25/08/2022 às 17h08min - Atualizada em 25/08/2022 às 17h08min

Leitor questiona e história confirma a existência de um cemitério próximo à atual Catedral

Jornal Leopoldinense ouviu a historiadora Nilza Cantoni sobre o assunto

Luiz Otávio Meneghite
O Cemitério existiu nas proximidades da atual Catedral cujo entorno está passando por reformas (Foto: Luciano Baía Meneghite - 25/08/2022)
O leitor do Jornal Leopoldinense Jair Dias Ferraz enviou uma mensagem à redação questionando se existiu outro cemitério em Leopoldina. Diz ele em sua mensagem: “A construção do novo Colégio Imaculada Conceição, há mais de 70 anos, foi em um terreno onde havia um arvoredo. Meu pai de criação, Jessé Alves Ferreira, encontrou ali várias alças de caixões, provavelmente entregues na Prefeitura supondo-se a existência de um cemitério no local. Há histórias sobre isto? Seria interessante apurar para a História da Cidade”.

No local que o leitor menciona existiu um bosque municipal que dava fundos para a Capela de São Pedro na Grama e rua Santa Filomena, o “Caminho do Meio”.

 
No outro lado do morro, na atual praça Pio XII no entorno da alameda Dom Delfim Ribeiro Guedes, popularmente conhecida como ‘Escadão da Catedral’  existe uma Pira em formato de taça que algumas pessoas afirmam  ser o túmulo de um religioso. Não existe nenhum registo conhecido sobre isso. A taça seria na verdade um chafariz instalado próximo ao local de uma antiga gruta de pedras, depois da demolição da antiga Igreja Matriz de São Sebastião por volta de 1926.


 Há relatos ainda não comprovados de sepultamento neste monumento
 
(Foto: Luciano Baía Meneghite - 25/08/2022)

Outra pessoa consultada informou que durante uma obra da Prefeitura no início da década de 1970 entre a Catedral e o Palácio do Bispo várias placas com nomes de pessoas falecidas foram encontradas, porém sem informar o destino dado a elas.

No documentário produzido pelo jornal Leopoldinense sobre a Catedral, Monsenhor Antônio Chamel também cita o encontro de vestígios de túmulos próximo da atual Cúria Diocesana.

O que diz a pesquisadora Nilza Cantoni

Consultamos a pesquisadora e historiadora Nilza Cantoni e ela prontamente nos respondeu dizendo que “no Brasil, até o século XIX as normas para sepultamento estavam definidas nas Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, nas quais havia determinação expressa para que nenhum corpo batizado fosse enterrado fora do lugar sagrado e isso incluía os escravos. Ao longo do tempo, por falta de espaço dentro das igrejas, só os mais abonados passaram a ser sepultados dentro das igrejas. Os demais iam para o adro da igreja, que era considerado campo santo. Todas as igrejas principais de um lugar tinham cemitério ao lado e/ou atrás. Considerando que a Igreja Matriz de São Sebastião era no meio da escadaria defronte a atual Catedral, como se pode constatar naquela foto antiga da matriz com duas torres, ao lado dela certamente havia um cemitério. Desconheço fontes que estabeleçam até onde ele se espalhava”, informa Nilza.
 
A pesquisadora acrescentou que: “em meados dos oitocentos, as preocupações sanitaristas resultaram numa Carta Régia que proibia o sepultamento dentro das igrejas. Em Minas, o processo de secularização começou na segunda metade dos oitocentos. Surgiram, então, os primeiros cemitérios administrados pelo poder público. No caso de Leopoldina, a sociedade civil cuidou de doar terrenos para o então Cemitério Público”.
 
Ainda é de Nilza Cantoni a informação que “No livro de Atas da Câmara de Leopoldina que vai de 1879 a 1881, no verso da folha 2 encontra-se uma indicação do vereador João das Chagas Lobato para que a Câmara solicitasse que a Estrada de Ferro da Leopoldina transportasse "sessenta a setenta braças de gradil de ferro que se tem de mandar vir da Corte para o fechamento do cemitério público". A autorização do Ministério dos Negócios d'Agricultura, Comércio e Obras Públicas para que o transporte fosse feito é de 24 de janeiro de 1880. As obras se estenderam até 1881. Mas aos 15 de agosto de 1880 já tinha sido realizado o primeiro sepultamento, de João Batista Martins Guerra. E em 1883 foi para lá  
trasladado o corpo do pioneiro Romão Pinheiro Corrêa de Lacerda. Que eu saiba, foi o único. Ele havia falecido dia 14 de março de 1872. Não sei se ainda continuam a corrente e cadeado no túmulo dele. O número original da sepultura era 393”, esclarece Nilza Cantoni.


Restos mortais de Romão Pinheiro Corrêa de Lacerda, falecido em 1872 foram transladados do antigo cemitério para o atual em 1883 (Foto: Luciano Baía Meneghite - 25/08/2022)

 


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