19/10/2022 às 21h15min - Atualizada em 19/10/2022 às 21h15min

NOSSO DESTINO COMUM

Por José Gabriel Couto de Viveiros Barbosa
José Gabriel Couto de Viveiros Barbosa
Recentemente, Noam Chomsky, cientista do M.I.T., considerado o maior intelectual vivo, disse que  “the next two months are the most important months of all the human history”. E por que ele considera os próximos dois meses os mais importantes de nossa história comum, neste planeta? Estamos chegando ao ponto de não retorno ambiental e a Floresta Amazônica é peça chave para impedir a catástrofe. Então, significa que só temos dois meses para reverter o colapso? Não exatamente. Segundo ele, ocorrerá nesse período a decisão sobre quem governará “o país mais importante do mundo”, capaz de determinar o porvir do clima e da história da humanidade.

No último ano (de agosto de 21 a julho de 22), só a Amazônia perdeu 10.781 km2 de floresta, maior registro em 15 anos, segundo o SAD, do Imazon. Sabe o que é isso? Uma área que engloba mais de onze municípios de Leopoldina inteiros. Aquela “boiada” anunciada pelo Ricardo Salles continuou passando solta sobre as reservas indígenas e áreas de mata protegida e foi o delegado federal Alexandre Saraiva, que o pegou com “a boca na botija” no contrabando de madeira, quem foi afastado de suas funções. Somando-se a isso, nos últimos quatro anos, os órgãos de fiscalização como IBAMA e ICMBio foram esvaziados, para dizer o mínimo. Tivemos o antigoverno: o ministro do meio ambiente promove o desmatamento, o presidente negro da Fundação Palmares é racista, o presidente da FUNAI odeia índios, o ministro da Economia tem 10 milhões de dólares em paraísos fiscais (sobre os quais não paga imposto), o pastor ministro da educação desvia verbas de escolas para igrejas evangélicas, o ministro da saúde que era médico foi trocado por um general, em plena pandemia... e o cabeça, que se diz cristão, é o próprio anticristo em suas práticas, ao defender a violência, o armamentismo e a discriminação a tudo que não é homem branco e rico.

Mas “a esperança é a última que morre”. Ela é até mesmo mais longeva que James Lovelock, que morreu no último mês de julho, no dia do seu aniversário de 103 anos. E quem é ele? Cientista britânico que criou a teoria de Gaia, segundo a qual o Planeta Terra é um enorme organismo vivo, do qual todos nós fazemos parte. Parece que ele concordava com Chomsky, pois disse ao The Guardian, em 2020: “a biosfera e eu estamos no último 1% de nossas vidas”.

Enquanto bolsonaristas e petistas se digladiam, dois dos maiores cientistas da Terra alertam que nosso problema é muito mais sério que as acusações de corrupção de ambos os lados. Longe de querer excluir das eleições o tema da roubalheira, imposta aqui desde quando os portugueses tomaram quase tudo dos habitantes originários, mas de focar no que é mais urgente e mortal para nossa espécie e tantas outras. Não se salvará um ou outro lado da disputa se a bela esfera azul de que fazemos parte não resistir ou resolver extirpar os que estão lhe provocando o desequilíbrio. Só não vê quem não quer ou quem foi cooptado na bolha da desinformação sistemática das redes.

O lado certo da história está nítido. Seus netos, ao herdarem um mundo caótico, certamente cobrarão sua incapacidade, ou má vontade, de checar as mentiras em que acreditou e ajudou a espalhar para produzir a cortina de fumaça necessária à manutenção do poder na mão dos bilionários e seus cupinchas terceiro-mundistas. Contudo, também estes perecerão e, talvez, só assim, finalmente, prevalecerá a igualdade entre nós.

Dedico este texto a um amigo (de quem jamais vou desistir) que insistiu em sujar suas mãos de sangue no dia 02 de outubro, mais uma vítima desse sistema de desinformação em massa.

Conselho: Quem quiser economizar, não deixe de encher o tanque até as eleições.


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