23/02/2023 às 10h34min - Atualizada em 23/02/2023 às 10h34min

Trem e Rodovias – Caminhos para Turismo

José Luiz (Luja) Machado Rodrigues
Estação Ferroviária de São Martinho povoado do Município de Leopoldina. (Fotos: João Gabriel Baía Meneghite)
Leopoldina é uma cidade privilegiada e quase sempre se “distrai” e, via de regra, não valoriza sua história e memória que poderiam ajudar na alavancagem do desenvolvimento dos dias atuais e futuros. Esquece que já se passaram dois séculos da chegada dos primeiros povoadores dessa parte da Mata Mineira e há muito a aprender.

Aqui, por exemplo, fundada com capital dos fazendeiros do lugar, surgiu e se tornou uma das maiores ferrovias do País, a empresa Estrada de Ferro da Leopoldina, cujos trilhos alcançaram a estação no centro da cidade em 1877. Nome que se tomou por empréstimo da cidade. Uma empresa com uma história rica e uma contribuição enorme para o desenvolvimento da região. Mas cujos trilhos e estação, talvez pela falta de atenção dos mandatários da ocasião, foram embora a partir de 1965 sem que ficasse um único dormente para servir de amparo às lágrimas do saudosista e motivo para atrair curiosos. Ficou, apenas, o gosto amargo provocado pelo sentimento estranho de que o objetivo era apagar a história da ferrovia que deveria ser valorizada e contada nas escolas da cidade.

Girou a roda da vida e da sorte. Foram-se a estação e os trilhos e a cidade recebeu novo prêmio. Agora, três dos maiores eixos rodoviários do país, as BR 116, 120 e 267, que poucos dão conta de suas importâncias e do potencial que carregam e que pode contribuir para alavancar muitos setores da economia, inclusive o turismo da cidade que está à espera de alguns empurrões para deslanchar. 

A BR 116, carinhosamente lembrada pelo apelido de “Rio–Bahia”, é a maior delas. E na sua abertura do trecho de Leopoldina para Muriaé, em 1939, a cidade contou com a presença do então Presidente da República, Getúlio Dorneles Vargas, que inaugurou um marco para que o acontecimento fosse lembrado no futuro. Uma rocha para que as intempéries não destruíssem. Uma pedra trabalhada e estrategicamente fincada num pequeno canteiro existente na Rua José Peres, em frente à antiga residência do engenheiro do DNER, imóvel hoje ocupado pela administração do CEFET. Marco da construção de uma rodovia que, hoje, partindo de Fortaleza, no Ceará, após cortar 10 estados brasileiros e oferecer aos seus usuários mais de 4.540 quilômetros de estrada integralmente pavimentada, chega à cidade de Jaguarão, no Rio Grande do Sul. Estrada que faz passar pelas portas de Leopoldina gente do norte, nordeste e do sul do País, mas cujo marco de abertura foi arrancado pela desatenção de algum mandatário que preferiu autorizar a instalação no local de um “outdoor”, de gosto e utilidade duvidosa. Um monumento de história que foi arrancado e jogado num terreno baldio do entorno da cidade, para ceder o lugar a um “poste com propaganda particular”. Nem ao menos uma peça que acrescentasse algo à cidade.

O segundo eixo rodoviário é a BR 267, que traz à cidade os brasileiros do sul do estado e do centro-oeste do País. Mais conhecida, aqui, pelo seu trecho de Leopoldina a Juiz de Fora. Esta BR tem seu início no trevo da BR 116, no Bairro da Constança. Ela começa na Colônia Agrícola da Constança onde viveram muitos dos imigrantes italianos de Leopoldina.

Vale aqui o alerta de que nas proximidades do km 2 dessa rodovia está se deteriorando uma das últimas casas construídas para receber família de imigrante. Mais um monumento da história que a “distração” empurra para o esquecimento.

Essa BR 267 é uma rodovia que, cortando os estados de Minas Gerais, São Paulo e Mato Grosso do Sul alcança a marca de 1.920 quilômetros ao chegar à cidade de Porto Murtinho (MS), na divisa do Brasil com o Paraguai, conforme registra o DNIT. É ela que traz os turistas do lado oeste para as praias do Espírito Santo, por exemplo. Turistas que passam por aqui sem serem convidados a visitar a cidade.

E o terceiro eixo é a BR120, ainda incompleta posto que teria seu início em Arraial do Cabo (RJ) e hoje está aberta ao trânsito apenas a partir de Leopoldina, com seu trecho inicial denominado “Rodovia Dr. Ormeu Junqueira Botelho”. Uma via com percurso aproximado de 960 quilômetros, que está quase totalmente concluída até bem perto do seu ponto final, em Araçuaí, cidade do norte do estado de Minas Gerais. Caminho por onde viajam os que demandam do norte e do centro das Minas Gerais e que, também, podem ser convidados a conhecer a cidade.

Apenas como registro histórico vale lembrar aqui o fato de que Mário de Freitas, em seu livro “Leopoldina do Meu Tempo”, 1984, página 221, quando informa que o início da construção da estrada para Cataguases ocorreu em junho de 1926 se refere à estrada velha, ainda hoje existente com piso de terra, que passando pelo Bairro do Limoeiro e seguindo pela Fazenda Bonsucesso também chega à querida Cataguases. E é oportuno relembrar, também, que o engenheiro Mário de Freitas registra no mesmo livro que por volta de 1926 trabalhou em projetos e na construção da Rio-Bahia no trecho de Leopoldina a Marinópolis e, na abertura da estrada de Leopoldina para Bicas, principalmente na escolha do melhor traçado para vencer a Serra da Caieira, depois de passar por Argirita.
Como se vê, essas três rodovias, uma delas recentemente pedagiada, com trânsito regular e intenso trazem à cidade um número imenso de pessoas de várias partes do País. Trazem, sem custo para a cidade, visitantes que muitas co-irmãs investem alto para conquistá-los. Trazem pessoas que a cidade simplesmente deixa seguir viagem sem ao menos lhes fazer um “convite” para que conheçam Leopoldina e sua história. E, também, o que poucos observam é que, servida por essas três rodovias, Leopoldina tem o privilégio de se ligar a todas as cidades vizinhas por ótimas vias asfaltadas. Estradas que fizeram crescer e ainda podem fazer crescer muito mais, o número de oficinas mecânicas, lojas de peças, postos de combustíveis, bares, restaurantes e, abrir caminhos para o turismo.
 


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