24/03/2023 às 15h12min - Atualizada em 24/03/2023 às 15h12min

O uso da História em prol da Guerra

Rodolfo Alves Pereira (*)
Ao celebrar os 80 anos da vitória dos soviéticos contra os nazistas em Satlingrado, atual cidade de Volvogrado, o presidente da Rússia - Vladimir Putin - evocou em seu discurso o espírito dos heróis do passado. Relacionou a batalha de outrora com o conflito atual, travado entre a Federação russa e a vizinha Ucrânia. 
 
A justificativa que o líder russo apresentou à nação para invadir a Ucrânia foi a de combater grupos neonazistas, os quais vinham perseguindo e matando pessoas de origem russa no território ucraniano. 
 
O apelo à História serve muito bem aos interesses do presidente russo, o qual busca manter o povo unido em torno de uma causa comum: proteger a pátria dos inimigos estrangeiros, sejam os neonazistas ou os países Ocidentais, os quais Putin acusa de tentar destruir a Rússia. 
 
Nesse sentido, a narrativa busca sensibilizar e convencer a população russa a apoiar o seu líder, mesmo que isso custe grandes sacrifícios, tais como ver jovens sendo recrutados pelas forças armadas, sem garantias de retornar às suas casas, passar por certas privações materiais devido às sanções internacionais que afetam o comércio e a oferta de certos produtos, dentre outras mudanças na rotina provocadas pelo esforço de guerra.
 
A História não possui um sentido pragmático, técnico ou prático como certas disciplinas. O saber histórico não fabrica e nem comercializa nenhuma mercadoria.  
 
Contudo, nenhum governo abre mão dos recursos possibilitados pelo uso e manipulação das informações históricas para controlar as massas e garantir o seu poder sobre elas. Somente a História tem essa capacidade.
Não foi por acaso que o grande escritor inglês, George Orwell, escreveu no seu livro clássico 1984 que: 
 
"Quem domina o passado domina o futuro; quem domina o presente domina o passado".
 
(*) Professor e Historiador, Mestre em História 
 


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