06/08/2015 às 14h22min - Atualizada em 06/08/2015 às 14h22min

DUELO DE TITÃS

Quando cheguei definitivamente para Leopoldina, em 1965, havia na agência do Banco do Brasil uma enorme quantidade de funcionários nascidos, criados e residentes em Cataguases, tudo gente da melhor qualidade. Uns, por pilhéria, depreciavam muito Leopoldina. O falso descaso para a cidade onde trabalhavam era de tal ordem que até “tripudiavam” do orgulho leopoldinense de possuir o novel prédio do Bazar René, de altura que Cataguases não tinha.

 Quando os leopoldinenses diziam que era inveja, os cataguasenses, sem argumentos válidos, retrucavam que, na verdade, o Sr. Rolando Ladeira havia construído o prédio para permitir aos leopoldinenses a felicidade de daqui conseguir apreciar, em Cataguases, um chafariz que lá jorrava água colorida a grande altura.

Era um duelo de titãs, argumentos contundentes, brincadeiras saudáveis, mas que, no fundo, no fundo mesmo, talvez fossem realmente gerados pelo ciúme do majestoso prédio que Cataguases não possuía. 

Quando aqui estudei, de 1954 a 1956, os duelos de titãs eram outros.

Logo soube que era praxe os estudantes “de fora” frequentarem festinhas de aniversário, até mesmo sem convite.

Meu companheiro de aventuras juvenis era o Paulinho Carrano. Estudavam aqui duas garotas, Sula (de Volta Grande ou Estrela Dalva) e Marlene Leite (de Santo Antônio de Pádua), muito amigas entre si.  Nós quatro, garotos, quase crianças, disputávamos para ver quem descobria mais festinhas de aniversário com música de disco para dançar. Quem descobria, agia com zatopekiana rapidez e dava jeito de avisar aos demais. Íamos unicamente para dançar, com pureza de corpo e alma, sem realmente pensar em comida e bebida. E o Dr. Guilherme Junqueira Reis, à época para mim simplesmente o Guilherminho, ficava com cara de pidão e se deleitava com os inenarráveis momentos que eu, por pura diversão, lhe propiciava durante as inocentes danças & contradanças.

Na minha lembrança, havia uma discussão intensa, quase feroz, entre os que achavam melhor dançar nos bailes com a orquestra do Waldyr Calmon do que com o Sexteto Rex de Porto Novo. Ou vice-versa. Eu preferia simplesmente dançar, desde que, apesar do rigor com que trabalhava o respeitado Sr. Mário, porteiro do Clube Leopoldina, ele me permitisse entrar, pois eu era um dos muitos estudantes sem dinheiro.

A rivalidade entre Ideal e Recreio, entre o Operário e o Flamenguinho em Cataguases, entre o Nacional e o Paulistano de Muriaé, entre o Primeiro de Maio e o Esporte em Miraí, eram nada diante da rivalidade entre Liga e RJ. Que duelo de titãs ! A rivalidade entre Liga e Ribeiro Junqueira era coisa fenomenal.  A torcida da Liga, durante o jogo entre as duas equipes, cantava “Tico-tico  foi na cozinha/Comer fubá/Cadê o RJ/Je ne sais pás” ou então Tico-tico  foi na cozinha/E não voltou/Cadê o RJ/I don’t know”!

E a torcida do RJ, eu no meio, cooptado assim que aqui cheguei, inclusive por causa das cores rubro-negras iguais às do meu Flamengo, respondia: “Quem fala mal do time campeão, ou é de inveja, ou é de mágoa, RJ eu sou de coração”.

Professor Machado ou dona Regina? Empate na capacidade para ensinar. Duelo de titãs, porém, se disputa houvesse para ver, dentre os dois, quem mais temor infundia nos alunos. A fama de “bravos” vencia as fronteiras leopoldinenses e todos que se candidatassem a estudar no então Colégio Leopoldinense se arrepiavam de pavor ou respeito só de ouvir falar sobre o que aqui os aguardava.

E agora, os assuntos são outros. Continua-se a falar “tirar a pressão ou medir a pressão” e a se comentar cada vez mais “a quem pertence a razão no duelo de titãs entre nosso prefeito José Roberto e nosso vice Brênio Colli”.

            Melhor cuidar unicamente de coisas amenas. Uma discussão calorosa e sem conclusão é a que envolve um footing que havia na Praça Félix Martins. Os rapazes ficavam parados, com os pés sobre o meio-fio e as moças andavam de um lado para o outro. Afinal, as moças ficavam desfilando para os rapazes as escolherem ou os rapazes é que ficavam parados para que as moças os escolhessem?  Duelo de titãs, duelo verbal, que toda nossa geração discutiu, discute e discutirá sem nada concluir.

            Que duelo de titãs ! Qual era a moça mais bonita do Colégio, a Arlene Carvalho ou a Lélia Lara? Quem aqui em Leopoldina viveu naquela época certamente marcaria coluna do meio em todas as disputas. Cada uma mais linda, mais simpática !

Não havia disputa era para se escolher qual o aluno mais divertido, mais popular, pois o Mussolini Gonçalves era soberano, imbatível, sem qualquer concorrência. Que, de seu  lugar de destaque no céu, monsenhor Guilherme de Oliveira, nosso sempre reverenciado diretor nos conte, sem se estressar, o sufoco que passava.

Em certos duelos de titãs, nunca se chegará a uma conclusão. Há uma discussão milenar sobre o que surgiu primeiro, se foi o ovo ou a galinha. E, em caso de partilha, se a educação manda que se escolha a “metade maior” ou a “metade menor”. Que cada um decida o que fazer !

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