastre automobilístico. Com ajuda dos clubes, saneou dívidas deixadas pela diretoria anterior e causa trabalhista, deixando dinheiro em caixa ao sair. Participou também da diretoria do tradicional Leopoldina Malha Clube.

Zé Sodré trabalhou na “Fabrica” até seu fechamento em 1972 e posteriormente na indústria que a substituiu por curto período, a Intertex, se aposentando após 36 anos, quatro meses e 13 dias de trabalho. Depois de aposentado ainda trabalhou algum tempo na recepção do Hotel Ritz.  Ao longo dos últimos anos tem sido homenageado por diversas entidades pelos serviços prestados à Leopoldina. Hoje, ainda mora na Avenida Getúlio Vargas, ao lado da antiga fábrica (hoje Apa Confecções S/A), participa da vida da cidade, dividindo seu tempo com a numerosa família, os amigos e suas idas à querida Vista Alegre, onde, até recentemente mantinha uma residência.
 


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