Três da manhã, segunda-feira. Céu estrelado. Lua cheia. Silêncio sepulcral. Nenhum pernilongo. Temperatura gostosa. Vitória do Flamengo na véspera. Tudo garantidor da consecução de um sono invejável.
Eis que, de repente, “não mais que de repente”, um vozeirão surge defronte do prédio em que eu me abrigava na Praia do Morro, em Guarapari-ES.
Curioso, acheguei-me à janela e entreabri a cortina para visualizar o “gritador”, um bitelo de homem, cujo corpanzil poderia amedrontar quem dele se aproximasse. Meio acordado, meio anestesiado pelo sono, antenei-me para bem ouvi-lo e custei a entender o que era gritado repetidamente.
Não sei se era um notívago para quem “a noite é uma criança e não pode dormir sozinha”, se era um contumaz bebum ou algum marido que estendera sua permanência em algum bar para só retornar ao lar depois de estar certo de encontrar a rigorosa esposa “nos braços de Morfeu”.
Garanto que insofismável era sua total confiança na vitória eleitoral, pois não dizia “se eu for eleito”. Ele, confiando plenamente no sucesso de sua candidatura, dizendo-se à espera de sugestões e críticas, se excedia em promessas, dizendo “quando eu for eleito”... !
Sua convicta postura me fez admitir a ele me dirigir atrevidamente e pedir a inclusão, em sua plataforma política, de um olhar para Leopoldina, destruindo com ações eficazes a alcunha que aqui se consolida de “cidade dos buracos”. E, esperançoso, acrescentaria:
Se ele me solicitasse sugestões para toda Minas Gerais, ouviria:
Sentindo-o pessoa aberta ao diálogo, eu aproveitaria o diálogo para sugerir a efetivação de uma reforma política honesta, citando:
Lembrando-me que “as palavras voam, os escritos ficam”, peguei papel, peguei caneta, caprichei na caligrafia, anotei tudo, vesti-me condignamente, peguei minha máquina fotográfica e, antes que eu abordasse o presunçoso candidato, ele se foi, gritando, repetida e convictamente, a plenos pulmões “quando eu for eleito ...”