05/03/2024 às 07h48min - Atualizada em 05/03/2024 às 07h48min

Um portal, dois portais; um real, 295 mil reais

Aparecida de Araújo Oliveira*
Portal de Leopoldina

Na terceira década do século XXI, intriga-me a secreta finalidade de se construir portais para marcar a entrada de uma cidade. Há monumentos historicamente importantes, como os portões da Roma Antiga, o Portão de Brandemburgo em Berlim, ou o Arco da Ponte Nova em Braga e outros pelo mundo afora, que mereciam ser vistos por todos. Alguns desses testemunham, há milênios, outros modos de vida e acontecimentos importantes para a humanidade.

Porém, estou me referindo aos portais de entrada para a cidade de Leopoldina. Ainda me atormenta a ignorância sobre a utilidade daquele construído há alguns anos na Rua José Peres, apontando para o nordeste, e já tenho que lidar com o mesmo mistério, reeditado na versão que começa a ser construída perto do posto da Polícia Rodoviária Federal, e que imagino indicar a entrada “sul”. E para o delírio dos administradores, ainda temos a entrada pelo Alto do Cemitério sem portal!

Coincidência ou não, a obra que, de partida, consumirá a módica quantia de R$ 295.869,53 dos cofres públicos, fica acerca de 300 metros de uma insalubre, fétida e antiga vala de esgoto a céu aberto, que delimita um bairro popular agora oficialmente excluído da geografia definida pelo novo portal. Vem gestor, vai gestor, e ninguém quer sanear o problema. De fato, a solução ficaria debaixo da terra e não seria vista pelas próximas gerações de eleitores.
    
Enquanto aguardo uma resposta decente para minha dúvida, vislumbro a oportunidade que surge para o emprego do plural mais elegante e sonoro da língua portuguesa: um portal, dois portais. Pelo menos será possível ensinar essa parte da gramática, em contexto, para a meninada na escola. Prosseguindo, um real, dois reais... duzentos e noventa e cinco mil reais. O valor aparece em números bem pequenos, mas está lá, no cartaz obrigatório nas obras públicas. Para variar, o prazo de entrega da obra já está estourado; então, ainda dá para ver.

Tudo bem que nossa moeda não vale lá essas coisas, mas o preço está salgado, não? E para quê?

*Leopoldinense, professora da Universidade Federal de Viçosa.
Aparecida de Araújo Oliveira
Universidade Federal de Viçosa
Profa. Associada -  Departamento de Letras
55(31)3612-7188 - Sala 234
Linguística Cognitiva

Clique e relembre o que o Leopoldinense publicou:


30/08/2022 -  
Avenida Jehú Faria vai ser revitalizada com investimento de R$4.048.007,77

14/11/2022 - Leopoldina terá outro Pórtico de entrada na cidade pela Avenida Jehú Faria

06/01/2023 - 
Novo Pórtico na entrada de Leopoldina vai custar R$295.872,80

17/07/2023 -  Avenida Jehu Pinto de Faria está interditada para obras de revitalização

19/12/2023 -  Prefeitura inicia asfaltamento da avenida Jehú Faria


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »